Folha de S. Paulo
Inflação de alimentos está à beira de
ultrapassar ganhos da média dos salários
No dia 15 de janeiro, o
governo cancelava medida que ajudaria a fiscalizar bandalheiras com o Pix.
Até aquele dia, um vídeo de propaganda de um deputado da direita tinha sido
visto 217 milhões de vezes, mais do que a população do país. O vídeo avacalhava
o governo e espalhava o medo da vigilância sobre o Pix. A popularidade do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
caía pelas tabelas, diriam
as pesquisas, mais tarde.
Uma semana depois da derrota do Pix, o governo começava a dizer que tomaria providências a fim de conter a inflação dos alimentos. Foi em 22 de janeiro, aquele dia em que Rui Costa, ministro da Casa Civil, falou de modo desastrado sobre "intervenções" para lidar com a carestia da comida. O governo queria dar a impressão de que se agitava a fim de tomar medidas. Houve reuniões com empresários. O governo baixou o imposto de importação de sardinha. Lula disse que caçava quem "passou a mão no direito" do povo de comer ovo.
Desde janeiro, a inflação da comida sobe. O
aumento anual de "alimentação no domicílio" (comida que se leva para
preparo em casa), passou de 7,2% em fevereiro para 8% em abril, segunda
maior alta em dois anos.
Parte da inflação da comida é mundial. O
governo quase nada tem a fazer quanto a isso. Mas, como se passou à demagogia,
agora tende a pagar o preço da esperteza burra.
Uma medida econômica de insatisfação com o
governo, a julgar pelas pesquisas de avaliação, é a diferença entre o aumento
nominal dos salários e a inflação da comida, acumulada em 12 meses.
Em abril de 2022, o aumento médio dos
salários perdia para a inflação da comida em 12%. Além do grande aumento da
miséria de 2021 (quando
se cortou o auxílio emergencial), esse deve ter sido um motivo da derrota
de Jair Bolsonaro.
Em janeiro de 2023, os salários ganhavam da
inflação por 2,2%. Em setembro de 2023, por 10%. Meados de 2023 foi o melhor
momento do prestígio de Lula. Em janeiro deste ano, a diferença entre a
variação de salários e preços da comida (acumulada em 12 meses) baixara a
apenas 1,2%. Os dados de abril devem mostrar piora adicional.
A fila do INSS aumentou.
Claro que variações da espera no INSS não explicam variações de popularidade,
mas criam aquele mau humor de base, que pode ser explorado por quem faz
campanhas contra o Estado em geral e contra este governo em particular. Como se
não bastasse, ficou escancarado que o
INSS era negligente com a roubança dos aposentados, rolo de quase uma
década, mas que piorou bem em 2023 e 2024, até dar em caso de polícia. O
governo promete o impossível, mas não consegue tomar conta da barraquinha.
Neste ano, quase nada aconteceu na política
politiqueira afora a frente parlamentar de apoio ao golpe e à anistia de
golpistas. Quanto a medidas do governo, parece andar o consignado
para celetistas. Desde o dia 21 de março, quando estreou, em média saem uns
R$ 370 milhões de empréstimos por dia útil, mais de R$ 8,2 bilhões, no total. O
governo prometeu, de resto, fazer passar a isenção do IR no Congresso, o que
não pega no povo e, se passar sem rolo, valeria apenas em 2026. E foi tudo de
relevante.
O ano tem sido obliterado pelo circo sinistro
de Donald
Trump. Mas o governo parece inerte, toma rasteiras políticas bisonhas no
Congresso e não tem rumo e imaginação até para reagir ao atoleiro de
popularidade.
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