O Povo (CE)
É esse o impasse institucional a que chegou o
Brasil. As duas grandes forças são rejeitadas e o eleitor tampouco dá espaço,
ou credibilidade, a alternativas a esses campos
O Brasil está num complicado buraco político e é difícil vislumbrar saída tão cedo. Governos sem maiorias sólidas tendem a levar a cenários de instabilidade. É preciso alicerce institucional muito consolidado para haver governo sem maioria confortável, ou mesmo minoritário, e ainda assim sólido. Não é apenas polarização. A pesquisa Quaest divulgada na semana passada mostra o impasse institucional que o Brasil vive. Dois terços dos que responderam ao levantamento defendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve ser candidato à reeleição. São 66%. Percentual quase idêntico, 65%, afirma também que Jair Bolsonaro (PL) deve abandonar de imediato a retórica de que será candidato — pois está inelegível. O eleitor não quer Lula, não quer Bolsonaro, mas também não confere viabilidade eleitoral a nenhum projeto alternativo a ambos.
Ciro Gomes (PDT) tentou ser essa opção e
parece ter desistido — ele ou o eleitor. O PSDB ensaiou ser isso, com João
Doria ou Eduardo Leite. Sergio Moro (União Brasil) chegou a se lançar com esse
objetivo. Marina Silva (Rede) havia tentado mais atrás. Os dois grandes são
rejeitados — ou odiados mesmo — por muita gente. Mas concentram parcelas do
eleitorado de modo que o espaço que resta para alternativas não é capaz de
construir opção viável.
A coisa chega ao extremo de, em 2022, nenhuma
candidatura que não a de Lula e Bolsonaro ter alcançado 5% dos votos. Simone
Tebet (MDB) teve 4%. Ciro, 3%. Em Fortaleza, em 2024, o fenômeno também se
verificou. Os candidatos que fizeram o segundo turno em 2020, então prefeito
José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil), mal passaram dos dois
dígitos.
É esse o impasse institucional a que chegou o
Brasil. As duas grandes forças são rejeitadas e o eleitor tampouco dá espaço,
ou credibilidade, a alternativas a esses campos.
O governo de Lula, em 2010, foi o último a
ter maioria e estabilidade. Dilma Rousseff (PT) enfrentou instabilidade
política a tal ponto que caiu. Michel Temer (MDB) tinha legitimidade
questionada e bateu recordes de impopularidade. Bolsonaro teve um governo de
crises, grande parte das quais ele próprio provocava. E o governo de Lula é
minoritário na política e na sociedade. A ideia de frente ampla não era algo
bem estabelecido na campanha e não foi colocada em prática no governo. Assim, a
maioria jamais se formou, salvo para questões pontuais apoiadas pelo comando da
vez no Congresso Nacional.
É bastante improvável vislumbrar um próximo governo, seja de Lula, de um aliado ou da oposição, que não tenha enorme rejeição. A não ser que consiga algo que o Brasil não vê há mais de uma década: estabilidade e tranquilidade política. Essa realidade terá de ser construída na gestão. Dificilmente sairá das urnas.
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