sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

As incertezas globais - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

“O ambiente externo permanece desafiador”, advertiu o Copom no comunicado divulgado logo após a reunião de quarta-feira que aumentou os juros básicos em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Que desafios são esses e que grau de incerteza trazem para a economia?

A mãe de todas as incertezas são as políticas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. São três focos: seu protecionismo comercial, que começou nesta quinta-feira com a imposição de tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México; a agressiva política anti-imigração; e a política fiscal baseada no corte dos impostos.

A sobretaxação alfandegária deve interferir nos fluxos globais de produção. Não terá mão única. Os países prejudicados tenderão a revidar. Os setores mais vulneráveis são o de veículos e o dos eletrônicos.

Tanto a política comercial protecionista como a política de repulsa à imigração tendem a aumentar os preços das mercadorias e os custos da mão de obra. Mais inflação deverá obrigar o Fed (banco central) a puxar outra vez pelos juros, na direção oposta à das pressões feitas por Donald Trump.

A questão fiscal nos Estados Unidos é grande incógnita e alto fator de incertezas. O rombo fiscal anual está a 6% do PIB do país. A proposta de reduzir os impostos internos pode derrubar a arrecadação, sem contrapartida em cortes de despesas. A dívida tende a ultrapassar os 123% do PIB. Se não forem feitos ajustes, os juros da dívida americana podem aumentar e prejudicar a rolagem da dívida em moeda estrangeira de outros países.

Os altos investimentos previstos em energia e em infraestrutura de data centers, para os quais Trump prevê inversões de meio trilhão de dólares, atuarão como sugadores de recursos em detrimento de países em desenvolvimento.

O mercado financeiro global estará sujeito à alta volatilidade até que a acomodação geral fique mais clara.

Da União Europeia e da China esperam-se mais incertezas. As economias da Alemanha e da França dão sinais de desgaste, especialmente nos setores de veículos e agricultura. Seus dirigentes prometem defesas protecionistas.

A China, outro alvo da política comercial dos Estados Unidos, enfrenta problemas internos de difícil equacionamento, como o envelhecimento da sua força de trabalho e a crise do setor imobiliário. Seu crescimento econômico deve desacelerar para alguma coisa em torno dos 4,5% em 2025.

Não está claro o impacto dessas adversidades sobre as exportações do Brasil e sobre o afluxo de capitais.

 

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