Nos últimos 10 dias, vários parlamentares comentavam nos bastidores que as pesquisas internas de seus partidos tinham registrado um movimento de queda na avaliação da presidente Dilma Rousseff. Alguns falavam em dois dígitos. Os jornais também se mostraram fartos das dificuldades que o governo enfrenta. O que eles não mencionaram, entretanto, foram os movimentos da oposição, dos aliados, e do próprio PT, que agora vê Aécio Neves como seu principal adversário e aumentará a pressão para que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não seja candidato.
Esses movimentos serão percebidos com mais clareza depois da pesquisa Datafolha, que torna pública a queda de Dilma nas intenções de voto para presidente. Dentro do PSDB, por exemplo, os números ajudarão a consolidar a posição do comandante do partido, Aécio Neves, como pré-candidato ao Planalto. Com 14%, ele encostou nas intenções de voto em favor da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que tem 16% e ainda não conseguiu montar a Rede. Além disso, na consulta espontânea, aquela onde o eleitor diz em quem vai votar sem consultar qualquer lista prévia, o senador apresentou uma performance melhor do que qualquer outro candidato fora do PT.
A pesquisa espontânea é a que os políticos mais levam em consideração, porque representa voto consolidado. Para quem não viu os números, Dilma tem 27%; Lula, 6%; Aécio, 4%; e Marina, Serra e Eduardo Campos, aparecem com 1% cada. Embora a presidente continue muito bem perante o eleitorado — melhor do que Lula e Fernando Henrique no terceiro ano de mandato antes da reeleição — terá que suar e ceder para manter a classe política ao seu lado, como fizeram tanto Lula quanto Fernando Henrique.
Lula, para quem não se lembra, abriu as portas da esperança para o PMDB, no seu terceiro ano de mandato, em áreas importantes como o Ministério da Integração Nacional, Petrobras e nas agências reguladoras. Muitas foram fechadas por Dilma, que a partir de agora verá aumentar a pressão pela divisão equânime do governo entre PT, PMDB e demais aliados. E isso sob um cenário em que Aécio Neves apresenta potencial de crescimento, o que até aqui ainda não tinha ocorrido.
Por falar em Nordeste...
Para completar, diferentemente do que ocorreu nos tempos de Lula presidente e pré-candidato à reeleição, Dilma vê o PSB lhe escorrer pelos dedos. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, bem situado no Nordeste (a pesquisa registra em favor dele 12% de intenções de voto na região), é visto como alguém que passou do ponto de retorno, conforme registramos aqui ontem. Mas, será o mais pressionado dessa temporada de pesquisas em que continuou com os mesmos 6% registrados em março. Aliás, desde então, Campos tem se mantido discreto, e "voando baixo para não ser captado pelo radar petista", diz o líder na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).
Se Dilma estiver entrando em uma curva de queda e esses números não sejam apenas uma "oscilação normal", conforme definiu o governo, os 6% de Eduardo Campos farão falta ali na frente e podem, inclusive, fazer Lula voltar ao jogo. Dilma, entretanto, ainda tem ampla maioria e, se a economia reagir como ela espera, a tendência é essa parcela do eleitorado tomar o caminho de volta, em vez de puxar mais alguns para a porta de saída da era petista. Mas o jogo eleitoral, sem dúvida, estará mais animado daqui para frente.
Enquanto isso, no Planalto...
Dilma está em Portugal, mas a sucessão de problemas não viajou. Essa semana, o destaque será a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), depois que o Correio publicou a reportagem de João Valadares, onde mostra que o diretor da Abin, Ronaldo Martins Belham, é filho do general da reserva José Antonio Nogueira Belham — chefe do Doi-Codi do Rio quando Rubens Paiva foi assassinado, em 1971. A aposta de alguns é a de que Ronaldo assistirá o jogo Brasil X Japão como ex-diretor da agência.
Fonte: Correio Braziliense
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