Folha de S. Paulo
Chantagem e golpismo impulsionam anistia aos
atos de 8/1
Movimento de extrema violência, em seguida às
tentativas de invasão da Polícia Federal e de explosão de uma bomba no
aeroporto de Brasília, o 8/1 foi orquestrado, financiado e divulgado. Da tarde
de horror participaram cerca de 4.000 bolsonaristas que estavam desde outubro
de 2022 acampados em frente a quartéis do Exército pedindo uma intervenção
militar que impedisse a posse de Lula.
Nas redes circulou um código —"festa da Selma"— para manter viva a esperança na continuidade de Bolsonaro no poder e incitar a destruição e o prejuízo. Apesar dos coices e patadas que distribuíram, ali não estavam manifestantes ou vândalos comuns adotando um comportamento de manada. Tampouco patriotas e idosas de Bíblia na mão, como querem os negacionistas do golpe. Foi uma típica insurreição fascista.
Uma pesquisa Quaest publicada em janeiro
mostrou que 85% dos eleitores do ex-presidente desaprovam a depredação,
percentual quase idêntico ao de outra consulta no ano passado. A desconexão com
a realidade explica o fracasso do comício na orla de Copacabana. A expectativa
era delirante: um milhão de pessoas. Sem entrar na discussão numérica, havia
pouquíssima gente, mesmo contando os ambulantes.
A opinião pública condena o 8/1, mas certos
parlamentares, por vocação e oportunismo, caminham na direção oposta:
perdoá-lo. Bolsonaro tenta na Câmara conseguir
apoio suficiente para anistiar os réus. A meta é amarrar 280 deputados e
garantir que a proposta de lei seja aprovada. O fiel da balança serão os
integrantes do centrão, sempre prontos a fazer chantagem. O capitão conversou
com líderes do PSD, União Brasil e PP; falta o Republicanos, partido do
presidente da Casa, Hugo Motta. No Senado, a
articulação é mais difícil. Davi Alcolumbre não quer ouvir falar da pauta.
Curioso é que o Congresso nos últimos anos tem adotado uma posição punitivista, sobretudo em relação ao encarceramento e saídas temporárias de presos. Mas, se o caso é proteger um criminoso de estimação, a falsa moralidade desaparece.
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