Julia Lindner- O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Com gritos "Nem Meirelles, nem Levy, eu quero a Dilma que elegi" e "Cunha, você vai ver, a juventude está chegando ao poder", um grupo de aproximadamente 150 pessoas fez um protesto neste domingo, em Brasília. Todos participaram do 3.º Congresso da Juventude do PT e, após o encontro - que terminou em racha -, os dissidentes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, caminharam até a Esplanada. Subiram na cúpula da Câmara e, depois, foram até o Ministério da Fazenda.
Um dia depois de a Polícia ter retirado do gramado do Congresso dezenas de manifestantes ali acampados, que pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os petistas mais à "esquerda" do partido decidiram ir mais longe e, do alto da Câmara, gritaram "Fora Cunha".
O ato contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - que enfrenta processo no Conselho de Ética, sob acusação de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás -, ocorreu no mesmo dia da eleição para a Secretaria Nacional da Juventude do PT, na esteira de conflitos internos.
Cinco tendências do PT se uniram contra a CNB, corrente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é majoritária no partido e tem 54% dos assentos no Diretório Nacional. Sob a justificativa de irregularidades no processo eleitoral, porém, os representantes das alas que divergem da CNB resolveram não votar e caminharam até a Esplanada para fazer um protesto.
Mesmo assim, Jefferson Lima, o atual secretário da Juventude do PT e integrante da tendência majoritária, foi reeleito por aclamação.
Entre as principais reivindicações do grupo dissidente - batizado de "Mudar o PT" no 5º Congresso Nacional do partido, em junho - estão a cobrança pela saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a defesa da cassação de Cunha.
Durante três dias, o encontro da Juventude do PT também revelou o desencanto com os rumos do governo e da própria legenda. "Estamos fazendo história ao dizer que o caminho do PT está equivocado", observou Tássia Rabelo, 26, uma das participantes do congresso, em Brasília. "O programa eleito em 2014 precisa ser cumprido."
Para Yuri Brito, 23, o governo tem de governar para quem o elegeu e desistir da política de conciliação com a elite do País ."Temos receio de perder as conquistas sociais, principalmente por causa da maioria conservadora no Congresso", disse ele. Elen Coutinho, 25, por sua vez, faz parte do que os petistas chamam de "herdeiros de Lula". Depois de entrar por cotas em uma universidade pública, ela começou a participar do movimento estudantil e se filiou ao PT. Elen acredita que há uma "ruptura geracional" em curso dentro do partido.
"Não dá para a gente achar que a solução dos impasses que a gente vive é o Lula", concordou Estevão Cruz, 28, outro participante do congresso petista. "Lula é uma liderança indiscutível, a mais expressiva do povo. Agora, ele também é responsável por um programa ou por essa estratégia que nós estamos criticando. O segundo mandato da Dilma, na nossa avaliação, tem muito a ver com o governo Lula, não é uma coisa diferente. Se ele for reeleito como presidente, que seja com outro programa."
Alice Suzart, 21, disse que a juventude não está se sentindo representada pela direção partidária e pelo governo do PT. "Queremos nos mobilizar para criar uma base à esquerda", insistiu ela. "Chegou a hora da terceira geração de petistas assumirem", afirmou o secretário da Juventude do PT, Jefferson Lima. Ele procurou amenizar as manifestações contrárias à sua candidatura, sob o argumento de que a exposição de ideias divergentes faz parte da cultura do PT. "Foi um ato saudável para a democracia", comentou Lima.
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