terça-feira, 8 de maio de 2018

Raymundo Costa: PT discute levantar o acampamento

- Valor Econômico

Risco é partido cair de graça nos braços de Ciro Gomes

Faz um mês que Lula está preso e o jogo sucessório permanece praticamente inalterado, à espera de uma decisão definitiva sobre a sorte do maior líder popular do país no período pós-redemocratização. Mas há sob a superfície deslizamentos e acomodação de terreno. O ensaio da reeleição do presidente Michel Temer, por exemplo, desandou. No PT se ampliou a divisão entre quem prega o voto nulo, se Lula não puder ser candidato, e aqueles que desde já querem preparar uma alternativa ao nome do ex-presidente.

A recandidatura de Temer está moribunda. No Planalto não se fala em recuo nem em ajuste de posição, mas em "aggiornamento". Não é pela força da candidatura do PSDB que o presidente passou a admitir uma conversa com o ex-governador Geraldo Alckmin - o que pode ocorrer ainda nesta semana - de quem guarda mágoas profundas. É a fragilidade das candidaturas da centro-direita, até agora incapazes de apontar um nome viável à sucessão, que justifica o deslocamento do MDB. Uma atualização de software que já estava disponível há um mês.

O deputado e candidato Jair Bolsonaro (PSL) não é confiável às forças representadas pelos partidos do centro. Também por isso ele não consegue agregar palanques e tempo de televisão a sua candidatura, apesar de estar no mercado há mais de ano e liderar as pesquisas, quando o nome de Lula não aparece na planilha. A candidatura do PDT (Ciro Gomes) está virtualmente consolidada, e Joaquim Barbosa (PSB) surpreendeu nas pesquisas, o que assustou o centro e fez cair fichas no MDB. Ainda assim não é fácil uma aliança tucano-pemedebista, pois há dificuldades nos dois partidos. Lula é uma delas.

Atualmente há três posições no PT sobre a participação do partido no jogo sucessório, na hipótese de Lula efetivamente não puder ser o candidato. A turma que defende "é Lula ou o voto nulo" perdeu força, segundo os petistas que navegam nas águas mais profundas do partido. A rejeição a Ciro Gomes engrossa o caldo dos que defendem uma candidatura própria, mas ganharam terreno os que consideram que o PT não pode mais perder tempo e deve já preparar um nome até para ser apresentado como candidato a vice numa eventual aliança à esquerda.

Para esse grupo, o PT precisa deixar de ficar sonhando com o que sabidamente não vai acontecer e começar a fazer política. O próprio Lula tem dito que a "narrativa do golpe" não admite outro desfecho que não seja a sua prisão e a não-candidatura. Por fazer política entende-se que o partido não deve ficar xingando Ciro Gomes, para citar um exemplo, mas construir uma alternativa própria, do PT. E logo. Se demorar demais, o risco é o partido cair de graça nos braços de Ciro Gomes como a única alternativa à direita bolsonarista. É diferente de abraçar Ciro agora.

O problema é que até esta formulação é considerada traição por alas do PT. Os fundamentalistas sabem que dificilmente o Supremo prenderia Lula para depois deixar que ele seja candidato, mas preferem não encarar a realidade. No mundo das coisas concretas os governadores e ex-governadores petistas estão fazendo política, as alianças mais convenientes a cada um. E hoje, no PT, quem tem ainda poder de fato, dispõe de contato empresarial e pode fazer algum tipo de gestão são os governadores e ex-governadores do partido. "O PT não pode ficar acampado em Curitiba", é a figura de linguagem usada por um petista com pedigree e que em hipótese alguma poderia ser classificado como alguém desleal a Lula.

Uma das ideias é liberar pessoas para viajar pelo país. Pode ser o ex-ministro Jaques Wagner ou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Lula é popular e lidera as pesquisas de opinião. Mas Haddad e Wagner mal passam de traço e precisam se apresentar até para se credenciar para eventual vice de Ciro ou outro candidato. Haddad, inclusive, teria uma boa justificativa: o próprio Lula delegou a ele a coordenação do programa de governo do PT, o que abre as portas para o ex-prefeito com os outros candidatos considerados do campo da esquerda, como Ciro, Manuela D'Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), mas também com os governadores do PT.

Haddad poderia marcar reuniões com as equipes dos governadores, ouvir o que eles têm a dizer e as demandas de cada um. Iria numa sexta, conversaria com deputados, lideranças e no sábado faria um debate com o governador e sua equipe. Evidentemente haveria especulação, mas ele estaria se colocando sem estar efetivamente se pondo como candidato, e ocupando um espaço que, com o tempo, enquanto o PT está acampado em Curitiba, será fatalmente preenchido por Manuela, Boulos e Ciro.

Se Lula sair da cadeia e conseguir se candidato sub judice quem estiver em campanha desarma a barraca e pronto. Sem drama. Não é traição. E muda todo o quadro sucessório. Será legítimo, então, perguntar até onde vão as candidaturas de Manuela, Boulos e do próprio Ciro.

Mitos
Quem sabe do riscado diz que há pelo menos quatro mitos rondando a campanha sucessória: Alckmin vai explodir nas pesquisas, Bolsonaro vai desmoronar, Lula não transfere votos e Joaquim Barbosa ainda não decidiu se é ou não candidato.

Moreira
Há pelo menos três versões na praça para a saída do ministre Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) do Planalto: saiu para acabar com a cantilena da reeleição; para se fortalecer ante o Ministério Público Federal numa pasta que não é questionada no Judiciário ou ainda para assegurar a privatização da Eletrobras. Moreira continua assíduo do Jaburu e pode apoiar uma aproximação MDB-PSDB; o foro especial periga no Supremo e a privatização da Eletrobras empacou na Câmara. Há uma quarta razão: ele teria ido para Minas e Energia a fim de evitar que outras alas do MDB acampassem no ministério.

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