Parte de 18 obras emergenciais, no valor de R$ 96 milhões, vão para duas empresas que fizeram doações ao governador na campanha de 2010
Alfredo Junqueira
O pacote de 18 contratos de obras emergenciais, com dispensa de licitação, publicado na edição de quarta-feira do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro beneficiou duas empresas que doaram recursos para a campanha de reeleição do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) em 2010.
A Tecnosonda S/A, que vai receber R$ 11,8 milhões para duas empreitadas na cidade de Petrópolis, na região serrana fluminense, doou R$ 500 mil ao peemedebista. Já a Geomecânica S/A Tecnologia de Solos, Rochas e Materiais, que foi contratada por R$ 29,7 milhões para duas obras em Niterói, contribuiu com R$ 300 mil para a reeleição do governador.
Cabral foi o único candidato a receber doações das duas empresas na campanha do ano passado. De acordo com os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Tecnosonda fez uma única transferência eletrônica para Cabral no dia 30 de julho do ano passado, primeiro mês do período eleitoral. A Geomecânica fez duas transferências de R$ 150 mil. A primeira foi registrada no dia 16 de agosto. A outra, no dia 15 de setembro.
Conforme o Estado revelou ontem, o pacote de obras emergenciais também beneficiou a Delta Construções, do empresário Fernando Cavendish, amigo pessoal de Cabral. Os 18 contratos fechados sem a realização de processo licitatório somam R$ 96,3 milhões.
A Delta vai receber R$ 37,6 milhões, o equivalente a 39% do total, para tocar oito obras. Os contratos foram publicados exatamente dois meses após o acidente de helicóptero no litoral da Bahia que provocou a morte de uma nora de Cabral e de parentes de Cavendish. A tragédia tornou pública a proximidade entre o governador e o empresário. A Delta recebeu mais de R$ 1,3 bilhão do governo do Rio nos quatro anos e sete meses da administração Cabral, sendo R$ 214 milhões para obras com dispensa de licitação.
Revolta. Os novos contratos emergenciais com a empresa de Cavendish provocaram a revolta da oposição na Assembleia. O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) lamentou a destinação de recursos para a Delta tocar obras espalhadas pelo Estado enquanto cidades da região serrana, afetadas pelas chuvas de janeiro, enfrentam "carências imensas".
"Passam-se poucas semanas de todo esse escândalo que expõe o volume imenso de contratos com a Delta e a gente se surpreende com novos contratos. Verifico que essa empresa goza de um prestígio imenso diante do governo ", disse Rocha.
A deputada Clarissa Garotinho (PR), considerou "escandaloso" que o governador continue beneficiando a empresa de Cavendish mesmo depois de publicar um código de ética. "Benefício direcionado não só para a Delta, como também para as empresas que doaram para a campanha dele". Cabral editou um código de conduta para as altas autoridades do Estado depois do acidente e da revelação de que ele usou um jato de Eike Batista para viagens particulares. A deputada Janira Rocha (PSOL) promete novo requerimento de informações para que o governo explique suas relações com a Delta.
Tudo legal. A assessoria de Cabral alegou que não há impedimento legal para as empresas fazerem doações e informou que as contribuições da Tecnosonda e da Geomecânica foram "espontâneas". "É comum ver empreiteiras nas listas de doadoras de campanha", afirmou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Obras, o objetivo das 18 obras emergenciais é a reparação de danos das chuvas que caíram em janeiro de 2010.
Na Tecnosonda, um dos sócios da empresa, que se identificou apenas como Marcus Vinícius, disse que "a doação foi normal, dentro da lei e que não tenho mais nada a declarar". Na Geomecânica, um funcionário da portaria explicou que não havia mais ninguém na empresa no fim da tarde de ontem.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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