Para baixar déficit, seria preciso comprar brigas que Executivo e Legislativo evitam
Depois do rolo do IOF, Fernando
Haddad voltou a dizer de modo enfático e frequente que é preciso
adotar "medidas estruturantes" a fim de reduzir o déficit do governo
de modo duradouro. Até o comando do Congresso passou a falar de "medidas
estruturantes". Hum.
No domingo saberíamos oficialmente o que é
"estruturante". Em novembro de 2024, houve promessa de "plano
estruturante". Não rolou. Deu rolo. Vai rolar agora, com campanha
começando em um ano?
De "estruturante", ao menos para
economistas-padrão, há: 1) reforma da Previdência ou reajuste menor do mínimo.
Relevante, mas bem menor, seria a revisão de distorções em benefícios como BPC
ou seguro-defeso, para supostos pescadores; 2) fim da obrigação de reajustar a
despesa com saúde e educação no ritmo do aumento da receita; reduzir os
repasses do governo para o Fundeb; 3) opção preferencial agora: redução
do valor
das isenções de impostos, com criação de sistema de aprovação e gestão
desses incentivos.
No caso das isenções classificadas como "gasto tributário", a Receita diz que se deixa de arrecadar R$ 544 bilhões neste ano (a despesa anual do governo, afora juros, é de R$ 2,4 trilhões).
Uma reforma administrativa, necessária, não
resulta sempre em redução de despesa, muito menos no curto prazo.
O Congresso deve derrubar ao menos parte do
aumento do IOF, uns R$ 20 bilhões neste ano, R$ 40 bilhões em 2026. Haddad diz
que precisa de compensação. De outro modo, haverá corte na despesa. O
investimento federal em obras etc., já de parcos R$ 62 bilhões por ano, levaria
a maior parte do talho.
Especula-se que o governo poderia compensar
perdas com algum imposto sobre "bets" ou "criptoativos"
(bitcoins etc). No ano passado, o Brasil comprou no exterior o equivalente a R$
103 bilhões em "criptoativos". Algum extra de renda de
petróleo pode ajudar (mas não muito e há risco de rolo no setor). O corte dos
supersalários renderia R$ 1 bilhão —o Congresso não tem deixado.
Difícil o governo convencer o Congresso a dar
cabo imediato de isenções sobre folha de salário de
empresas e (de fato) do Perse, o programa de socorro ao setor de eventos,
cultura, esporte e de tanta gente que entrou nessa farra patrocinada pelo
Congresso. Quem sabe venha imposto sobre "fintechs" e algo sobre a
finança.
Reduzir "gasto tributário" (GT) é
aumento de imposto, para o bem ou para o mal. A maior parte do GT, 22%, vai
para empresas no Simples (muita vez, profissional rico). A seguir, a rubrica
que leva mais isenção é agricultura (17,6%), mas 53,6% disso vai para a cesta
básica e 9% para defensivos agrícolas.
Aposentados com mais de 65 anos, com doenças
graves e seguro por morte ou invalidez levam cerca de 8,3%. Com dedução de IR
com saúde privada, para plano de saúde de empresa, remédio e equipamento médico
vão quase 10%. Dedução de IR com educação privada, Prouni e doações, quase 1,8%
do total. Alimentação do trabalhador (PAT) e isenção para verbas de demissão,
2,7%.
Entidades filantrópicas, várias delas
controversas levam 8,4%. Desenvolvimento regional, no que parlamentares não
mexem: 5,5%.
Não é preciso talhar cada uma dessas isenções
em bloco. Mas em quase todas tem favor, mamata, ineficiência ou quase todas
causam distorções econômicas e injustiça. Mas não é simples talhar. É, enfim,
mais imposto. É revogação de isenções concedidas ou toleradas por governos
do PT e
pelo Congresso. Quem paga a conta?
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