Folha de S. Paulo
Obra de Thomás Zicman de Barros e Miguel
Lago contextualiza categoria política
Está na praça um livro precioso para a
discussão de uma categoria política que tem se prestado a muita confusão e
distorção: o populismo. A obra é "Do que falamos quando falamos de
populismo" (Companhia das Letras), dos cientistas políticos Thomás Zicman
de Barros e Miguel Lago.
O livro analisa os contextos em que o termo surgiu no mundo e no Brasil e as mudanças de sentido adquiridas ao sabor de circunstâncias e conveniências (da política, da academia e do jornalismo). Mais importante ainda é o enquadramento contemporâneo do tema, em meio à disputa eleitoral Lula x Bolsonaro. É provocação intelectual das boas.
Muito usado com intenção pejorativa, o
populismo foi motivo de orgulho para seus criadores, um movimento político
russo, da segunda metade do século 19, que se opunha à tirania tzarista.
No Brasil, quem primeiro reivindicou o uso
da expressão foi a direita reacionária, representada pelos integralistas de
Plínio Salgado, no pós-guerra. No século 20, o populismo serviu para designar
líderes tão destoantes quanto Vargas, JK, Jânio, Jango e Adhemar de Barros.
Dou um salto para chegar aos dias de hoje.
Os autores argumentam que existem vários populismos (à direita e à esquerda) e
que nem todas as suas formas ameaçam os fundamentos da democracia liberal.
Defendem a tese de que o populismo pode
ser, inclusive, "uma forma de mobilização emancipadora", a partir da
incorporação de direitos para enormes contingentes populacionais.
O livro considera falsa qualquer simetria
entre os populismos contidos nos projetos lulista e bolsonarista, sobretudo a
partir do que oferecem como resposta a conflitos e à vulnerabilidade de grupos
sociais subalternos, diante de um mundo onde as certezas sobre o futuro se
evaporaram.
Os autores também discutem a estética e a
teatralidade do lulismo e do
bolsonarismo, ampliando, com clareza solar, a compreensão das
diferenças abissais entre os dois campos políticos, postos diante do eleitor.
Um comentário:
A diferença é abissal mesmo.
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