terça-feira, 18 de março de 2025

O fiasco de Copacabana - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Sem mobilizar as ruas, Bolsonaro e Lula fortalecem o Centrão ou um ‘outsider’ em 2026

O fiasco do ato de Copacabana pró-Bolsonaro, ops!, pró-anistia aos criminosos de 8/1, confirma que nem ele nem Lula são mais capazes de mobilizar imensas multidões nas ruas. A polarização continua, mas Bolsonaro e Lula perdem o encanto e abrem espaço para um rearranjo das forças políticas, novos líderes e também – o que é particularmente aterrorizante – os tais “outsiders”.

Especialistas vinculados à USP contabilizaram 18,3 mil pessoas no pico da manifestação, enquanto a PM do Rio decidiu, por encanto, quebrar a tradição de não divulgar estimativa de presença desse tipo de evento e tascou 400 mil militantes. A diferença dos números é enorme, assim como a de credibilidade das duas instituições.

Independentemente disso, as imagens aéreas e as estimativas de USP e PM do governador Cláudio Castro conduzem à mesma conclusão: sim, foi um fiasco. Bolsonaro imaginava um milhão de pessoas, depois ajustou para 500 mil e não chegou nem perto disso. E os bolsonaristas também não se animaram em acompanhar o discurso dele pela internet – onde, aliás, a imagem de Bolsonaro que fez sucesso foi com um reluzente “Sem Anistia” no prédio ao fundo, onde um dia morou a “miss das misses”, Martha Rocha.

Numa linguagem bem apropriada, já que falamos de Bolsonaro, o tiro saiu pela culatra. Nem por isso, o presidente Lula e o PT têm muito o que comemorar, já que há tempos também não emocionam e mobilizam milhões como antigamente. As ruas cansaram. Poderia ser o calor, só que não...

O debate sobre a anistia do 8/1, para favorecer Bolsonaro, sai das ruas e se concentra no Congresso, em desconexão com as pautas que realmente interessam à população e aos vários setores que garantem crescimento, emprego e renda: inflação de alimentos, preço estonteante dos ovos, (in)segurança pública, saúde, educação...

Com Bolsonaro desmilinguindo, a popularidade de Lula despencando e o centro acéfalo e amorfo, o jogo político está nas mãos do Centrão (na verdade, Direitão), que balança para um lado e para outro, de acordo com as pesquisas. Exemplos: para o PSD de Gilberto Kassab, dividido sobre a anistia, e o União Brasil, rachado em relação a tudo, importa quem vai ganhar.

O ambiente político não está só como o diabo gosta, mas muito atrativo para “outsiders” de passado obscuro ou simplesmente sem passado, de presente atrelado a redes sociais e fake news e de futuro incerto. Lula foi o grande eleitor de Bolsonaro em 2018, Bolsonaro foi o de Lula em 2022 e, juntos, podem eleger em 2026 um legítimo quadro do Centrão ou até um aproveitador barato, vendido como “antissistema”. Tomara que não.

 

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