terça-feira, 18 de março de 2025

Mais ambulantes que bolsonaristas em Copa - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Chantagem e golpismo impulsionam anistia aos atos de 8/1

Movimento de extrema violência, em seguida às tentativas de invasão da Polícia Federal e de explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília, o 8/1 foi orquestrado, financiado e divulgado. Da tarde de horror participaram cerca de 4.000 bolsonaristas que estavam desde outubro de 2022 acampados em frente a quartéis do Exército pedindo uma intervenção militar que impedisse a posse de Lula.

Nas redes circulou um código —"festa da Selma"— para manter viva a esperança na continuidade de Bolsonaro no poder e incitar a destruição e o prejuízo. Apesar dos coices e patadas que distribuíram, ali não estavam manifestantes ou vândalos comuns adotando um comportamento de manada. Tampouco patriotas e idosas de Bíblia na mão, como querem os negacionistas do golpe. Foi uma típica insurreição fascista.

Uma pesquisa Quaest publicada em janeiro mostrou que 85% dos eleitores do ex-presidente desaprovam a depredação, percentual quase idêntico ao de outra consulta no ano passado. A desconexão com a realidade explica o fracasso do comício na orla de Copacabana. A expectativa era delirante: um milhão de pessoas. Sem entrar na discussão numérica, havia pouquíssima gente, mesmo contando os ambulantes.

A opinião pública condena o 8/1, mas certos parlamentares, por vocação e oportunismo, caminham na direção oposta: perdoá-lo. Bolsonaro tenta na Câmara conseguir apoio suficiente para anistiar os réus. A meta é amarrar 280 deputados e garantir que a proposta de lei seja aprovada. O fiel da balança serão os integrantes do centrão, sempre prontos a fazer chantagem. O capitão conversou com líderes do PSD, União Brasil e PP; falta o Republicanos, partido do presidente da Casa, Hugo Motta. No Senado, a articulação é mais difícil. Davi Alcolumbre não quer ouvir falar da pauta.

Curioso é que o Congresso nos últimos anos tem adotado uma posição punitivista, sobretudo em relação ao encarceramento e saídas temporárias de presos. Mas, se o caso é proteger um criminoso de estimação, a falsa moralidade desaparece.

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