Valor Econômico
Aliados sinalizam descontentamento com
desempenho de ex-presidente em depoimento
Auto-exilado no Texas, de onde tem feito pressões por sanções americanas ao ministro Alexandre de Moraes, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se desesperou ao ouvir o pai convidar seu algoz para vice durante seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10). “Qualquer pessoa com dois neurônios entendeu a ironia da fala de @jairbolsonaro, entendeu que a ÚLTIMA pessoa no planeta que seria escolhida para vice dele seria Moraes”, escreveu no X.
“Foi ruim”, resumiu seu companheiro de armas,
o influenciador Paulo
Figueiredo, foragido da justiça brasileira nos EUA, ao comentar
o depoimento do ex-presidente discordando da enquete de seu canal na internet.
Achou-o pouco preparado e confuso nas respostas e desesperou-se com o pedido de
desculpas de Jair Bolsonaro a Moraes pela afirmação de que o ministro recebera
milhões em suborno: “Ele quase pediu misericórdia ao Alexandre de Moraes. Foi
um erro porque esse julgamento é uma farsa”. Só esqueceu de dizer que foram
dois pedidos de desculpas.
A reação dos dois
soldados do ex-presidente resume o impacto político do seu depoimento. Não
agradou quem pendura seu futuro na sobrevivência do naco bolsonarista do
eleitorado ou na desmoralização de Alexandre de Moraes. O humor com o
qual Bolsonaro encarou o depoimento e a maneira obsequiosa com a qual respondeu
ao ministro relator tampouco se encaixa no figurino de vítima no qual tenta se
ajustar ao longo de seu confronto com o Supremo Tribunal Federal.
Se, para a política, o depoimento
de Bolsonaro na Primeira Turma do STF deu ruim, para suas chances no
processo tampouco parece ter funcionado. É o que se depreende da reação do seu
advogado. Ao final do depoimento, Celso
Villardi passou a fazer perguntas pedindo, expressamente,
para que seu cliente respondesse apenas sim e não. Ficou claro que, em suas
respostas a Moraes, Bolsonaro havia sido confuso e pouco convincente em se
divorciar da trama golpista.
No depoimento da manhã, do general Heleno Ribeiro, seu advogado, Matheus Milanez, também
tinha tentado a mesma estratégia. Não teve sucesso porque seu cliente, aos 77
anos, parecia pouco treinado para as respostas. Em vez de negar
peremptoriamente a contestação do resultado eleitoral, o ex-ministro do
Gabinete de Segurança Institucional respondeu que “não houve oportunidade” para
isso. Por isso, quando Villardi mencionou que adotaria o “método Moraes” de
inquiri-lo, o ministro advertiu-o: “Seu colega tentou mais cedo e não deu
certo”. Villardi conseguiu que Bolsonaro desse um simples “não” à pergunta
sobre a edição da minuta do golpe, contrariando o que seu ex-ajudante de
ordens, Mauro Cid, dissera véspera. Não foi capaz de desfazer, porém, a
declaração do cliente de que “não havia clima para golpe”.
Antes mesmo de ser confrontado com o teor
golpista de declarações suas ao longo do governo, Bolsonaro atribui-as à
“retórica” adquirida em 28 anos de vida legislativa na Câmara Municipal do Rio
e na Câmara dos Deputados. Indagado sobre as acusações ao Tribunal Superior
Eleitoral e as ameaças aos ministros do STF, tomou por regra atribuí-las a
“desabafos” e ao seu “temperamento explosivo”. As manifestações golpistas de
apoiadores que pediam ao AI-5 viraram “maluquice”. E, finalmente, sobre as
reuniões com comandantes das Forças Armadas para convencê-los a aderir a
medidas de exceção, disse não passarem de “conversas informais com companheiros
de turma”.
Se, na véspera, havia sido benevolente ao
encontrar seu ex-ajudante de ordens, no depoimento desta terça, tentou dar um
troco ao delator. Disse que o discurso encontrado no seu escritório no PL que
tratava de Estado de Sítio e operação de Garantia da Lei e da Ordem estava no
inquérito e fora extraído do celular de Mauro Cid.
É inútil tentar encontrar uma estratégia com começo, meio e fim de Bolsonaro a partir do depoimento desta terça, mas o habitual caos como método não lhe afastou da condenação. E mais: permitiu que Alexandre de Moraes, ao franquear espaço para suas loas ao próprio governo, combatesse com sucesso a imagem de algoz implacável do bolsonarismo.
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