O Globo
Os três réus que depuseram nesta manhã de
terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF)
adotaram estratégias diferentes, nenhuma delas, no entanto, foram bem sucedidas
no objetivo de destruir as provas que os ligam à tentativa de golpe em 8 de
janeiro.
O almirante Almir Garnier Santos, por exemplo, decidiu ser objetivo, falar pouco, foi lacônico, mas respondeu todas as perguntas respeitosamente. O almirante jogou na defesa, com respostas bem pensadas, mas que não o ajudaram. Ele fez de conta que o que se propunha era uma GLO, e não um golpe. Disse ainda que a Marinha estava de prontidão porque tem que estar, afinal, as Forças Armadas são o “bastião desse negócio”.
O almirante tem uma memória difícil de se
compreender. Ele lembra que estava na reunião em que o general Paulo
Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, apresentou a minuta do golpe para
os comandantes militares, mas disse que a reunião acabou antes de começar, sem
saber explicar a razão. Perguntado se lembrava que o brigadeiro Batista Júnior
disse que, se o documento representasse uma tentativa para evitar a assunção do
presidente da República eleito, iria embora, ele disse não se recordar dessa
declaração. Mas, enfim, em vários outros momentos, deu respostas, bem
estudadas, mas insuficientes para sua própria defesa. Há muitas testemunhas de
que ele colocou as tropas à disposição do então presidente Jair
Bolsonaro.
Anderson
Torres foi mais falante que Almir Garnier. Ele
buscou dar uma volta em evidências que são muito fortes contra ele, de não ter
cumprido o seu dever como secretário de Segurança do Distrito Federal no 8 de
janeiro. Ele preparou tudo para uma crise e viajou para o exterior,
seis dias após assumir o cargo. Torres disse que a viagem estava planejada
desde julho do ano anterior e que adiou as férias para janeiro, devido à
campanha eleitoral. No entanto, as passagens só foram compradas em novembro.
Ele também não conseguiu desmontar a importância do seu papel na trama golpista
enquanto ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Não se pode esquecer de que
ele tinha a minuta do golpe em casa, guardada junto de fotos de família.
Augusto
Heleno decidiu não responder a perguntas diretas do ministro Alexandre
de Moraes, o que é um direito constitucional. O
general conseguiu a proeza de se enrolar ao responder às perguntas feitas pelo
advogado de defesa, Matheus Milianez. O ministro Alexandre de Moraes
chegou a brincar "que fique consignado nos anais, que não fui eu, e sim o
seu advogado falou que sim ou não", diante da insistência de Milanez para
que Heleno fosse mais sucinto em suas respostas.
Independente da estratégia adotada pelos réus
desde ontem, fica claro que era muito natural dentro do governo, na cúpula
militar, falar-se sobre ruptura institucional. O que eles tentam em seus
depoimentos é minimizar. Mas os interrogatórios deixam claro que a trama
golpista era tratada cotidianamente no governo. Chama atenção que, sobre a
minuta de golpe encontrada em sua casa, o ex-ministro da Justiça, Anderson
Torres, só tenha a comentar os erros de português, quando o documento propõe
ataque às instituições, um golpe na democracia.
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