O Globo
Com diferentes graus de veemência, às vezes
tentando minimizar importância de eventos, o fato é que nenhum dos integrantes
do núcleo crucial da trama golpista diz que afirmações de Cid e provas são
mentira
O mais impressionante das muitas horas de interrogatórios do chamado núcleo crucial da ação penal que trata da trama golpista é que nenhum dos réus ouvidos até agora pelo ministro Alexandre de Moraes nega o teor de minutas, reuniões, lives, trocas de mensagens e outras provas reunidas pela Polícia Federal e que mostram os vários momentos em que Jair Bolsonaro e seus auxiliares, militares e civis, analisaram a possibilidade de levar adiante alguma forma de contestar o resultado das urnas de 2022 e não passar o poder a Lula.
O resumo das falas de Bolsonaro e do general
Augusto Heleno é fatal para as defesas e praticamente uma confissão: em
diferentes ocasiões em seus depoimentos, o ex-presidente e seu ex-ministro do
Gabinete de Segurança Institucional admitiram que as propostas estavam na mesa,
mas não houve "clima" para levá-las adiante.
Nenhum dos réus até aqui disse que Mauro Cid
inventou algo ou que as coisas que ele relata não aconteceram. No máximo se tem
saídas do tipo "não me recordo exatamente", ou "não foi
exatamente assim". Só essa circunstância já é espantosa, e permite prever
que dificilmente algum dos integrantes desse núcleo duro da trama golpista
venha a ser absolvido com o que foi reunido até aqui.
Bolsonaro confirmou diversas reuniões com
ministros e comandantes militares para avaliar hipóteses de ruptura
institucional, que atribuiu à impossibilidade de contestar o resultado das
urnas no próprio TSE. Admitiu que até a ideia de decretação de estado de sítio
foi colocada na mesa.
Confirmou situações que beiram o surrealismo,
como o fato de, sendo o presidente da República, ter recebido a deputada Carla
Zambelli e o "hacker de Araraquara", Walter Delgatti, para discutir
maneiras de monitorar o presidente do TSE, que vinha a ser o próprio Alexandre
de Moraes.
Mais: ao longo de mais de duas horas em que falou bem mais do que seus advogados devem ter orientado, o ex-presidente não só confirmou encontros e minutas como reafirmou questionamentos já refutados sobre a lisura do processo eleitoral, e insinuou diversas vezes que a vitória de Lula foi fruto de fraude. Ele não se arrepende de nada, no máximo faz considerações sobre ter "exagerado na retórica". Nada disso ajuda sua situação judicial.
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