sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A metamorfose ambulante

DEU EM O GLOBO

Com a bandeira da defesa da ética, o Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980 por dirigentes sindicais, intelectuais e artistas de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. Ao longo dos anos, no entanto, se envolveu em escândalos de corrupção e perdeu alguns de seus principais integrantes.

1982: O partido disputa a primeira eleição para a Câmara, elegendo oito deputados.

1984 : O PT toma posição contrária ao Colégio Eleitoral, que escolheria, em eleição indireta, o sucessor do presidente João Figueiredo. Disputavam Tancredo Neves e Paulo Maluf. A cúpula do partido, incluindo Lula, insistia em defender a campanha pela diretas.

1985: Três dos oito deputados federais do PT, Airton Soares, Bete Mendes e José Eudes, votam em Tancredo no Colégio Eleitoral.
Ameaçados de expulsão, deixam o partido. Em 2005, o deputado José Genoino defenderia a posição do PT: “Para se viabilizar, o PT tinha de se colocar à esquerda”.

1988: Na última votação da Constituinte, a da redação final do texto, simbólica, o PT votou contra. E só decidiu assinar a Carta após longa discussão no Diretório Nacional. “O PT, por entender que a democracia é algo importante, vem aqui dizer que vai votar contra esse texto, exatamente porque entende que, mesmo havendo avanços na Constituinte, a essência do poder, a essência da propriedade privada, a essência do poder dos militares continua intacta nesta Constituinte”, disse Lula à época.

1992: Após denúncias feitas por Pedro Collor, começa o movimento pela saída do presidente Fernando Collor de Mello. O PT é um dos críticos mais vorazes do governo e da “República de Alagoas”, integrada, entre outros, por Renan Calheiros.
Uma CPI é instalada, a pressão popular aumenta, e Collor, para evitar o impeachment, renuncia.

1993: Contrariando o partido, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina aceita o convite de Itamar para o ministério. O PT suspende por um ano seus direitos partidários. Em 1998, Erundina deixa o partido.

2003: PT ameaça punir a senadora Heloísa Helena com censura por ter faltado à sessão que elegeu José Sarney presidente do Senado.
No fim do ano, Heloísa vota contra a reforma da Previdência defendida pelo governo Lula. O PT, em convenção, decide expulsá-la. Os deputados federais João Batista Araújo (o Babá), João Fontes e Luciana Genro também são expulsos. O grupo mais tarde funda o PSOL.

2004: Waldomiro Diniz, principal assessor do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, é gravado negociando propina com empresário do ramo dos jogos. O governo consegue adiar por mais de um ano a investigação.

2005: O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à “Folha de S. Paulo”, afirma que deputados do PL e do PP recebiam dinheiro do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em troca de votos favoráveis a projetos de interesse do Planalto. Surge o escândalo do mensalão. Dono de uma agência de publicidade, Marcos Valério é apontado como operador do esquema.
São instaladas a CPI dos Correios (para apurar as denúncias do mensalão) e a dos Bingos (que investigou o caso Waldomiro). Dirceu e Jefferson tiveram os mandatos cassados pela Câmara.

2006: O caseiro Francenildo Costa depõe na CPI dos Bingos e afirma que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, frequentava uma mansão usada por lobistas. Mais tarde, é descoberta a quebra de sigilo bancário do caseiro. Palocci se vê obrigado a renunciar ao cargo Durante a campanha eleitoral, grupo de integrantes do PT é descoberto tentando comprar um dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.

Em 2007, eles, além de integrantes da cúpula do PT, como José Genoino e Delúbio, tornaram-se réus em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal, denunciados pelo então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Dirigentes de partidos aliados do governo Lula, como PP e PL (hoje PR) também integram a lista dos 39 réus.

2009: O Planalto usa todas as armas em defesa do presidente do Senado, José Sarney, alvo de denúncias de favorecimento e nepotismo. Entre os aliados do PT estão Collor e Renan.
Alguns petistas mostram insatisfação com o governo, mas a maioria atende às determinações. No mesmo dia em que o partido garante o arquivamento das investigações, a senadora Marina Silva anuncia sua saída.
O senador Flávio Arns faz o mesmo, por não concordar com a postura do partido para salvar Sarney.

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