Lucas de Vitta / Valor Econômico
Biden acusou Trump de espalhar uma rede de
mentiras sobre as eleições presidenciais de 2020
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, responsabilizou seu
antecessor no cargo, Donald
Trump, pelo ataque ao Congresso que
chocou o mundo há um ano. Em um discurso para lembrar o aniversário da invasão, o democrata afirmou
que o republicano continua representando uma ameaça à democracia e que o país
precisa encarar esta realidade para evitar uma tragédia similar no futuro.
Sem citar Trump pelo nome, Biden acusou o
ex-presidente de espalhar uma rede de mentiras sobre as eleições presidenciais
de 2020 por simplesmente não aceitar perder, dificultando a transição de poder,
algo inédito na história da democracia americana. Para ele, seu adversário
incentivou que uma “insurreição armada” invadisse o Congresso para beneficiar
seus próprios interesses e colocar Washington sob cerco.
“Aqui está a verdade: o ex-presidente dos
EUA criou e espalhou uma teia de mentiras sobre as eleições de 2020”, disse
Biden. “Ele fez isso porque valoriza mais o poder do que os princípios, porque
vê seu próprio interesse como mais importante do que o interesse de seu país e
porque seu ego ferido é mais importante do que nossa democracia ou nossa
Constituição. Ele não consegue aceitar que perdeu.”
"Eu não busquei esta luta trazida a este Capitólio há um ano, mas também não irei recuar", continuou Biden. "Vou defender este país e não permitirei que ninguém coloque um punhal na garganta da democracia."
Biden foi o segundo a discursar em um
evento organizado pelos democratas para marcar o aniversário dos ataques que
deixaram cinco mortos e dezenas de feridos após uma turba incentivada por Trump
ter invadido o Congresso para evitar a certificação da vitória do democrata nas
eleições.
Mas, em vez de mostrar como os EUA se
uniram para superar o trauma das cenas registradas em 6 de janeiro de 2021, o
evento indica como o país permanece dividido. Líderes republicanos decidiram
não participar da celebração, alguns deles temendo irritar Trump, que continua
sendo uma das vozes mais importantes dentro do partido.
Antes de Biden, a vice-presidente dos EUA,
Kamala Harris, afirmou o espírito americano está sendo testado e que os
extremistas que invadiram os corredores do Congresso não visavam apenas
deputados e senadores. “O que eles estavam atacando eram as instituições, os
valores, os ideais que gerações de americanos lutaram e derramaram sangue para
estabelecer e defender”, disse ela.
Trump foi alvo de um processo de
impeachment por causa do ataque, mas acabou sendo absolvido no Senado, onde
apenas sete republicanos se uniram aos democratas para votar a favor do
afastamento do agora ex-presidente. Mais de 700 pessoas de vários Estados
americanos foram indiciadas por participação nos ataques.
O ex-presidente não foi acusado
criminalmente pela invasão, mas está envolvido em uma batalha legal com uma
comissão do Congresso que investiga o ataque de 6 de janeiro. Trump tenta
impedir que registros de seus últimos dias de governo sejam divulgados
publicamente e viu Steve Bannon, um de seus principais aliados, ser indiciado
por desacato por não cumprir uma intimidação emitida pelo comitê parlamentar.
Nas críticas mais contundentes desde que
assumiu o cargo, Biden afirmou que Trump realizou um ataque “não democrático” e
“não americano” à legitimidade do sistema eleitoral, reiterando que não há
qualquer evidência de que a votação foi fraudada. Ele também acusou o
ex-presidente de não agir enquanto seus apoiadores agrediam a polícia do
Congresso e pediu que os americanos se unam para evitar que esse tipo de ataque
se repita no futuro.
“Neste momento, devemos decidir que tipo de
país seremos”, disse Biden. “Seremos um país que aceita a violência política
como norma? Seremos um país onde permitiremos que funcionários eleitorais
partidários revertam a vontade legalmente expressa do povo? Seremos um país que
não vive à luz da verdade, mas à sombra das mentiras? Não podemos nos permitir
ser esse tipo de país.”
Trump havia anunciado que concederia uma
entrevista coletiva hoje para falar sobre a invasão do Congresso e rebater
eventuais acusações feitas pelos democratas. No entanto, o ex-presidente
decidiu cancelar o evento, argumentando que falaria sobre “tópicos importantes”
em um comício marcado para o final deste mês no Arizona.
Depois do discurso de Biden, o republicano
divulgou um comunicado criticando o democrata. Para Trump, o discurso de hoje é
um "teatro político" e uma "distração para o fato de Biden ter
falhado completa e totalmente".
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