Gênio reconhecido em todo o mundo, João Gilberto faz 80 anos amanhã. Show exibido em vários países vai comemorar a data
Rio - Verdadeira lenda viva da bossa nova, gênio reconhecido e admirado pelos maiores nomes da música no mundo inteiro, João Gilberto completa 80 anos na sexta-feira. Para comemorar a data, estão previstos um show em São Paulo, dia 3 de setembro, no HSBC Brasil, e outro no Rio de Janeiro, dia 10 de setembro, no Vivo Rio, que será exibido ao vivo, via satélite, para salas de cinema do Brasil e de outros países. As últimas apresentações do cantor no País foram dois disputadíssimos shows em 2008.
Nascido em 10 de junho de 1931 em Juazeiro, na Bahia, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira foi o terceiro filho do comerciante Joviniano e da dona de casa Patu. Ganhou um violão em 1945 e não parou mais de tocar, mas o sucesso só viria mais de uma década mais tarde. Em 1958, tocou nas faixas ‘Chega de Saudade’ e ‘Outra Vez’, do álbum ‘Canção do Amor Demais’, de Elizeth Cardoso. No mesmo ano, lançou seu próprio disco, um compacto de ‘Chega de Saudade’ que trazia ‘Bim Bom’ do outro lado. Em 1959, gravou o LP ‘Chega de Saudade’. No ano seguinte, foi a vez de ‘O Amor, o Sorriso e a Flor’. Em 1961, saiu ‘João Gilberto’, álbum só com voz e violão. ‘Getz/Gilberto’ (1964), com o saxofonista americano Stan Getz, ganhou quatro Grammy e trazia ‘Garota de Ipanema’ (na voz de sua então mulher, Astrud Gilberto), canção que fez a bossa nova estourar nos Estados Unidos — até hoje, ela é uma das músicas mais tocadas no mundo.
Ele ainda lançaria diversos discos, entre eles o cultuado ‘Amoroso’ (1977), ‘Brasil’ (1981), ao lado de Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, a coletânea ‘João Gilberto — O Mito’ (1988), lançada pela gravadora EMI-Odeon, com a qual briga na Justiça até hoje, e o mais recente, ‘João Gilberto in Tokyo’ (2004), gravado no Japão, onde é idolatrado. Entre os músicos daqui e de outros países, não é diferente. “Depois do meu marido, o homem mais importante da minha vida é João Gilberto”, repete sempre a cantora americana Stacey Kent. “Ele é o meu maior ídolo. Foi por causa dele que eu fui tocar violão. Tentei tocar igual a ele, mas vi que era impossível, então resolvi tocar de outro jeito”, conta Jorge Ben Jor, outro gênio do instrumento no Brasil, que até hoje não conseguiu conhecer o artista.
Moraes Moreira teve mais sorte. Galvão, seu colega no grupo Novos Baianos, era da mesma cidade de João Gilberto, Juazeiro. O cantor tinha acabado de voltar de uma bem-sucedida temporada no exterior, quando Galvão contou que todos os integrantes da banda moravam juntos. “João ficou encantado com a ideia, disse que sempre sonhou fazer um grupo que morasse junto e ficou de visitar a gente. Ficamos todos ouriçados, mas ele não disse quando iria. Um dia, meia-noite, alguém tocou a campainha. O nosso baixista, o Dadi, viu um cara de paletó pelo olho mágico, pensou até que era a polícia, mas era o João”, diverte-se Moraes.
O ídolo ficou amigo do grupo e essa convivência foi fundamental na história dos Novos Baianos. “Ele cantava músicas de Assis Valente, Ari Barroso, Wilson Batista, Herivelto Martins, apresentou um Brasil maravilhoso, a gente até então era meio roqueiro. Um dia, ele mostrou ‘Brasil Pandeiro’ (de Valente), que acabamos gravando. Quando ele cantou: ‘chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor’, entendemos o recado”, diz Moraes, que conta ainda que João inspirou um de seus maiores sucessos, ‘Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira’, do disco de mesmo nome (1979). “Numa madrugada, a gente estava saindo para passear no carro dele, um Opala. Ele viu uma mulata na rua e disse: ‘Olha que bonito, lá vem o Brasil descendo a ladeira’”, recorda.
João corre risco de ser despejado do apartamento onde vive há 15 anos (e pelo qual paga R$ 8 mil ao mês), no Leblon, pois a proprietária desaprova seu comportamento excêntrico. “As pessoas têm uma ideia séria dele, mas ele é brincalhão. Não é de sair, mas se comunica por telefone, do jeito dele”, defende Moraes. Claudia Faissol, mãe da filha mais nova de João, Luísa, de 7 anos, faz coro: “Ele gosta de privacidade, é tímido, diferente. Tem que ter compreensão”, já declarou.
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