quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O barulho dos ausentes - Bernardo Mello Franco

O Globo

Donald Trump e Vladimir Putin não saíram na foto diante do Pão de Açúcar nem provaram as caipirinhas oferecidas aos líderes globais no Museu de Arte Moderna. Mesmo assim, encontraram suas maneiras de tumultuar a reunião do G20 no Rio.

O presidente da Rússia cancelou a viagem por um motivo singelo: poderia ir em cana se pisasse em solo brasileiro. Putin é alvo de mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional. Para evitar uma surpresa indesejada, preferiu ficar em Moscou.

Apesar da distância de 11 mil quilômetros, o mandachuva do Kremlin se fez notar no Parque do Flamengo. Às vésperas do encontro, autorizou um bombardeio a centrais elétricas da Ucrânia. A ofensiva irritou países europeus e quase melou a declaração conjunta do G20.

O impasse foi solucionado com uma gambiarra diplomática: o texto final condenou a guerra sem citar a Rússia, que iniciou o conflito. A solução não agradou a ninguém, mas evitou que a cúpula terminasse sem consenso — o que seria considerado um fiasco de dimensões planetárias.

Recém-eleito para a Casa Branca, Trump também não participou da reunião. A delegação americana foi chefiada por Joe Biden, ex-presidente em atividade até janeiro. O democrata se enrolou com a própria agenda e conseguiu perder a foto de lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal legado do Brasil como anfitrião do G20.

Enquanto Biden cometia suas gafes, a sombra de seu sucessor pairava sobre a Guanabara. O republicano faz oposição cerrada a tudo o que os líderes globais negociaram: da taxação dos super-ricos à transição energética, da preocupação com a emergência climática ao combate às desigualdades.

Ontem, no último dia do encontro, o presidente Lula deixou um recado para Trump: “Na luta pela sobrevivência, não há espaço para o negacionismo e a desinformação”. Mais tarde, ao se despedir dos convidados, o brasileiro lembrou uma frase de Nelson Mandela: “É fácil demolir e destruir, os heróis são aqueles que constroem”.

Bonitas palavras, mas daqui a exatos dois meses o poder voltará às mãos do homem laranja.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Exatamente!