Indefinição marca as conversas entre partidos de centro-direita e de centro-esquerda sobre acordo
Por João Valadares e Marcelo Ribeiro /
Valor Econômico
BRASÍLIA - Com resistências internas a
serem superadas, calendário eleitoral apertado e muitas dúvidas sobre o
funcionamento prático, partidos tentam destravar as negociações para a criação
de federações. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as legendas
têm até o dia 1º de março para solicitarem o registro formal da criação das
associações.
Entre os dias 3 de março e 1º de abril, a
janela partidária - período em que os deputados podem trocar de partido para
concorrer às eleições sem risco de perderem o mandato - também esquenta o
cenário eleitoral.
Novidade nas eleições de 2022, a
possibilidade de formar federações surge após o fim das coligações e representa
um mecanismo para driblar a cláusula de barreira imposta a siglas com baixas
votações. Os partidos federados são obrigados a lançarem chapas conjuntas em
todos os Estados e a atuarem unidos por quatro anos no Congresso e nas
Assembleias Legislativas.
Apesar de a maioria das legendas já ter
sinalizado em resoluções internas o encaminhamento para criação do novo
mecanismo, a solução prática para formalizar a união não é simples. As disputas
acirradas nos Estados entre partidos do mesmo campo acentuam as dificuldades.
Outro ponto de alerta nas legendas diz
respeito às eleições municipais de 2024. Há receio sobre os critérios para
escolha dos candidatos que vão representar a federação no Executivo e na Câmara
dos Vereadores de 5.568 municípios brasileiros.
Na centro-direita, PSDB e Cidadania já
iniciaram conversas, mas o tema não é tratado como prioridade.
No campo da centro-esquerda, PT e PSB ainda
não chegaram a uma definição sobre o “casamento” de papel passado que pode
incluir, além das duas siglas, PCdoB, PV, Psol e Rede.
O PSB, que se coloca como principal aliado
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial deste
ano, reivindica apoio petista a candidatos ao governo nos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre.
Em São Paulo, por exemplo, ainda não há definição sobre o arranjo envolvendo o ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Os dois são pré-candidatos ao governo paulista.
A estratégia inicial era a filiação do
ex-governador Geraldo Alckmin ao PSB para que ele abrisse mão da disputa pelo
governo de São Paulo, deixando assim o caminho livre para França, e passasse a
compor chapa presidencial como vice de Lula. Neste caso, Fernando Haddad
concorreria ao Senado.
Segundo lideranças petistas, Lula tem
defendido que Haddad mantenha sua pré-candidatura ao governo paulista.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, deve
convocar reunião da Executiva do partido na segunda quinzena deste mês para
deliberações sobre o tema. O PT fará o mesmo até o fim de janeiro.
Siqueira tem dito que, antes de decidir
sobre a federação com o PT, o partido deve amarrar um acordo com o aliado sobre
as disputas estaduais. Ele voltou a destacar nos bastidores que não precisa de
federação para disputar as eleições.
Inicialmente, Siqueira demonstrava ser
contrário ao novo instrumento. Em seu entendimento, o PT, por ser um partido
maior, teria hegemonia dentro do agrupamento e iria ditar os rumos do grupo.
Após consulta à bancada federal e aos
presidentes estaduais do partido, que se mostraram em grande parte favoráveis à
ideia de federação com o PT, passou a defender a união. No entanto, a falta de
respostas de Lula em relação à situação em São Paulo e no Rio Grande do Sul fez
com que a cúpula do PSB voltasse a cogitar a possibilidade de não mais se
federar.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara,
que ocupa a vice-presidência do PSB, tem alertado para o tempo curto no
calendário eleitoral.
O PSB encontra dificuldades para formar
chapas competitivas em pelo menos 15 Estados. “Do ponto de vista eleitoral, eu
sou favorável à federação. Do ponto de vista político, não. O hegemonismo do PT
faz mal. Vamos ser atropelados por ele”, avalia o deputado Julio Delgado
(PSB-MG).
No PT, mesmo aqueles que são favoráveis à
criação de uma federação, passam a admitir que o tempo muito curto e as
indefinições sobre funcionamento podem minar a construção de entendimentos.
Um senador petista disse em sigilo que Lula
já coloca o PSB na cota de aliados e que a indicação de Alckmin na vice seria
melhor se ele entrasse num partido de centro, a exemplo do PSD.
Entre entusiastas da união do PT e PSB, há
a percepção de que, ainda que a federação não seja concretizada, as duas siglas
caminharão juntas na construção de uma frente ampla pela candidatura de Lula.
Em reação às exigências da cúpula do PSB, o
PT lançou o nome do senador Humberto Costa como pré-candidato ao governo de
Pernambuco, estado dominado pelo PSB há 15 anos.
Nos bastidores, o movimento é visto como
uma tentativa do PT em construir uma moeda de troca para diminuir a tensão
entre os partidos.
A ideia seria que o PSB desistisse da
postulação de França e, em resposta, Costa abriria mão de concorrer ao comando
do Palácio do Campo das Princesas.
No Espírito Santo, o governador Renato
Casagrande, do PSB, demonstrou desconforto com a eventual união, em função da
perda de espaço entre os eleitores antipetistas.
A irritação aumentou após o PT filiar o
senador Fabiano Contarato e ter demonstrado que o parlamentar poderia se lançar
na corrida ao governo capixaba.
No Rio de Janeiro, Lula já demonstrou ser
um entusiasta da candidatura de Marcelo Freixo (PSB-RJ), mas o PT poderia
apostar em uma postulação própria caso a federação não saia.
Na avaliação de parlamentares do PSB, o
clima pode piorar de vez caso conversas entre a cúpula do PSB e do PDT,
previstas para a segunda quinzena de janeiro, prosperem e representem um
possível novo caminho para os socialistas.
Há a leitura, porém, de que uma composição
com o PDT não renderia tantos frutos ao PSB, já que Ciro Gomes, pré-candidato
pedetista ao Palácio do Planalto, não teria a mesma força de Lula para atrair
votos que ampliassem a bancada do partido no Congresso.
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