O Estado de S. Paulo
Lula ia bem, mas derrapou ao repetir Bolsonaro e atacar a responsabilidade com o dinheiro público
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva ia muito bem, na articulação de apoios e nas manifestações, mas começou a
tropeçar nas palavras. E começou cedo, numa área muito delicada: a economia.
Chorar ao falar da fome é digno de Lula, de sua biografia e de seus
compromissos de campanha, mas atacar “a tal estabilidade fiscal”? Como assim?
É coisa para um Jair Bolsonaro em guerra com o submisso Paulo Guedes, não para um Lula em incessante busca de apoios. A reação foi rápida: o mercado se alvoroçou, o dólar disparou para R$ 5,39, a Bolsa caiu. Desnecessariamente.
A responsabilidade fiscal não é uma maldade
para beneficiar banqueiros, mas obrigação de um governo sério para proteger a
todos, principalmente os mais pobres. Estourar as contas públicas é tirar
dinheiro de quem mais precisa do Estado e soa como o velho mantra de que “um
pouco de inflação não faz mal a ninguém”. Faz, sim, mais ainda para os pobres
que Lula acha que está defendendo ao atacar a responsabilidade fiscal.
Na quarta, Lula foi no ponto, ao enfatizar
suas prioridades, falar da “dívida social de 500 anos com os pobres” e definir,
em tese, a diferença entre gastos e investimentos quando se trata de educação, saúde
e pobreza – de gente, enfim. E deu um passo adiante, mas no limite: “Guardar
dinheiro para pagar dívida de banqueiro?”
Faz sentido, sem jogar para o alto a
responsabilidade e sem atrapalhar o objetivo maior, de manter força na
sociedade, sólida base no Congresso e confiança dos setores produtivos e
financeiros, para botar o barco na água, navegar com segurança em águas turvas
e fazer a transição até a terra firme.
Nesta quinta-feira, 10, porém, Lula voltou
ao palanque: “Por que as pessoas falam que é preciso cortar gastos, fazer
superávit e teto de gastos?”. Pôs Janja num lugar que não cabe a ela e errou no
tom e no discurso, que agrada ao PT e à esquerda, mas não convém a um governo
de união, comprometido com o desenvolvimento sustentável. Para repetir o óbvio,
a prioridade de combater a miséria, precisa atacar princípios de boa governança
e uma política econômica responsável?
Lula acerta na transição com Persio Arida e
André Lara Resende, bons quadros petistas, aliados e mulheres admiráveis,
batendo nas teclas da “normalidade”, “harmonia entre os Poderes”,
“reconstrução”, “esperança”. Não deveria voltar a falar mal da herança de FHC
nem atacar Bolsonaro e meter as Forças Armadas no meio. É hora de deixar
Bolsonaro para trás e olhar para frente. Sem ódio e com responsabilidade.
Aliás, não só fiscal.
3 comentários:
A colunista disse TUDO! Parabéns a ela pela lucidez e ao blog que a divulga!
O personagem vai passar 4 anos de governo tentando ganhar o Nobel igual o Bolsonaro passou 4 anos tentando se reeleger? No final sai com o “ P “
de perdedor
Devagar com a louça...
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