É
difícil segurar a náusea ao assistir à gravação de 19 minutos do deputado pit
bull Daniel
Silveira (PSL-RJ) ameaçando ministros do STF e a democracia.
Independentemente do desfecho do caso, é forçoso refletir sobre o que permitiu
a incorporação de tal personagem à vida política nacional.
Silveira
é subproduto do bolsonarismo, fermentado sobretudo (mas não só) a partir da
assimilação do próprio Bolsonaro pelas instituições, que presenciaram mudas e
inertes sua homenagem a um torturador, símbolo de torpeza e vilania, no
impeachment de Dilma Rousseff. Depois disso, escandalizar-se com mais o quê?
Ainda vamos sentir por muito tempo as ondas de choque provocadas pelas placas tectônicas que se moveram no golpe de 2016 e que produziram o desarranjo institucional vigente. Nesse sentido, o episódio envolvendo o deputado delinquente é exemplar.
Em
resumo ligeiro, começa com o tuíte do general Villas
Bôas, em abril de 2018, pressionando o STF na véspera da votação do HC de
Lula; passa pela nebulosa presença de generais da reserva no gabinete de Dias
Tóffoli quando este foi presidente da corte; segue com a afronta de que
bastariam "um soldado e um cabo" para fechar o tribunal. A eleição de
Bolsonaro fez o resto.
Três
anos depois, Villas Bôas revela que o tuíte foi redigido pela cúpula do
Exército. Edson Fachin reage e entra em cena o valentão, babando de fúria como
cão feroz acorrentado. Que uma figura grotesca como Silveira esteja no centro
da discussão política nacional é evidência trágica do lamaçal em que estamos
metidos, enquanto avançamos para a marca de 250 mil mortos pela pandemia e
Bolsonaro alimenta a matilha com a liberação de armas e munições.
*****
O
centenário desta Folha é
marco notável a ser celebrado. Fazer parte desta história é motivo de orgulho e
de imensa responsabilidade. Parabéns, Folha! Que venham mais 100 anos.
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