Valor Econômico
Declarações de caciques da direita sobre a
sucessão presidencial confirmam o alinhamento dessas forças
As recentes declarações de caciques da
direita sobre a sucessão presidencial de 2026 confirmam o alinhamento dessas
forças, que se reuniram no ano passado pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB)
para a Prefeitura de São Paulo.
Não há consenso entre esses dirigentes,
entretanto, sobre o nome que deverá enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nas urnas no ano que vem. Porém, crescem adesões a uma chapa que um
aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro classificou como “imbatível”.
“Tarcísio para presidente, e Michelle na vice”, revelou essa fonte, em tom de franco entusiasmo, em alusão ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). O argumento é de que Tarcísio, com apoio de Bolsonaro, reuniria a direita em torno de seu nome. E Michelle agregaria carisma e sua desenvoltura nas redes à aliança.
Essa mesma fonte observa que Bolsonaro
deveria se empenhar na realização desse projeto eleitoral, porque a eventual
vitória da chapa Tarcísio-Michelle contra o PT em 2026 desembocaria num decreto
presidencial ainda nos primeiros dias de 2027: a concessão de indulto a todos
os condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos atos golpistas de 8 de
janeiro.
A ideia do indulto, caso aliados de Bolsonaro
- que está inelegível - vençam o pleito presidencial, ganhou força nos
bastidores depois que se tornaram remotas as chances de avançar, no Congresso,
o projeto de anistia a esses réus.
A depender do andamento do processo no STF
neste ano, o próprio Bolsonaro seria um dos beneficiados do eventual indulto.
Isso porque o entorno do ex-presidente não trabalha com a hipótese de ele se
livrar da denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra os
indiciados pela Polícia Federal nesse caso, que é aguardada para fevereiro ou
março no Supremo.
No pior cenário, aliados temem uma condenação
do ex-presidente, com pena de muitos anos de reclusão. Se o temor se
transformar em realidade, somente o indulto poderia devolver a liberdade, no
curto prazo, ao ex-mandatário, aos seus aliados e apoiadores condenados pelo
STF.
Ainda assim, vale lembrar que o indulto é uma
discricionariedade do presidente, mas não é arbitrário, e poderia ter a
validade contestada no STF. Foi o que ocorreu com o indulto concedido por
Bolsonaro em 2022 ao então deputado Daniel Silveira, condenado por ataques às
instituições democráticas. O decreto foi anulado pelo STF, que viu “desvio de
finalidade” na concessão do benefício.
Nessa quarta-feira (29), vieram a público
declarações do presidente do PSD e secretário de governo de São Paulo, Gilberto
Kassab, de que se as eleições fossem hoje, Lula seria derrotado. Acrescentou
que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad é “fraco” e sem voz de comando.
Haddad costuma ser citado como provável sucessor de Lula.
Na quinta-feira (30), o jornal O Globo trouxe
entrevista com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), do
mesmo campo político de Kassab. O dirigente da sigla que abriga Tarcísio e o
futuro presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (PB), afirmou que a
tendência do partido é “caminhar com alguém de centro-direita nas eleições
presidenciais”. A legenda também comanda o Ministério de Portos e Aeroportos no
governo Lula.
Kassab e Pereira, tradicionalmente, caminham
juntos nas eleições com os outros caciques do centro, como o senador Ciro
Nogueira (PI), presidente do PP, o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do
MDB, Antonio Rueda, presidente do União Brasil e o presidente do PL, Valdemar
Costa Neto.
Em 2018, quando Bolsonaro se elegeu, eles
estavam juntos na coligação de apoio a Geraldo Alckmin, então no PSDB. Em 2022,
dividiram-se: Republicanos, PP e PL estavam com Bolsonaro, enquanto MDB, PSD e
União ficaram independentes. Em 2024, voltaram a se unir por Ricardo Nunes.
Em relação a 2026, têm demonstrado
posicionamentos distintos. Kassab não quer ouvir falar de Tarcísio candidato à
Presidência no ano que vem em nenhum cenário, seja com Lula forte ou
fragilizado. Principal e mais influente auxiliar de Tarcísio, Kassab sustenta
que o aliado deve mirar a reeleição.
Os outros caciques oscilam em suas
convicções. Alguns afirmam que um Lula impopular perderia para Tarcísio. Outros
rebatem que não se pode desprezar a capacidade de Lula, que enfrenta uma fase
de revezes, de se reerguer. “Fundo de poço tem mola”, costuma dizer o
ex-senador Heráclito Fortes, hoje um dos mais próximos de Kassab.
Mas o aliado de Bolsonaro, entusiasta dessa
chapa, argumenta que é exatamente na hipótese de um Lula revigorado e popular
que Tarcísio e Michelle deveriam se unir para impedir um quarto mandato do
petista.
Talvez o maior impasse, no momento, seja a
oposição do próprio Bolsonaro a qualquer outro nome para liderar a direita, que
não seja o seu. Ele mantém a esperança de se tornar elegível e concorrer em
2026. Ele tampouco se anima com Michelle candidata a cargos do Executivo;
defende que ela concorra ao Senado pelo Distrito Federal. E a cúpula do PL
afirma que fará somente o que o ex-presidente quiser.
O palco está armado para a sucessão, mas
outros personagens darão as cartas primeiro, como a PGR e o STF. E a palavra
final será do eleitor.
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