Ministro do Empreendedorismo do governo Lula
oferece palanque ao petista no maior colégio eleitoral do país ao mesmo tempo
em que partido pressiona pela manutenção do vice
O ministro do Empreendedorismo, Márcio França, foi celebrado neste sábado (26), em evento do PSB, como principal aposta para enfrentar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2026. O movimento oferece ao presidente Lula um palanque competitivo no maior colégio eleitoral do país, ao mesmo tempo em que pressiona o PT a manter o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), na chapa de reeleição do próximo ano. O posto é cobiçado por partidos como o MDB, que tem uma bancada mais representativa no Congresso e mais prefeituras.
Durante o congresso estadual que transmitiu o
comando do diretório paulista das suas mãos para as do filho, o deputado
estadual Caio França, o ministro foi recepcionado por faixas pedindo a sua
eleição para governador, assinadas por correligionários do ABC paulista. Da
tribuna, colegas falaram em “reparar uma grande injustiça” nas eleições de
2018, quando o ex-governador, que havia herdado o cargo de Alckmin, perdeu por
margem estreita de votos contra o ex-prefeito da capital, João Doria, então no
PSDB, além da "necessidade de derrotar Tarcísio". Quando se ouviram
gritos de "Márcio governador", Alckmin aplaudiu com entusiasmo.
— Olha, pré-candidato, de verdade, você tem
um período, que é a partir do ano que vem. Mas o desejo de disputar a eleição
eu tenho. Eu já comuniquei isso a todo mundo internamente do partido. Claro que
a gente faz parte de um governo federal hoje. Eu sou ministro e estou
aguardando o presidente Lula, como ele enxerga o quadro. Ele ainda está fazendo
os seus arranjos nacionais, mas tenho a impressão que se caminha para um acordo
— disse França antes do evento, realizado no plenário da Assembleia Legislativa
do Estado (Alesp).
O ministro disse que o cenário “vira uma
salada de candidatos da direita” com Tarcísio tentando a Presidência e afirmou
que toparia a disputa mesmo contra o atual governador, que aparece com um
patamar de aprovação de cerca de 60% nas principais pesquisas divulgadas este
ano. Segundo ele, a sua característica “mais ao centro” o aproxima de
servidores públicos, policiais militares e civis e do segmento evangélico,
ampliando o eleitorado natural de Lula, com quem conta para ir ao segundo
turno. O apoio serviria como uma espécie de reciprocidade, uma vez que França
cedeu a vaga ao Executivo na chapa nas eleições passadas para Fernando
Haddad.
— Sinceramente, eu acho que tem muita bola
solta aqui em São Paulo, sem ninguém apontar problemas. Acho que está na hora
de a gente colocar esse dedo na ferida. Como ele é muito técnico, ele vê tudo
como uma planilha de Excel. O rosto das pessoas, ele não consegue determinar —
afirmou o ministro, ensaiando uma plataforma de campanha. — Ele tem que
apresentar entregas, não apenas números. Se você assoprar a espuma, sobra pouca
coisa concreta. É tudo meio para o futuro. E a população vê insegurança, trânsito
em todo o canto, mais pedágios.
França foi prefeito de São Vicente, cidade
vizinha a Santos, no litoral paulista, e deputado federal por dois mandatos
antes de ser secretário de Alckmin, então no PSDB, e depois vice-governador.
Ele assumiu o governo em 2018, com a candidatura do titular a presidente. Além
da derrota para Doria, ele não conseguiu se eleger ao Senado quatro anos depois
mesmo com o apoio do PT. Acabou à época derrotado pelo astronauta Marcos Pontes
(PL), ex-ministro da Ciência no governo de Jair Bolsonaro.
Recado ao PT
O prefeito de Recife, João Campos,
que deve assumir o comando nacional do PSB a partir de maio, reforçou que
Alckmin tem "duas características" que deveriam ser comuns a qualquer
vice, "lealdade e coerência", em novo recado ao PT que a sigla não
irá abrir mão de repetir a chapa em 2026. A respeito de França, o político
comemorou a sua disposição em enfrentar a corrida eleitoral em São Paulo, sem
se comprometer diretamente com a candidatura.
A esquerda tem feito acenos mais tímidos a
respeito das eleições no estado em comparação com a direita. Fontes ouvidas
pelo GLOBO atribuem
esse cenário ao processo eleitoral interno do PT e à necessidade de articulação
entre as siglas da frente lulista. Ainda assim, alguns representantes do
partido reconhecem que Alckmin seria o candidato mais competitivo por conta do
“recall” de seus mandatos anteriores, principalmente no interior. Ele, contudo,
diz não querer deixar o posto — e reforçou a posição ao prometer apoio ao
"sonho justo" de França de "servir ao povo de São Paulo".
Entre os nomes próprios do PT, Fernando
Haddad (Fazenda), que perdeu para Tarcísio no segundo turno, e Luiz Marinho
(Trabalho), quarto lugar em 2018, e Alexandre
Padilha (Saúde), costumam ser mencionados.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 de
abril mostrou que Alckmin
perderia para Tarcísio se a disputa fosse hoje, mas lidera a disputa quando o
governador não está presente — o político pode abdicar do cargo para
concorrer a presidente no ano que vem. França, por sua vez, fica atrás do
empresário e influenciador Pablo
Marçal (PRTB) e empata, dentro da margem de erro, com o prefeito de
São Paulo, Ricardo Nunes (MDB),
e com Padilha.
O congresso estadual do PSB teve participação dos deputados federais Tabata Amaral e Jonas Donizette, este preterido na liderança do diretório paulista, entre outros representantes. Políticos estaduais de PT e Rede também discursaram, e houve coro de "sem anistia" quando a aliança com o PSB foi citada como essencial para "garantir a democracia" na eleição presidencial anterior.
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