sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A chapa ‘imbatível’ contra Lula para 2026 - Andrea Jubé

Valor Econômico

Declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial confirmam o alinhamento dessas forças

As recentes declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial de 2026 confirmam o alinhamento dessas forças, que se reuniram no ano passado pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) para a Prefeitura de São Paulo.

Não há consenso entre esses dirigentes, entretanto, sobre o nome que deverá enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas no ano que vem. Porém, crescem adesões a uma chapa que um aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro classificou como “imbatível”.

“Tarcísio para presidente, e Michelle na vice”, revelou essa fonte, em tom de franco entusiasmo, em alusão ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). O argumento é de que Tarcísio, com apoio de Bolsonaro, reuniria a direita em torno de seu nome. E Michelle agregaria carisma e sua desenvoltura nas redes à aliança.

Essa mesma fonte observa que Bolsonaro deveria se empenhar na realização desse projeto eleitoral, porque a eventual vitória da chapa Tarcísio-Michelle contra o PT em 2026 desembocaria num decreto presidencial ainda nos primeiros dias de 2027: a concessão de indulto a todos os condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

A ideia do indulto, caso aliados de Bolsonaro - que está inelegível - vençam o pleito presidencial, ganhou força nos bastidores depois que se tornaram remotas as chances de avançar, no Congresso, o projeto de anistia a esses réus.

A depender do andamento do processo no STF neste ano, o próprio Bolsonaro seria um dos beneficiados do eventual indulto. Isso porque o entorno do ex-presidente não trabalha com a hipótese de ele se livrar da denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra os indiciados pela Polícia Federal nesse caso, que é aguardada para fevereiro ou março no Supremo.

No pior cenário, aliados temem uma condenação do ex-presidente, com pena de muitos anos de reclusão. Se o temor se transformar em realidade, somente o indulto poderia devolver a liberdade, no curto prazo, ao ex-mandatário, aos seus aliados e apoiadores condenados pelo STF.

Ainda assim, vale lembrar que o indulto é uma discricionariedade do presidente, mas não é arbitrário, e poderia ter a validade contestada no STF. Foi o que ocorreu com o indulto concedido por Bolsonaro em 2022 ao então deputado Daniel Silveira, condenado por ataques às instituições democráticas. O decreto foi anulado pelo STF, que viu “desvio de finalidade” na concessão do benefício.

Nessa quarta-feira (29), vieram a público declarações do presidente do PSD e secretário de governo de São Paulo, Gilberto Kassab, de que se as eleições fossem hoje, Lula seria derrotado. Acrescentou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad é “fraco” e sem voz de comando. Haddad costuma ser citado como provável sucessor de Lula.

Na quinta-feira (30), o jornal O Globo trouxe entrevista com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), do mesmo campo político de Kassab. O dirigente da sigla que abriga Tarcísio e o futuro presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (PB), afirmou que a tendência do partido é “caminhar com alguém de centro-direita nas eleições presidenciais”. A legenda também comanda o Ministério de Portos e Aeroportos no governo Lula.

Kassab e Pereira, tradicionalmente, caminham juntos nas eleições com os outros caciques do centro, como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, Antonio Rueda, presidente do União Brasil e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Em 2018, quando Bolsonaro se elegeu, eles estavam juntos na coligação de apoio a Geraldo Alckmin, então no PSDB. Em 2022, dividiram-se: Republicanos, PP e PL estavam com Bolsonaro, enquanto MDB, PSD e União ficaram independentes. Em 2024, voltaram a se unir por Ricardo Nunes.

Em relação a 2026, têm demonstrado posicionamentos distintos. Kassab não quer ouvir falar de Tarcísio candidato à Presidência no ano que vem em nenhum cenário, seja com Lula forte ou fragilizado. Principal e mais influente auxiliar de Tarcísio, Kassab sustenta que o aliado deve mirar a reeleição.

Os outros caciques oscilam em suas convicções. Alguns afirmam que um Lula impopular perderia para Tarcísio. Outros rebatem que não se pode desprezar a capacidade de Lula, que enfrenta uma fase de revezes, de se reerguer. “Fundo de poço tem mola”, costuma dizer o ex-senador Heráclito Fortes, hoje um dos mais próximos de Kassab.

Mas o aliado de Bolsonaro, entusiasta dessa chapa, argumenta que é exatamente na hipótese de um Lula revigorado e popular que Tarcísio e Michelle deveriam se unir para impedir um quarto mandato do petista.

Talvez o maior impasse, no momento, seja a oposição do próprio Bolsonaro a qualquer outro nome para liderar a direita, que não seja o seu. Ele mantém a esperança de se tornar elegível e concorrer em 2026. Ele tampouco se anima com Michelle candidata a cargos do Executivo; defende que ela concorra ao Senado pelo Distrito Federal. E a cúpula do PL afirma que fará somente o que o ex-presidente quiser.

O palco está armado para a sucessão, mas outros personagens darão as cartas primeiro, como a PGR e o STF. E a palavra final será do eleitor.

 

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