segunda-feira, 11 de maio de 2009

Juro básico cai, mas taxa de administração sobe

Juliana Rangel
DEU EM O GLOBO

Bancos elevaram encargos em várias categorias de fundos, segundo estudo. Cobrança chega a 5% no varejo

A rápida queda da taxa básica de juros, a Selic — de 13,75% em dezembro de 2008 para 10,25% em abril —, que levará a mudanças na remuneração da poupança, não fez as taxas de administração dos fundos de investimento caírem no mesmo ritmo, em busca de competitividade.

Levantamento feito entre algumas das classes mais procuradas, com base em dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), mostra que houve pequenas reduções nos segmentos de capital protegido, multimercados e ações referenciados no Ibovespa desde dezembro. Mas outros fundos, na média, viram o percentual subir.

As taxas dos fundos de renda fixa, por exemplo, passaram de 1,06% em dezembro de 2008 para 1,07% em março deste ano.

Mas o vice-presidente da Anbid, Alexandre Záquia, diz que o número não reflete a realidade do pequeno investidor, que aplica em bancos comerciais, já que considera grandes investidores institucionais que aplicam em fundos abertos. Para o varejo, as taxas são ainda mais altas, embora venham caindo ao longo dos anos, quando isoladas.

Segundo Záquia, o percentual para renda fixa no varejo, sem a distorção, passaria de 2,26% em dezembro para 2,12% em março.

Em 2005, era de 2,44%.

Para consultor, falta competitividade aos fundos Uma ronda feita nos sites dos principais bancos comerciais, como Caixa Econômica, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander, mostra uma realidade mais dura para aplicações iniciais baixas, de até mil reais. No varejo, as taxas de administração chegam a 5% para fundos DI, e a 4% na renda fixa.

Ainda assim, Záquia garante que a cobrança já baixou.

— Isso aconteceu basicamente por três motivos: queda da taxa básica Selic, aumento da competitividade e crescimento da indústria de fundos, o que dilui custos para o investidor.

Mas, se a queda ainda não chegou ao pequeno poupador no ritmo esperado, a preocupação aumenta com a disposição do governo de mexer na rentabilidade da poupança, tornandoa menos atraente. Por ter maior segurança, isenção de Imposto de Renda e taxa de administração, a caderneta pegou parte das aplicações em renda fixa nos últimos meses. O movimento criou um problema para o governo, já que os fundos de investimento são os grandes compradores de títulos emitidos pelo Tesouro, que financiam a dívida pública. Entre as propostas avaliadas está a fixação de um percentual da Selic para remunerar a poupança.

O consultor financeiro Paulo di Blasi questiona a falta de competitividade dos fundos: — A Selic caiu e os fundos ficaram menos competitivos porque estão cobrando caro, e ninguém questiona isso. Tudo bem que tenha um ajuste na economia como um todo por causa da redução da Selic.
Mas não adianta piorar a concorrência em vez de melhorar o próprio produto.

A consultora de imagem Juliana Burlamaqui prefere aplicar em CDBs (títulos privados de dívidas de bancos) para evitar as taxas de administração.

— Isso pesa na minha decisão, já que entre os fatores avaliados estão segurança e rentabilidade — diz.

Záquia admite que algumas taxas cobradas no varejo são altas, principalmente para fundos com menor gestão, como renda fixa e DI. Mas, para fundos multimercados e de ações, mais elaborados, ele acha justa uma taxa maior.

— Se você paga 3% ao ano, significa que o banco está ganhando R$ 3 para uma aplicação inicial de R$ 100. É pouco, considerando que os bancos têm custos com call center, equipe de análise, distribuição, treinamento de gerentes etc. — diz.

O responsável pelo departamento de Investimentos do Bradesco, Marcos Villanova, diz que, por enquanto, o investidor ainda está aceitando as taxas atuais. Mas o banco avalia alterações em sua política.

— Estamos pensando em como administrar isso (queda da Selic). O mais provável é que a gente libere quantias menores de investimentos iniciais para fundos com taxas de administração mais baixas.

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