quarta-feira, 11 de junho de 2025

Sobram rejeições, mas falta alternativa – Érico Firmo

O Povo (CE)

É esse o impasse institucional a que chegou o Brasil. As duas grandes forças são rejeitadas e o eleitor tampouco dá espaço, ou credibilidade, a alternativas a esses campos

O Brasil está num complicado buraco político e é difícil vislumbrar saída tão cedo. Governos sem maiorias sólidas tendem a levar a cenários de instabilidade. É preciso alicerce institucional muito consolidado para haver governo sem maioria confortável, ou mesmo minoritário, e ainda assim sólido. Não é apenas polarização. A pesquisa Quaest divulgada na semana passada mostra o impasse institucional que o Brasil vive. Dois terços dos que responderam ao levantamento defendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve ser candidato à reeleição. São 66%. Percentual quase idêntico, 65%, afirma também que Jair Bolsonaro (PL) deve abandonar de imediato a retórica de que será candidato — pois está inelegível. O eleitor não quer Lula, não quer Bolsonaro, mas também não confere viabilidade eleitoral a nenhum projeto alternativo a ambos.

Ciro Gomes (PDT) tentou ser essa opção e parece ter desistido — ele ou o eleitor. O PSDB ensaiou ser isso, com João Doria ou Eduardo Leite. Sergio Moro (União Brasil) chegou a se lançar com esse objetivo. Marina Silva (Rede) havia tentado mais atrás. Os dois grandes são rejeitados — ou odiados mesmo — por muita gente. Mas concentram parcelas do eleitorado de modo que o espaço que resta para alternativas não é capaz de construir opção viável.

A coisa chega ao extremo de, em 2022, nenhuma candidatura que não a de Lula e Bolsonaro ter alcançado 5% dos votos. Simone Tebet (MDB) teve 4%. Ciro, 3%. Em Fortaleza, em 2024, o fenômeno também se verificou. Os candidatos que fizeram o segundo turno em 2020, então prefeito José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil), mal passaram dos dois dígitos.

É esse o impasse institucional a que chegou o Brasil. As duas grandes forças são rejeitadas e o eleitor tampouco dá espaço, ou credibilidade, a alternativas a esses campos.

O governo de Lula, em 2010, foi o último a ter maioria e estabilidade. Dilma Rousseff (PT) enfrentou instabilidade política a tal ponto que caiu. Michel Temer (MDB) tinha legitimidade questionada e bateu recordes de impopularidade. Bolsonaro teve um governo de crises, grande parte das quais ele próprio provocava. E o governo de Lula é minoritário na política e na sociedade. A ideia de frente ampla não era algo bem estabelecido na campanha e não foi colocada em prática no governo. Assim, a maioria jamais se formou, salvo para questões pontuais apoiadas pelo comando da vez no Congresso Nacional.

É bastante improvável vislumbrar um próximo governo, seja de Lula, de um aliado ou da oposição, que não tenha enorme rejeição. A não ser que consiga algo que o Brasil não vê há mais de uma década: estabilidade e tranquilidade política. Essa realidade terá de ser construída na gestão. Dificilmente sairá das urnas.

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