Folha de S. Paulo
Baixa de juro depende de recessão mundial,
asfixia no crédito no país e de plano fiscal de Lula, diz BC
O Banco Central não
deu a mínima para a falação do governo e outros críticos da taxa de juros. Fez
questão de dizê-lo em várias das entrelinhas do comunicado em que anunciou sua
decisão de manter a Selic em 13,75%. O BC nem mencionou a possibilidade de
corte. Apenas citou a possibilidade de baixa da inflação caso a economia, aqui
e lá fora, vá à breca.
Para quem se interessa pela política
politiqueira da conversa econômica, este é o resumo da ópera.
O que o governo pode fazer? Como diz o
clichê sobre o judô, usar a força do "adversário" para virar o jogo
(sobre credores e sobre quem espera inflação alta). Se vier mais reação
estabanada ou agressivamente maluca (mais gasto obrigatório, decretar juros e
preços baixos etc.), a situação piora.
Sim, é bem possível que a economia vá ter falta de ar em breve. Maio? Vamos para um arrocho provavelmente exagerado por causa de querelas e ideias tolas e ignaras.
Ainda que a Selic baixasse logo e até 12%
em dezembro, a situação mudaria da água para água com uma colherada de vinho.
Melhora, claro, mas o problema básico não está aí.
Mas o governo acha que baixando decretos ou
trocando a palavra "gasto" por "investimento", essas
bobices, a coisa se resolve. É uma conversa muito primitiva e rudimentar.
O que pode fazer com que a inflação caia
abaixo do que ora prevê o BC?
Nova queda dos preços das commodities, em reais:
1) o dólar tem de ajudar também; 2) Economia mundial esfriar mais do que o
esperado, em especial por causa do tumulto financeiro; 3) No Brasil, arrocho de
crédito maior do que o normalmente esperado.
O recado por ora é: só vai ser bom se for
ruim. Note-se, de resto: mesmo com tais riscos, o BC não tratou de corte de
juros.
Sim, ajuda se o governo aparecer com um
plano duro de limitação de gastos e dívida —"duro mesmo" não vai
acontecer. A novidade do BC foi a menção à asfixia de crédito —pode acontecer.
Pelos números cuspidos pelos modelos do BC,
a Selic
permanecerá em 13,75% até o dia de São Nunca, de tarde. Isto é, o IPCA
apenas chega à meta de 3% de 2024 se a Selic continuar onde está até o final do
ano que vem (é o chamado "cenário alternativo" do BC). Não deve ser
tão ruim assim, mas esse é o alerta.
Não houve surpresa na decisão, na exposição
de motivos ou na análise de conjuntura apresentados pelo BC, que seguiu o
manual.
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A expectativa de inflação de "o
mercado" para 2023 e, mais relevante, para 2024, está
"desancorada". Ou seja, aumentou desde a reunião anterior do Copom
(início de fevereiro). Na verdade, praticamente parou de subir desde o início
de março, mas estacionou nas alturas.
A previsão de inflação acumulada em 12
meses até o terceiro trimestre de 2024 é de 3,8% (piorou), sob a premissa de
que a Selic caia como previsto pela mediana das projeções de economistas (é o
"cenário de referência" do BC).
Há riscos de inflação ser maior do que a
esperada, diz o BC, pois a carestia mundial pode ser persistente, há incerteza
fiscal e "desancoragem" maior ou mais duradoura de expectativas de
inflação.
O BC até começa sua exposição de motivos
citando o sururu global. Logo em seguida, porém, diz que a atividade econômica
e a inflação resistem. Seus pares nos Banco Central Europeu e no Fed,
o BC americano, acreditam que o risco de inflação é maior do que o de crise
na finança e seus efeitos recessivos ou convulsivos. O BCE elevou os juros na
semana passada. Tem feito questão de dizer que crise financeira e inflação são
temas que podem ser tratados à parte. O Fed disse nesta quarta que o tumulto
bancário pode reduzir o crescimento e, talvez, assim, a inflação, mas é cedo
para saber.
3 comentários:
Pro BC e Bob Fields GSon tá de bom tamanho
Eu juro que nao entendo a obsessão pela inflação, a não ser pelo viés de que o governo lula deva operar com a politica fiscal de um guedes da vida e cortar tudo, principalmente nos custos do funcionalismo publico. É uma bizarrice vários especialistas, gente que ganhou premio nobel e que diz que essa taxa de juros é maluca e só o BC estar certo. Eles querem fazer o governo sangrar e perder apoio. Há de tentar impichar esse bob fields neto de um fdp.
Lendo e tentando aprender.
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