terça-feira, 18 de março de 2025

A rua já não atende a Bolsonaro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Ato de domingo (16) mostrou que perde tração a capacidade de mobilização do ex-presidente

As manifestações de rua convocadas por Jair Bolsonaro (PL) e companhia vêm se esvaziando. A de domingo (16) em Copacabana reuniu menos que o ato de abril de 2024, na mesma praia, que por sua vez já foi bem menor que as anteriores.

Agora talvez o problema tenha sido o tema. Anistia para os condenados de 8 de janeiro, na qual o ex-presidente quer pegar uma carona, não é, como disse o presidente do SenadoDavi Alcolumbre (União-AP), um assunto que toque as mentes, os corações e, sobretudo, os bolsos dos brasileiros.

Além da falta de público em relação à anunciada expectativa de até 1 milhão de pessoas —foram 30 mil, segundo o Datafolha—, houve as marcantes ausências de aliados de peso, como governadores e prefeitos de capitais.

À exceção foi o mais importante dentre os candidatos à sucessão de Bolsonaro na liderança da direita, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A presença dele disse muito mais a respeito da estratégia de se garantir nesse público e de tornar o ex-presidente maleável a uma indicação para disputar a Presidência em 2026 do que ao desejo sincero de ver aprovada a anistia à massa de manobra da tentativa de golpe.

É verdade que, mesmo se tivesse reunido a multidão esperada, a manifestação não teria poder algum de influência sobre o julgamento a ser iniciado no próximo dia 25 na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Ali, a celeridade dos procedimentos sinalizou a intenção de dar fim ao processo ainda neste ano. Em caso de condenação, não haverá anistia que dê jeito: Bolsonaro estará inelegível por um bom tempo. O ato, contudo, serviu para demonstrar que a capacidade de mobilização de Bolsonaro perde tração. Seus admiradores parecem cada vez menos animados a comprar uma briga com boas chances de ser perdida.

Temos aí também um indicativo de que a propalada convulsão social em decorrência de uma condenação seguida de prisão não terá terreno fértil para acontecer. O próprio Bolsonaro normaliza esse cenário ao falar toda hora na hipótese de ser preso. E sem a chama da surpresa é difícil haver curto-circuito.

 

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