- O Estado de S. Paulo
O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, é uma metralhadora giratória contra tudo e todos, mas sua vítima mais importante é o ex-governador da Bahia, ex-ministro da Defesa, atual chefe da Casa Civil e potencial nome do PT para a Presidência em 2018. Sim, ele, Jaques Wagner.
No coração de um governo que convive com um processo de impeachment, inflação muito acima do teto e do razoável, recessão que se alastra pelo segundo ano seguido e uma angustiante falta de rumo, Jaques Wagner trocou de personagem nas manchetes. Até 2015, ensaiava ser o ministro que dava o tom político do governo. Em 2016, virou o ex-governador suspeito de relações perigosas com empreiteiro onipresente.
Primeiro, as mensagens de Léo Pinheiro, que tinha intimidade com o poder, chamava o ex-presidente Lula de “Brahma” e referia-se a Jaques Wagner como “compositor”. Wagner pedia ajuda ao empreiteiro para campanhas na Bahia. Pinheiro recorria ao governador em suas obras no Estado e nas negociações em Brasília. Um troca-troca.
Depois, a notícia de que dois executivos da OAS migraram para o governo da Bahia, assumindo cargos com ingerência direta sobre obras públicas que a empreiteira disputaria e tocaria. Em círculos, sem intermediários: da OAS para o governo, do governo para a OAS.
E, ora, ora, não é que o Tribunal de Contas da União investiga uma obra superfaturada justamente da OAS de Léo Pinheiro no governo de Jaques Wagner na Bahia?!
Na sexta-feira, um disparo de grosso calibre: o peculiaríssimo Nestor Cerveró, que tinha cargo chave na Petrobrás e tem papel de destaque no bangue-bangue, diz que desviou propina para a campanha de Wagner em 2006. O presidente da maior companhia brasileira, José Sérgio Gabrielli, era do PT da Bahia...
Isoladamente, essas coisas são incômodas, mas não significam que Wagner meteu no bolso e não destroem a carreira de ninguém. O problema está no conjunto da obra, que cria uma névoa de suspeitas, mais um constrangimento num governo já tão acuado e mais um vírus na saúde abalada do PT. Além de responder uma por uma à opinião pública e à Procuradoria-Geral da República, o maior desafio do chefe da Casa Civil é preservar sua imagem.
Wagner não está sozinho na lista de Léo Pinheiro, que inclui os também ministros Edinho Silva (PT) e Henrique Eduardo Alves (PMDB) e três outros peemedebistas: o ex-ministro Edison Lobão e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha.
Assim como Léo Pinheiro, evidentemente, também não está sozinho. Faz parte de uma gorda coleção de empreiteiros, executivos e lobistas presos, com a lista de delatores só crescendo. Vem aí Luís Eduardo Campos Barbosa da Silva, o “Robin”, e deve vir também Mauro Marcondes, da Operação Zelotes. Um homem-bomba atrás do outro.
Para quem está em dúvida, o Supremo Tribunal Federal acaba de dar uma forcinha a mais para que virem delatores e tentem atenuar penas que tendem a ser gigantescas. O presidente da corte, Ricardo Lewandowski, negou habeas corpus e manteve preso o megaempreiteiro Marcelo Odebrecht. Todos de barbas de molho - e doidos para abrir o bico.
É assim que, quanto mais aumenta o número de delatores, mais se multiplicam os nomes dos delatados. Mas, na leva atual, nenhum é mais importante para o governo Dilma e para o PT como Jaques Wagner. Lula diz que vai em 2018, mas pode não ir. Wagner é o plano B - o único plano B.
O PT ficou sem as opções de Dirceu e Antonio Palocci, caiu na esparrela Dilma Rousseff, alardeia que vai de Lula, mas avalia que, se não tem tu (Lula), vai de tu mesmo (Jaques Wagner). E sem Wagner? O partido se recusou a fazer aliança com o PSDB na hora certa e jamais admitiu apoiar um aliado, qualquer que fosse. Se lançar Ciro Gomes (PDT), por exemplo, estará selando sua sentença de morte.
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