quinta-feira, 1 de junho de 2023

Míriam Leitão - Que lições o governo tira dos conflitos e tensões com a Câmara

O Globo

Governo precisa focar na articulação política e entender que não governa sozinho

O dia de ontem foi tenso demais, e quem vê o resultado final, que foi aprovação da MP da reestruturação dos ministérios, pode achar que foi muito barulho por nada. Afinal foram 337 votos a favor do governo.

O resultado final foi uma votação consagradora, de votação de emenda constitucional. Mas a primeira coisa a entender é que foi uma derrota, porque consagrou o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente e perda de poder no Ministério dos Povos Indígenas.

Entre o ruim e o pior, ficou o ruim. O governo se colocou nessa situação ao deixar para a negociação para o final, e acabou ficando contra a parede.

Mais que isso. Se revelou ao longo do dia de ontem entre as muitas conversas com os parlamentares, líderes em reunião com o presidente da Câmara que há total desarticulação entre o Executivo e o Legislativo.

O próprio presidente Lula não tem recebido muito os políticos para conversar. Ontem falou com Elmar Nascimento, líder do União Brasil, que depois defendeu a aprovação do projeto. O União Brasil tem três integrantes no governo, mas Lula só conversou com uma ala do partido.

Houve também muita liberação de emendas, e é importante destacar que não é um dinheiro clandestino. São emendas que os parlamentares têm o direito de propor e que o Executivo tem o direito de cumprir, e que estavam atrasadas.

É preciso haver mais conversa, mais diálogo, e os ministros que fazem a articulação política, Rui Costa e Alexandre Padilha, têm sido muito criticados no Congresso.

Ontem foi um dia com vários momentos de tensão, inclusive a hora em que Arthur Lira deu entrevista às 19h num verdadeiro ultimato, avisando que o governo poderia perder, e não seria culpa do legislativo.

No final foi aprovado, mas fica o recado principal. Governo, presta atenção, porque ninguém conversa sozinho. O PT não governa sozinho, precisa de coalizão e diálogo com todas as forças políticas que o apoiam. A cada votação, terá que construir maiorias.

O presidente não pode terceirizar assuntos internos a auxiliares e tratar somente de assuntos internacionais.

 

Um comentário: