O
deputado André Janones (Avante-MG) é o político mais popular sobre quem você
não leu nos jornais — até agora. Embora seja o único político que consegue
rivalizar em audiência e engajamento nas mídias sociais com o presidente Jair
Bolsonaro, Janones é o que se poderia chamar de um deputado do baixo clero.
Seus
números nas mídias sociais são impressionantes. Ele tem mais visualizações,
mais compartilhamentos e mais engajamentos no Facebook do que Lula, Haddad, Ciro
ou Doria. Só perde nesses quesitos para o presidente da República. Uma live que
fez em 26 de março do ano passado explicando como acessar o auxílio emergencial
teve 19 milhões de visualizações, aproximadamente 13% do eleitorado brasileiro.
Nada disso impediu que sua candidatura independente a presidente da Câmara tivesse apenas 3 votos. Antes, em 2019, sofreu um processo de cassação no Conselho de Ética por quebra de decoro, após dizer que seus colegas no Congresso eram “bandidos, corruptos e ladrões”. Sua live conclamando os apoiadores a defendê-lo teve 38 milhões de visualizações, surpreendentes 27% de todo o eleitorado.
Embora
jovem (37 anos), Janones tem uma longa trajetória política, que passa pela UNE,
uma militância em defesa dos direitos dos usuários do SUS no Triângulo Mineiro
(“o Celso Russomanno da saúde”), até despontar como liderança do movimento dos
caminhoneiros em 2018 e conseguir se eleger deputado federal. Foi filiado ao PT
na juventude, passou pelo PSC e hoje está no Avante (antigo PTdoB).
Sua
forma de fazer política, com uma carregada retórica anticorrupção e
antissistema, além de uma conexão direta com os eleitores, dispensando a
mediação dos partidos ou da imprensa, configura o que os cientistas políticos
chamam de populismo —termo que, na sua acepção técnica, ele reconhece e adota.
Janones
tem, porém, uma particularidade que o distingue de outros populistas
brasileiros: tem uma agenda social forte. Ele votou contra a reforma da
Previdência, defendeu as vítimas de Brumadinho contra os abusos da Vale e foi o
mais aguerrido paladino do auxílio emergencial.
A
combinação de uma pauta social com um discurso anticorrupção punitivista,
embora muito comum entre os eleitores, é muito incomum no meio político
brasileiro. Janones diz que prefere ser coerente com o povo do que com os
políticos.
Essa
postura lhe permite tomar equidistância tanto de Lula como de Bolsonaro,
tentando escapar da polarização política e ampliar sua base de apoio. Essa
tentativa de evitar a polarização se manifesta mais em independência política
do que na adoção de uma agenda centrista.
O
deputado tem também evitado os temas divisivos das guerras culturais, como
ideologia de gênero, escola sem partido e armamento da população civil.
O esforço em não se definir como esquerda ou direita, como lulista ou bolsonarista, e em não tomar partido nas guerras culturais permite que se identifique apenas com o “povo”, esse termo vago e indefinido que o teórico político Ernesto Laclau chamava de um “significante vazio”.
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