- Folha de S. Paulo
No início dos anos 1980, ativou-se em círculos de centro-esquerda a expectativa de união entre duas vanguardas, ambas sobretudo paulistas, que derrotavam a ditadura: o novo sindicalismo, de um lado, e a elite de profissionais liberais, empresários e intelectuais em torno do MDB, do outro.
Essas correntes acabaram trilhando vias divergentes. Fortaleceram-se como polos autônomos, atraíram a massa menos distinta de lideranças tradicionais e disputaram os postos mais cobiçados da política. Entrechocaram-se quase o tempo todo ao longo de 40 anos de democratização.
Nostálgicos da concertação jamais atingida, entretanto, sempre estiveram por aí. A pretexto de desatar o nó político que faz a economia fibrilar, acalentam agora a ideia da aproximação entre setores do PT e do PSDB. Um encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula da Silva prefigura-se, em algumas dessas especulações, como uma espécie de refundação da Nova República.
Petistas e tucanos teriam feito mais pelo desenvolvimento político, institucional, social e econômico brasileiro se tivessem, à maneira chilena, selado um pacto de longo prazo entre si no início dos anos 1990? A coalizão talvez houvesse obtido vários mandatos sucessivos na Presidência da República e nos mais importantes governos estaduais e municipais, mas à custa de quê?
O notável amadurecimento de instituições de controle do abuso de poder, como o Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público e os tribunais de contas teria sido o mesmo num ambiente de amistosa distensão político-partidária?
Há extensa evidência histórica de que a resposta é negativa. PT e PSDB beneficiaram o Brasil ao confrontarem-se. Talvez a sociedade é que, agora, comece a transbordar do esquema centro-progressita configurado pelo somatório das duas legendas. Nenhuma conversa entre Lula e FHC vai equacionar esse problema.
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