Folha de S. Paulo
Dimensões acanhadas da manifestação liberam
parlamentares da direita não extremista a votar contra anistia
Se Bolsonaro imaginava
que uma manifestação maciça
em Copacabana serviria para pressionar parlamentares do centrão a votar a favor
de uma anistia que o beneficiaria, então o ato de domingo (16) foi um tiro
pela culatra. As proporções acanhadas do protesto liberam congressistas da
direita não extremista para votar contra Bolsonaro sem temer uma onda de
execração popular.
Não que fizesse muita diferença. Mesmo que o Parlamento aprovasse a anistia, o caso seria judicializado e terminaria no STF, onde os ventos não sopram a favor do capitão reformado. O mais provável é que, além da já decretada inelegibilidade, a corte o condene a umas duas décadas de prisão por tentativa de golpe e outros crimes.
Ainda que não o reconheça, Bolsonaro sabe que
seu prognóstico não é muito alvissareiro. Admitiu, nas entrelinhas de seu
discurso, que poderá não ser candidato. Paradoxalmente, isso aumenta as chances
da direita.
A polarização, com ou sem Bolsonaro na chapa,
não irá embora. A julgar pelo que aconteceu em 2022 e pelo que vimos em outras
eleições majoritárias, no Brasil e no mundo, vencerá quem conseguir atrair os
moderados.
Essa fatia do eleitorado é numericamente
decadente, mas tende a ser decisiva em pleitos muito apertados. Aí, ostentar
uma rejeição menor passa a ser até mais importante do que largar bem na
disputa. E praticamente qualquer um da direita tem rejeição menor que
Bolsonaro.
O problema da esquerda é um pouco
diferente. Lula será
candidato se sentir que tem boas chances de vitória. Num cenário mais adverso,
duvido que ele arriscaria fechar sua biografia com derrota para um preposto de
Bolsonaro. E não parece haver ninguém na esquerda com condições de substituir
Lula, especialmente não numa situação tão desfavorável.
Até vislumbraria a possibilidade de
continuidade do governismo com um candidato como Alckmin ou Tebet, mas me
parece zero a chance de o PT topar um arranjo desses. E, convenhamos, para a
esquerda, isso significaria abrir mão de concorrer como esquerda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário