quarta-feira, 11 de junho de 2025

Três estratégias, três erros - Míriam Leitão

O Globo

Os três réus que depuseram nesta manhã de terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) adotaram estratégias diferentes, nenhuma delas, no entanto, foram bem sucedidas no objetivo de destruir as provas que os ligam à tentativa de golpe em 8 de janeiro.

O almirante Almir Garnier Santos, por exemplo, decidiu ser objetivo, falar pouco, foi lacônico, mas respondeu todas as perguntas respeitosamente. O almirante jogou na defesa, com respostas bem pensadas, mas que não o ajudaram. Ele fez de conta que o que se propunha era uma GLO, e não um golpe. Disse ainda que a Marinha estava de prontidão porque tem que estar, afinal, as Forças Armadas são o “bastião desse negócio”.

O almirante tem uma memória difícil de se compreender. Ele lembra que estava na reunião em que o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, apresentou a minuta do golpe para os comandantes militares, mas disse que a reunião acabou antes de começar, sem saber explicar a razão. Perguntado se lembrava que o brigadeiro Batista Júnior disse que, se o documento representasse uma tentativa para evitar a assunção do presidente da República eleito, iria embora, ele disse não se recordar dessa declaração. Mas, enfim, em vários outros momentos, deu respostas, bem estudadas, mas insuficientes para sua própria defesa. Há muitas testemunhas de que ele colocou as tropas à disposição do então presidente Jair Bolsonaro.

Anderson Torres foi mais falante que Almir Garnier. Ele buscou dar uma volta em evidências que são muito fortes contra ele, de não ter cumprido o seu dever como secretário de Segurança do Distrito Federal no 8 de janeiro. Ele preparou tudo para uma crise e viajou para o exterior, seis dias após assumir o cargo. Torres disse que a viagem estava planejada desde julho do ano anterior e que adiou as férias para janeiro, devido à campanha eleitoral. No entanto, as passagens só foram compradas em novembro. Ele também não conseguiu desmontar a importância do seu papel na trama golpista enquanto ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Não se pode esquecer de que ele tinha a minuta do golpe em casa, guardada junto de fotos de família.

Augusto Heleno decidiu não responder a perguntas diretas do ministro Alexandre de Moraes, o que é um direito constitucional. O general conseguiu a proeza de se enrolar ao responder às perguntas feitas pelo advogado de defesa, Matheus Milianez. O ministro Alexandre de Moraes chegou a brincar "que fique consignado nos anais, que não fui eu, e sim o seu advogado falou que sim ou não", diante da insistência de Milanez para que Heleno fosse mais sucinto em suas respostas.

Independente da estratégia adotada pelos réus desde ontem, fica claro que era muito natural dentro do governo, na cúpula militar, falar-se sobre ruptura institucional. O que eles tentam em seus depoimentos é minimizar. Mas os interrogatórios deixam claro que a trama golpista era tratada cotidianamente no governo. Chama atenção que, sobre a minuta de golpe encontrada em sua casa, o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, só tenha a comentar os erros de português, quando o documento propõe ataque às instituições, um golpe na democracia.

 

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