Correio Braziliense
Nosso progresso depende de um justo e
democrático equilíbrio entre o Estado e a sociedade. Essa é a chave para
entender a importância da Constituição de 1988 e do voto popular nessa
construção
Com 200 anos de Independência, o Brasil tem instituições historicamente constituídas. Já houve muitas controvérsias sobre isso, uma das maiores foi na década de 1920, quando Oliveira Viana lançou Populações Meridionais do Brasil (Senado Federal), obra na qual dizia que o nosso sistema político era uma cópia barata dos regimes republicanos norte-americanos e europeus. Viana distinguia três tipos diferentes no país — o sertanejo, o matuto e o gaúcho. Os principais centros de formação do matuto são as regiões montanhosas do estado do Rio, o grande maciço continental de Minas e os platôs agrícolas de São Paulo, região de influência hegemônica na História do Brasil.
O sentimento das nossas realidades, tão
sólido e seguro nos velhos capitães gerais, desapareceu, com efeito, das nossas
classes dirigentes: há um século vivemos praticamente em pleno sonho. Os
métodos objetivos e práticos de administração e legislação desses estadistas
coloniais foram inteiramente abandonados pelos que têm dirigido o país depois
da independência. O grande movimento democrático da Revolução Francesa; as
agitações parlamentares inglesas; o espírito liberal das instituições que regem
a república americana, tudo isso exerceu e exerce sobre nossos dirigentes,
políticos, estadistas, legisladores, publicistas, uma fascinação magnética que
lhes daltoniza completamente a visão nacional dos nossos problemas. Sob esse
fascínio inelutável, perdem a noção objetiva do Brasil real e criam para uso
deles um Brasil artificial e peregrino, um Brasil de manifesto aduaneiro, made
in Europa, sorte de Cosmorama extravagante. Sobre o fundo de florestas e
campos, ainda por descobrir e civilizar, passam e repassam cenas e figuras
tipicamente europeias.”
A partir dessa conclusão, Oliveira Viana
concebeu o seu “autoritarismo instrumental”, na visão do falecido cientista
político carioca Wanderley Guilherme dos Santos: militares e elite agrária
deveriam promover radical intervenção do Estado na vida política e social do
país e criar bases sociais culturalmente aptas a sustentar um regime liberal.
Não por acaso, tornou-se o ideólogo do Estado Novo de Getúlio Vargas, após a
Revolução de 1930, e do futuro regime militar, que vigorou no Brasil de 1964
até a eleição de Tancredo Neves, em 1985.
As ideias de Oliveira Viana foram muito
aclamadas na época. Somente o jornalista Astrojildo Pereira, fundador do
Partido Comunista, teve a ousadia de criticá-lo. Seu pensamento teve notável
influência na “modernização conservadora” do país e merece ser estudado até
hoje, pois é a matriz mais autêntica das ideias de direita que estão aí
vivíssimas, nas escolas militares e no chamado bolsonarismo. Trata-se de uma
vertente autoritária do pensamento positivista, que serviu como uma luva para a
projeção nacional do “castilhismo” de Getúlio Vargas como alternativa de poder.
Nos meios acadêmicos, existe um amplo
consenso sobre o caráter nefasto do Estado Novo, mas não em relação à Revolução
de 1930, saudada como a ruptura que concluiu a nossa “revolução burguesa” e
abre-alas da modernização do Estado e da economia. No livro História da Riqueza
do Brasil, Cinco séculos de pessoas, costumes e governos (Estação Brasil),
Jorge Caldeira nos mostra que a República Velha também teve o seu valor,
principalmente a partir do Acordo de Taubaté, que mudou a política de
exportação e teve notável papel na formação de capital para a nossa
modernização, sem falar no fato de que havia uma economia de sertão, grande
responsável pela existência de nosso mercado interno.
Maioria silenciosa
Chegamos ao ponto. Nosso progresso depende
de um justo e democrático equilíbrio entre o Estado e a sociedade. Essa é a
chave para entender a importância da Constituição de 1988 e do voto popular na
construção desse equilíbrio. Nosso Estado democrático de direito, com toda as
suas vicissitudes, garante a democracia brasileira e suas instituições
políticas, algumas das quais seculares, como o Senado e o Supremo Tribunal
Federal (STF). E busca superar fatores que serviram de instrumentos para crises
e rupturas da ordem democrática, entre os quais, dois têm a ver com a eleição
que se realiza hoje: a existência de uma só votação para presidente da
República e vice e a realização de dois turnos, caso nenhum dos candidatos
alcance mais de 50% dos votos no primeiro turno.
A eleição de João Goulart como vice de
Jânio Quadros, graças a uma manobra de sindicalistas paulistas, que fizeram uma
dobradinha pirata, a chapa Jan-Jan, foi um dos fatores que nos levaram ao golpe
de 1964, porque havia uma situação na qual o presidente que renunciou havia
sido eleito pela direita e seu sucessor, que assumiu legitimamente o poder,
pela esquerda. Agora, ambos são eleitos pelos mesmos eleitores. Outro fator de
instabilidade era o fato de o presidente eleito por ser o mais votadonnão
representar maioria dos votantes. Mesmo Getúlio Vargas, em 1950, por exemplo,
teve 48% dos votos. Agora, não; precisa da maioria dos votantes, no primeiro ou
no segundo turno.
O imponderável é o voto secreto, direto e
universal, em urna eletrônica, à prova de fraudes. Em momentos como os que
estamos vivendo, de radicalização política, o voto que decide é o mais
silencioso. A alternância de poder é um dos princípios da democracia; o outro,
o respeito aos direitos da minoria, principalmente ao dissenso. Vale a vontade
do eleitor. Quem ganhar, leva. Seja agora ou no segundo turno.
Um comentário:
Seu vacilao , cínico , covarde, Bolsonaro está ganhando disparado com 50% das dunas apuradas, toda essa narrativa tudo lorota, tudo mentira pra induzir o eleitor ao erro , vocês estão sendo desmascarados ao vivo e junto com esses institutos fajutas Datafolha e IPEC
Na sociedade saberá julgá-los e dar o troco
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