quarta-feira, 11 de junho de 2025

Desocupando a moita... - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Não sei quem teve a brilhante ideia de tentar  apaziguar o clima de ódio  desencadeado  no campo da política, sugerindo  aos dois potenciais candidatos à eleição para Presidente da República, em 2026,  saírem  do caminho. Ambos já ocuparam o cargo, gozam dos privilégios de serem "exs", já aquinhoaram, com benesses do Estado ,   familiares , amigos e correligionários  e, nenhum dos dois fez uma gestão presidencial que os capacite à retornar. Seria um exagero, e até um abuso da ingenuidade popular. Ambiguamente  gozam de grande popularidade, mas também de uma enorme rejeição  pública. Alimentam-se desse furor marquetólógico , travando  falsas batalhas,  escondendo ou camuflando  verdades com versões convenientes. Os dois são fortes candidatos a serem derrotados nas próximas eleições. E a culpa não seria do "centrão". É deles mesmos.
Ambos defendem  teses pessoais . Nenhum , nem outro  tem projeto de governo , capaz  despertar a confiança unânime da população.  Nas preliminares, enquanto um tentou introduzir  um  padrão  de caserna na educação ; o outro não consegue se livrar do obsoleto modelo sindicalista, cujos interesses de classe  sustentou - pasme-se - o regime mussolinista na Itália. O Brasil virou  um laboratório para a História.

Embora tenha desempenhado  três a quatro mandatos no Congresso Nacional , Bolsonaro sempre foi  considerado  um "destemperado". No Exército, de onde veio, chegou a ser desligado, por indisciplina. Lula,  sem experiência política ou de gestão, senão como líder sindical, vem tentando emplacar seu  "modelito"  para a política nacional, deslizando entre  o desfrute pessoal das regalias disponibilizadas pelo Poder Público, uma visão   sindical  e  uma revanche contra os que lhe condenaram à prisão .  Não chegou ainda aos seus limites, passa perto. Tem se pautado pelos conselhos dos ex-advogados particulares, de  lideranças militantes de esquerda defasadas e de professores, diplomatas que, na penumbra do Estado, guiam os cidadãos  para mundos, parcerias  e situações rupturais, envolvendo    em vias, de fato,   "nunca antes navegadas", toda Nação .

Enquanto isso, Bolsonaro fica aí remando  nas controvérsias criadas  pelo Partido do Governo, que estimula, com  atitudes e falas  odientas  a  visibilidade pública de ambos. Ninguém confia  nas suas  ações afirmativas , amparadas, no caso da atual gestão presidencial,  no tal de PAC- Programa de Ação Concentrada, que se propõe a impulsionar o crescimento econômico, usando o dinheiro dos outros,  aumentar o emprego e melhorar as condições de vida da população. Inflação e juros estão lá em cima. Até agora só se viu uma gastança generalizada, sem "tetos",   com conotações aparentemente eleitoreiras,  e a redistribuição do Tesouro público com "bolsas",  em dinheiro vivo,  para todo lado . Cheio de contradições, para resolver os problemas de saúde  aconselha a população a  procurar os serviços do SUS, mas    frequenta mesmo é o o Hospital Sírio- Libanês, um dos mais caros do País , evitando o INSS (que paga) e o Instituto Einstein, este último de origem israelita. 

Estou terminando de ler aqui o livro do jornalista  Larry Rohter "Deu no NewYork Times" (Objetiva, 2007), uma obra seminal sobre o personagem.  Norte-americano, casado com uma brasileira, foi designado em 1978 como  correspondente  no Brasil. Assistiu de perto a ascensão  do novo líder sindical . "Era pessoalmente simpático às muitas das  suas aspirações" . Depois trabalhou  foi vários países do mundo, inclusive no México e na China, mas, de longe,  acompanhava  as performances de Lula. Encontrou-o, pela última vez,  em El Salvador (1996), numa reunião do Foro de São Paulo. Ao retornar ao seu trabalho no  Brasil,   uma única reportagem, cujas fontes estavam dentro do próprio Palácio do Planalto, passou perto de ser  vítima de   um decreto de expulsão , que teve de ser revogado porque  o seu jornal, considerado o mais influente do mundo, não embarcou na versão oficial  do Planalto. 

- "Fiquei puto,  porque como pode um cidadão que nunca conversou comigo, que nunca tomou um copo de cerveja comigo , que nunca tomou um copo de água  comigo, (  "tomei Fanta Laranja") fazer uma matéria dizendo que eu bebia?!"(Pág. 162).Para Rother foi a pá de cal na crença  do  que Lula falava . Não  só   encontrara-se várias vezes com Lula, no Brasil e no exterior, com tinha fontes dentro do  Partido dos Trabalhadores e do próprio gabinete  presidencial."...Como muito do que Lula disse sobre tantas coisas ao longo dos anos, ele - concluiu : ... ele não é correto"(idem). Por causa da matéria, Rother chegou a ser chamado pelos "coleguinhas" da  imprensa brasileira de "espião".  Nesse momento, Bolsonaro era ainda uma figura nas sombras, meio escatológica.
 
Portanto, embora Lula, pouco simpático à leitura e à educação, pretenda  reescrever a  história do Brasil ,   é um  criador  convicto e contumaz de  narrativas controversas   para as realidades vividas  pelo incomodado povo brasileiro . No tempo, foi aconselhado pelos Kirchners, da Argentina, e conselheiro de Maduro, da Venezuela. Parece simpatizar-se com a  transgressão. A seu modo, ameaça  vagamente  "corruptos"  e marginais,  ao enunciar versões  e conceitos  que  apenas tangenciam os fatos,   desviando a atenção dos cidadãos  sobre os acontecimentos e os escândalos verdadeiros no coração do Estado . Bolsonaro também tentou fazer isso, mas não conseguiu gerir  o governo e, sobretudo,  as versões dos fatos, tratando-os com uma franqueza rude, iletrada e uma impaciência desbragada. 
 
Ambos trabalham com  estatísticas pouco confiáveis. O vice-presidente, Alkmin,  embora tenha sido um  governador de São Paulo reputado com um homem probo - a menos que alguém tenha informação contrária - abrigou-se  nas "asas da graúna"  (ave onívora, comum no Nordeste, da família Icteridae, conhecida por seu canto melodioso e  vulnerável ao tráfico de animais silvestres, que come  frutos, insetos e até aranhas. No Maranhão é chamado de  "chupão". Ao ser cooptado para vice-´presidente da República, na chapa de Lula, conseguiu destruir o próprio partido de origem , o PSDB, que chegou a eleger , por duas vezes, um Presidente da República, governadores e milhares de prefeitos.

As pesquisas Qaest* - e  institutos similares -  confirmam as  tendências eleitorais para 2026  revelando rejeições  próximas de 60 por cento, tanto a Bolsonaro quanto a Lula . Os dois foram péssimos presidentes. Então não é só a  Janja gastando, INSSsendo fraudado e a polícia baiana fazendo vistas grossas  para violência no sertão,  que alimentam a perda de credibilidade de Lula. Com 76 anos,  saúde debilitada, ele devia repensar a suposta candidatura, levando  Janja  para conhecer a a chamada "Riviera Russa", que é muito bonita! Não arrisque a francesa... 

O certo é que tanto Lula quanto Bolsonaro são fortes candidatos a perderem a próxima eleição. Não faltam quem possa derrotá-los: Tarcísio Freitas (SP), Ronaldo Caiado (Go), Ratinho (Pr), Eduardo Leite(RS), Henrique Campos (Pe). São  nomes fortes, filiados a partidos representativos, e com belas passagens pelos respectivos governos regionais. Lula ou Bolsonaro novamente no Poder será um enorme retrocesso para a história  do País.  Se os ministros do  Supremo Tribunal gostam  de se meter em política, porque, primeiro não dão logo o aval para a proibição da reeleição, e não propõem ao  Congresso o  estabelecimento da obrigatoriedade dos candidatos a Presidência da República  apresentarem, compulsoriamente, programas de Governo, no momento da inscrição eleitoral?!

* Jornalista, professor

Nenhum comentário: