domingo, 2 de outubro de 2022

Cristovam Buarque* - Segundo Turno em 2026

Blog do Noblat / Metópoles

Nada indica que Bolsonaro tenha força para dar um golpe, se perder no domingo, mas tudo indica que ele pode não reconhecer o resultado

A resposta mais importante no debate da quinta-feira é a que não foi dada. A enfática resposta não dada por Bolsonaro ao ser questionado pela candidata Soraya se, caso derrotado, ele reconheceria o resultado das eleições. Ao responder, ele nem tocou nesta questão. E ela não cobrou a resposta. Nem os analistas que permaneceram debatendo até a madrugada fizeram referência ao que significa este silêncio.

Nada indica que Bolsonaro tenha força para dar um golpe, se perder no domingo, mas tudo indica que ele pode não reconhecer o resultado e convocar sua tropa para ir às ruas, com consequências catastróficas. Seguir a receita de Trump, contando, no Brasil, mais milícias armadas, polícias e militares simpáticos. O silêncio dele é indicador do que pode tentar diante do silêncio das oposições divididas e confiantes em declarações recentes dos generais do alto comando.

O golpe pode estar em não usar as polícias e as Forças Armadas para controlar a violência miliciana de milhares de seguidores armados e fanatizados. As oposições confiam também na pressão dos governos estrangeiros, mas estes nada poderão fazer para evitar o caos de milicianos e população armada, sob o olhar passivo do golpe dos braços cruzados dos militares e policiais. Confiam também nos ministros do supremo, mas eles nada poderão fazer se forem os primeiros a serem atacados. Quanto ao Congresso, impossível imaginar como reagirão. Muitos dos parlamentares voltarão derrotados, mas ainda com meses de mandato. Os governadores que perderem a reeleição seguirão comandando suas polícias.

A única tranquilidade para o processo eleitoral se concluir democraticamente seria uma vitória acachapante no primeiro turno, mas isto só seria possível se os candidatos democratas estivessem unidos. Ao contrário, estão divididos e têm servido para desacreditar ao candidato com chances de vencer. Usam o correto argumento de que a democracia dá a cada eleitor a chance, até a obrigação, de, no primeiro turno, votar no candidato que representa suas bandeiras sociais e ideológicas para, no segundo, unir todos que defendem a democracia. Mas a primeira obrigação do democrata é defender a democracia, e se ela está ameaçada, a obrigação maior é votar contra quem a ameça. Deixar suas bandeiras sociais, culturais e econômicas para a eleição seguinte.

Neste ano, temos um candidato que ameaça a democracia, que tudo fará para inviabilizar o processo eleitoral entre os dois tudos. Por isto, a maior obrigação dos democratas é evitar a ida de Bolsonaro para o segundo turno, votando unidos no Lula. Adiemos o segundo turno para 2026.

*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

2 comentários:

Anônimo disse...

"Nada indica que Bolsonaro tenha força para dar um golpe, se perder no domingo, mas tudo indica que ele pode não reconhecer o resultado"

Não gosto de linguagem chula, especialidade do biroliro.
Mas abro uma exceção agora, pela qual peço desculpas de antemão.

F*D*-SE se o BBCA não aceitar o resultado das eleições!
Será preso mais cedo.

Anônimo disse...

Concordo com o colunista, a DEFESA DA DEMOCRACIA é a principal preocupação neste momento! Bolsonaro recuou em suas ameaças de golpe, mas nada garante que aceitará sua derrota pacífica e democraticamente. Isto não é da índole do genocida, especialista em matar gente, mentir e agredir. Derrotado e acuado, torna-se ainda mais IMPREVISÍVEL E PERIGOSO!