sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Tarcísio de boné de Trump está fracassando na segurança - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Além dos espetáculos de truculência, caso de Guarulhos expõe ligações de setores da polícia com o PCC

Enquanto comemorava a eleição de Donald Trump nos EUA com uma constrangedora aparição nas redes sociais vestindo o boné do movimento Maga (Make America Great Again), o governador de São PauloTarcísio de Freitas, já vinha acompanhando a deterioração de uma de suas bandeiras, também acenada pelo norte-americano: o combate ao crime na base do enfrentamento e da truculência. O que se tem visto no estado é uma sucessão de casos estridentes e condenáveis de violência por parte de agentes, que chamam a atenção da mídia e da população.

Desde o final do ano passado, pesquisas de opinião têm apontado o aumento da insatisfação dos paulistas com a segurança pública do governador Tarcísio. É o ramo mais reprovado de sua administração.

Em 2024, registrou-se no estado aumento de homicídios, latrocínios e outros crimes violentos, paralelamente ao já conhecido crescimento da letalidade policial.

Se esse quadro já diz muito sobre as dificuldades do governador em justificar sua linha dura, um outro aspecto, ainda mais preocupante, já não pode ser abafado.

Trata-se da contaminação de setores das polícias pelo crime organizado, no caso de São Paulo, pelo PCC, o Primeiro Comando da Capital.

As investigações sobre o cinematográfico assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator da facção, com dez tiros de fuzis às portas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, já não deixam dúvidas sobre os laços de policiais com o submundo.

A diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) de São Paulo, Ivalda Aleixo, afirma que a operação foi encomendada e paga pelo grupo.

Descobriu-se agora que parte da munição utilizada no fuzilamento pertencia à Polícia Militar. Três policiais foram presos sob suspeita de terem realizado os disparos.

O episódio é um daqueles em que uma pontinha do iceberg se deixa ver. Outras aparecem aqui e ali.

O prefeito Ricardo Nunes, por exemplo, aliado de Tarcísio, disse que está, enfim, ultimando as medidas para cancelar contratos com as empresas de ônibus UpBus e Transwolff, acusadas pelo Ministério Público de ligação com o PCC.

Curiosamente, mesmo após as denúncias terem se tornado públicas e a determinação de prisões e apreensões de bens, as empresas receberam repasses de R$ 827 milhões, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, e firmaram novos contratos para operar no sistema.

A infiltração do crime organizado nas instituições vai cada vez mais longe. Os tentáculos se insinuam nas disputas eleitorais e alcançam Legislativo, Judiciário e Executivo em diversos níveis da federação.

A movimentação do tráfico internacional de cocaína agenciado pelo PCC e outros grupos, no Brasil ou além das fronteiras, é da ordem de bilhões. O poder corruptor é imenso. A descoberta de um traficante fardado em avião da FAB que acompanhava o presidente Jair Bolsonaro à Europa, em 2019, teria sido anedótica se não sintomática.

Há um consenso entre instituições e estudiosos voltados para a segurança pública a respeito do amplo e dramático poder adquirido pelas facções criminosas no Brasil e além de suas fronteiras.

Em contrapartida, não se observa um planejamento que dê esperanças de que essa degradação poderá ser contida

 

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