RIO DE JANEIRO - O verbo normalizar, usado por Sarney para descrever o que acontece no Senado, é muito significativo. Todos esperavam por outro verbo: moralizar. A normalização para um senador que deixa seu partido porque a bandeira da ética foi jogada na lata de lixo representa o horror que precisa ser enfrentado, inclusive com o risco de perder o mandato.
Numa hora dessas, é possível pensar em duas direções: a eleitoral e a outra, do interesse do país. Na primeira, a instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney. O preço ainda será pago.
Mas, para o interesse nacional, era preciso resolver a situação rapidamente, sem considerar as eleições. Num movimento interno, isso não foi possível.
Sempre disse que não bastava a opinião pública e a pressão da imprensa. É preciso fazer algo articulado, no interior do próprio Senado.
Desde menino também, quando lutava contra o aumento do preço dos bondes, constatei que, infelizmente, um argumento apressa todos os processos: o cheiro de fumaça.
É o tipo do argumento que hoje em dia combato. É preciso algo não violento. E creio que a resistência pacífica deveria ser reservada para todos os senadores que se apresentarem na campanha de 2010. Nem todos tiveram o mesmo comportamento. Mas todos terão de explicar o que fizeram durante essa crise.
Os estrategistas convencionais acham que tudo voltará ao normal, que as pessoas vão esquecer. Não percebem que o mau cheiro vai envolver também sua campanha presidencial. Estão sentados em cima de um cadáver, uma instituição morta, com um Conselho de Ética dominado por cafajestes.
Mesmo sem cheiro de fumaça, tão eficaz no passado, o país achará uma forma de punir os coveiros da credibilidade política.
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