O Estado de S. Paulo
“O ambiente externo permanece desafiador”,
advertiu o Copom no comunicado divulgado logo após a reunião de quarta-feira
que aumentou os juros básicos em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Que
desafios são esses e que grau de incerteza trazem para a economia?
A mãe de todas as incertezas são as políticas
anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. São três focos:
seu protecionismo comercial, que começou nesta quinta-feira com a imposição de
tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México; a agressiva política
anti-imigração; e a política fiscal baseada no corte dos impostos.
A sobretaxação alfandegária deve interferir
nos fluxos globais de produção. Não terá mão única. Os países prejudicados
tenderão a revidar. Os setores mais vulneráveis são o de veículos e o dos
eletrônicos.
Tanto a política comercial protecionista como a política de repulsa à imigração tendem a aumentar os preços das mercadorias e os custos da mão de obra. Mais inflação deverá obrigar o Fed (banco central) a puxar outra vez pelos juros, na direção oposta à das pressões feitas por Donald Trump.
A questão fiscal nos Estados Unidos é grande
incógnita e alto fator de incertezas. O rombo fiscal anual está a 6% do PIB do
país. A proposta de reduzir os impostos internos pode derrubar a arrecadação,
sem contrapartida em cortes de despesas. A dívida tende a ultrapassar os 123%
do PIB. Se não forem feitos ajustes, os juros da dívida americana podem
aumentar e prejudicar a rolagem da dívida em moeda estrangeira de outros
países.
Os altos investimentos previstos em energia e
em infraestrutura de data centers, para os quais Trump prevê inversões de meio
trilhão de dólares, atuarão como sugadores de recursos em detrimento de países
em desenvolvimento.
O mercado financeiro global estará sujeito à
alta volatilidade até que a acomodação geral fique mais clara.
Da União Europeia e da China esperam-se mais
incertezas. As economias da Alemanha e da França dão sinais de desgaste,
especialmente nos setores de veículos e agricultura. Seus dirigentes prometem
defesas protecionistas.
A China, outro alvo da política comercial dos
Estados Unidos, enfrenta problemas internos de difícil equacionamento, como o
envelhecimento da sua força de trabalho e a crise do setor imobiliário. Seu
crescimento econômico deve desacelerar para alguma coisa em torno dos 4,5% em
2025.
Não está claro o impacto dessas adversidades
sobre as exportações do Brasil e sobre o afluxo de capitais.
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