Continua difícil contar com a indústria. Os economistas previam alta de 1,3% em março, mas a produção cresceu 0,7%. O trimestre fechou em 0,8% e o acumulado em 12 meses continua negativo, -2%. As projeções para um PIB de 3% no ano contam com uma alta forte do setor industrial, que ainda não aconteceu. Metade do investimento no trimestre é equipamento de transporte, com foco na produção de caminhões.
Os problemas da indústria não estão apenas na macroeconomia e no custo Brasil. Há causas específicas, que não são atacadas pelo governo. A política setorial é só uma forma de compensação: dá pequenos benefícios a quem está indo mal. Um por um, para onde se olha, há luz amarela.
O setor de petróleo e gás ficou cinco anos sem rodadas de licitação. São cinco anos perdidos de investimentos e prospecção de novos campos, que fariam aumentar a produção agora. A mineração está travada porque o governo há dois anos fala em mudar o marco regulatório, mas o projeto não sai dos gabinetes de Brasília. A construção civil cresceu muito rapidamente e está repensando seu modelo de negócios. Sofre com a falta de mão de obra e o aumento de custos. A siderurgia anda de lado desde a crise de 2008, que deixou uma ociosidade enorme no mundo em capacidade produtiva. As empresas de energia elétrica levaram um tombo com a MP 579. Perderam valor de mercado e vão perder receita. A indústria do etanol ficou sem competitividade com o congelamento do preço da gasolina.
Até setores que vinham andando bem agora estão tendo problemas. Um executivo do setor de bebidas disse que as vendas de cerveja caíram 7% no primeiro trimestre, com queda de 5% nos refrigerantes. O aumento da inflação está tirando renda das famílias, que também estão endividadas. Além disso, o governo tem um cronograma pesado de aumento de impostos sobre bebidas, para compensar a perda de caixa com as desonerações feitas a outros setores. A indústria de alimentos processados também sente o aumento dos preços. A produção caiu tanto em fevereiro quanto em março, acumulando perda de 4% no período.
Em março, a indústria como um todo cresceu 0,7%, mas houve alta em apenas 13 dos 27 setores. O crescimento foi mais uma vez concentrado no setor automotivo, que só cresce com a injeção bilionária de subsídios, via redução de IPI. Toda vez que se fala em voltar com o imposto, as vendas caem, e a produção, também.
No mercado internacional, a indústria continua sem condições de competir. A balança comercial do setor industrial terminou o primeiro trimestre com déficit de US$ 16 bi. As exportações caíram 5%, mesmo com o real mais fraco, e as importações cresceram 3%. Produtos de alta tecnologia tiveram queda de 8%.
O melhor dado de ontem foi a alta pelo terceiro mês seguido dos bens de capital. Mas, até aqui, há ressalvas. O ritmo começou em 9,2%, em janeiro, desacelerou para 1,6%, em fevereiro, e em março foi a 0,7%. No trimestre, houve alta de 9,8% em relação a 2012. Pelas contas de André Macedo, do IBGE, praticamente metade disso é produção de equipamentos de transporte, leia-se caminhões.
Olhando para frente, os primeiros números de abril mostram piora na expectativa dos empresários. O índice dos gerentes de compras PMI do banco HSBC caiu pelo terceiro mês seguido, para a menor taxa em seis meses. O Índice de Confiança da Indústria da FGV caiu 0,8% em abril e ficou abaixo da média histórica.
A política industrial não tem dado certo, e as previsões dos economistas estão errando o alvo. Os bancos previam forte alta da indústria. O Bradesco estimava 1,7%. Itaú, HSBC e Santander estavam com a média do mercado, em 1,3%. Deu 0,7%. Mesmo com grandes departamentos econômicos, eles não estão conseguindo medir o que está acontecendo com a economia. Gradual Investimentos e MB Associados chegaram próximos - 0,6% - mas estão entre as exceções.
Fonte: O Globo
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