Mônica Izaguirre, Eduardo Campos e Alex Ribeiro – Valor Econômico
BRASÍLIA - As projeções do Banco Central para a inflação brasileira neste e no próximo ano pioraram, apesar de terem incorporado um cenário de crescimento econômico ainda mais fraco em 2014 do que o previsto anteriormente. Ainda assim, a autoridade monetária vê uma "tendência de convergência" da inflação ao centro da meta - o que é diferente de chegar exatamente a 4,5% - em meados de 2016, caso os juros básicos da economia sejam mantidos em 11% ao ano.
Segundo previsão apresentada no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará este ano apenas 1,6%, e não mais 2%, como apontou em março o relatório anterior. Isso não impedirá, porém, que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) suba 6,4%, e não mais os 6,2% previamente estimados, o que já representava alta sobre 2013 (5,91%).
A probabilidade de que o aumento do IPCA em 2014 seja ainda maior que o projetado e supere 6,5%, teto da meta, beira os 50%, conforme o documento. Apesar disso, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, demonstrou tranquilidade ontem, ao comentar o relatório. Para ele, o crescimento da economia já abaixo do potencial, somado ao efeito defasado dos aumentos já promovidos nos juros básicos, tende a fazer com que as pressões inflacionárias diminuam ou até mesmo se esgotem em dois anos.
Para 2015, o relatório prevê inflação de 5,7%, ante 5,5% esperados na versão anterior. Assim como a de 6,4% para 2014, essa projeção leva em conta o chamado cenário de referência, que pressupõe estabilidade da taxa básica no nível atual e cotação do dólar constante em R$ 2,25, patamar em que se encontrava na data de corte adotada (6 de junho).
No relatório anterior, esse cenário considerava que a taxa Selic e a taxa de câmbio ficariam estáveis em 10,75% ao ano e em R$ 2,35, respectivamente. Houve piora da inflação projetada, portanto, apesar de um novo aperto monetário e de uma cotação do dólar num nível que representa menos pressão cambial sobre os preços da economia.
Pelas projeções apresentadas, o BC não conseguiria reduzir o IPCA ao nível exato do centro da meta até o fim do segundo trimestre de 2016. Nos 24 meses que faltam até lá, a inflação não cairia a 4,5% no cenário de referência nem no cenário de mercado, no qual o BC faz seus cálculos pressupondo que Selic e câmbio seguirão trajetória esperada pelo mercado (Selic subindo de 11% para perto de 12% ao ano e câmbio de R$ 2,39 para R$ 2,48 na comparação das médias dos últimos trimestres de 2014 e 2015).
No cenário de estabilidade de juros e câmbio, o IPCA acumulado em 12 meses fecharia junho de 2016 em 5,1%. No cenário de mercado, a inflação em 12 meses chegaria em junho de 2016 em 5%, após recuar de 6,4% para 6% de 2014 para 2015. Araújo enfatizou que, embora a inflação não chegue a exatos 4,5%, esse recuo ao longo de 24 meses é importante, pois significa que "nos trimestres finais do horizonte relevante para a política monetária, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta".
No relatório, o BC explica que a inflação projetada para 2014 piorou basicamente porque a variação já acumulada pelo IPCA até agora no ano superou a esperada, ou seja, o motivo é passado. Já a inflação esperada para 2015 está maior principalmente por causa dos preços administrados por contrato e monitorados, que deverão subir 6% em 2015, e não mais os 5% antes projetados.
A autoridade monetária prevê um realinhamento de preços administrados em relação aos preços livres. Mas esse não é o único processo de ajuste de preços relativos que contribuirá para a resistência da inflação. O BC também vê um realinhamento de preços domésticos em relação aos internacionais.
O relatório cita ainda outros fatores que tendem a manter a inflação pressionada, como o mercado de trabalho, que mantém baixo nível de ociosidade. O BC conta, por outro lado, com o baixo crescimento para desinflacionar a economia. Para os 12 meses terminados em março de 2015, projeta PIB crescendo a 1,8%, taxa um pouco melhor que a de 2014, mas ainda baixa.
A avaliação é de que, de um modo geral, "em termos de indicadores de ociosidade da economia como um todo", o hiato do produto "tem se deslocado no sentido desinflacionário", diz o relatório, referindo-se a um aumento da diferença entre crescimento potencial e crescimento efetivo do PIB. Na entrevista, o diretor do BC não quis tecer uma relação direta do hiato desinflacionário com o mercado de trabalho, nem sobre o risco de um eventual aumento de desemprego. A previsão do BC é de que as pressões de custos advindas de crescimentos do salário e da renda vão se arrefecer.
"O Copom avalia que pressões inflacionárias ora presentes na economia - a exemplo das decorrentes dos processos de realinhamentos de preços citados anteriormente e de ganhos salariais incompatíveis com ganhos de produtividade - tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem ao longo do horizonte relevante para a política monetária", diz o relatório.
Araújo reiterou que não há sinais de que a política monetária perdeu potência para baixar a inflação. Pelo contrário, disse, do ponto de vista estrutural, o aumento do volume de crédito na economia e a ampliação da dívida pública pré-fixada contribuem para isso; conjunturalmente, a queda da confiança de firmas e famílias e empresários e a sincronia entre a alta de juros e a elevação de "spreads" bancários.
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