sexta-feira, 27 de junho de 2014

Futuro de Serra coloca Aécio e Alckmin em lados opostos

• Presidenciável quer que ele concorra ao Senado, vaga oferecida a Kassab pelo governador

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — Embora, em público, o discurso seja que a decisão sobre seu futuro nessas eleições cabe ao PSDB, o ex-governador José Serra fez chegar nesta semana ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) a confirmação de que o interesse dele é disputar uma cadeira ao Senado em São Paulo. A mesma vaga foi oferecida por Alckmin ao ex-prefeito e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.

Faltando três dias para a convenção do PSDB paulista, o caso mobilizou nos últimos dias as principais lideranças do partido no estado e é esperado um movimento de pressão sobre Alckmin para que o posto seja entregue a Serra. Do lado do PSD, havia ontem uma expectativa de que uma decisão pudesse ser anunciada por Alckmin ainda hoje.

Interesse no tempo de TV do PSD
O impasse envolvendo o ex-governador começou na semana passada, levando inclusive a uma ruptura do clima de cooperação entre Alckmin e o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, na construção das alianças locais. Em reunião na casa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo, da qual Aécio e Alckmin participaram, ficou claro que os interesses de ambos eram divergentes sobre o futuro de Serra.

O presidenciável comunicou ali que não havia a possibilidade de Serra ser vice dele na disputa nacional, tese defendida por Alckmin e FH. Restaria ao PSDB acomodá-lo na eleição para o Senado ou à Câmara. A primeira opção foi apontada no encontro como a menos constrangedora.

Diante disso, Aécio se reuniu com Serra na segunda-feira passada e disse que defendia a postulação dele ao Senado. A atitude desagradou ao grupo de Alckmin, que, um dia antes, havia renovado o convite para a vaga a Kassab.

O governador tucano quer atrair o PSD para sua aliança interessado no tempo de TV no horário eleitoral da sigla. Para isso, tem colocado em segundo plano as mágoas e rusgas criadas na eleição de 2008, quando ambos se enfrentaram na disputa pela prefeitura de São Paulo.

Aliados de Aécio questionam a parceria, alegando que há risco de Kassab usar esse espaço no palanque eletrônico para fazer campanha para a presidente Dilma Rousseff. O PSD nacional formalizou nesta semana o apoio à candidatura dela.

O deputado Guilherme Campos (PSD-SP) fez a defesa de Kassab e descartou ontem esse tipo de comportamento por parte do ex-prefeito. Ele diz que, entre todas as alternativas eleitorais do PSD, a coligação com o PSDB é a mais provável.

— Uma coisa é a aliança nacional. Outra coisa é a aliança local — disse.

Aliados de Serra e de Kassab não descartaram ontem um desfecho para o impasse ainda hoje.

Um dos encarregados pelas articulações políticas, o presidente do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira, disse acreditar em uma solução de consenso e antes da convenção de domingo.

— Estamos trabalhando exaustivamente para um consenso. Queremos chegar com essas decisões tomadas até o dia da convenção.

Dentro do PSDB, entretanto, se cogitava ontem arrastar a indefinição até a próxima semana, usando o prazo máximo que a Justiça Eleitoral dá para fazer o registro das candidaturas. Conforme o calendário eleitoral, até o dia 30 as convenções partidárias precisam ser realizadas. Já os registros de candidatura podem ser feitos até 5 de julho.

O GLOBO procurou Serra, mas ele não se manifestou. Aliados do ex-governador disseram que há, pelo menos, seis meses o tucano “fala que a disputa para o Senado é a sua primeira opção”. As recentes pesquisas de intenção de voto, que mostraram que ele é um candidato competitivo, teriam o animado ainda mais.

— Se tem alguém que se comportou impecavelmente nessa história foi o Serra — disse um tucano ligado ao ex-governador.

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