Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Os exemplos são muitos, mas os casos de Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho são as mais expressivas demonstrações de que políticos envolvidos em denúncias e escândalos podem até ser reconduzidos pelo voto às antigas tribunas, mas nunca mais são os mesmos.
De um modo geral, não recuperam o prestígio e o poder perdidos.
Senadores, poderosos, caciques de seus partidos, PFL e PMDB, ACM e Jader tinham comando sobre a chuva e o sol na política, até se virem obrigados a renunciar aos respectivos mandatos.
Antonio Carlos em maio de 2001, acusado de violar o sigilo do painel eletrônico na votação de cassação do então senador Luiz Estevão; Jader em setembro do mesmo ano, alvo de denúncias de desvio de verbas no Banpará.
No ano seguinte, ambos foram reeleitos ao Congresso: ACM ao Senado e Jader à Câmara. Nenhum dos dois jamais foi sombra do que já tinham sido. O senador baiano morreu em 2007 reverenciado pelo passado, mas sem influência no presente e o deputado paraense dá as cartas nos bastidores graças a uma aliança com o PT nos planos regional e nacional, mas não é uma companhia benquista.
Como eles, muitos outros. Vários retornaram depois de muito tempo à vida pública, alguns nunca saíram dela e há até os que estrearam recentemente nos papéis de protagonistas de escândalos depois de anos de serviços prestados ao discurso na probidade na oposição.
É o caso dos mensaleiros do PT e também de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, apontado como o mandante da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, tido como possível candidato do PT ao governo de São Paulo ou ministro de novo se o Supremo Tribunal Federal rejeitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
A decisão é esperada para o próximo mês, assim que o Supremo voltar do recesso. Se a Corte julgar improcedente, Palocci fica, em tese, livre desse peso e, segundo se diz no governo, pode voltar ao ministério e retornar à lista de candidatos do PT a cargos majoritários.
Teoricamente é possível mesmo. Mas só na teoria. Na prática, a situação não é tão tranquila. Para ministro, um pouco menos complicado. Basta uma decisão do presidente, a disposição de deixar passar a fase inicial de questionamentos e a consciência de que o fantasma das denúncias sobre irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto ainda está à espreita.
Para o PT fazer de Palocci candidato, o quadro é mais difícil. Enfrentar eleição majoritária com investigações em aberto e todas as evidências produzidas no episódio Francenildo é um risco; equivale a fazer metade do serviço para o adversário.
Muito se fala a respeito da leniência das leis e da tolerância do eleitor no tocante a uma (ou muitas) nova oportunidade. Mas não se confere o devido peso a um dado da realidade: políticos, quando moralmente condenados ou atingidos, têm cortadas suas cordas vocais. Na melhor das hipóteses continuam podendo agir, mas não dispõem mais da mesma capacidade de falar e ser ouvidos.
Comparemos o deputado José Genoino de hoje ao Genoino de antes do escândalo do mensalão que o alcançou na presidência do PT e, nessa condição, avalista dos empréstimos fictícios ao partido intermediados por Marcos Valério.
O político vivaz, falante, participativo deu lugar a um homem amargo, retraído, silencioso, ressentido. Envergonhado. Um dos raros, diga-se.
Por inteligência e atributo de caráter, Genoino tem noção do que se passa; o constrangimento impede o atrevimento.
Não é o caso de José Dirceu. Mesmo confrontado com acusações graves, deixou a Casa Civil disposto a “governar da Câmara”. Pretendia, como parlamentar, liderar a bancada governista e até presidir a instituição. Tal pretensão não teve a duração de um discurso, que não conseguiu sequer terminar, questionado em sua legitimidade. Pouco depois seria cassado e hoje aguarda o julgamento do Supremo agindo como se nada tivesse ocorrido.
Ele fala - tem direito -, mas não influencia.
O senador Eduardo Azeredo. Foi governador de Minas Gerais, presidente do PSDB, é investigado pelo STF pelo uso de esquema Marcos Valério, dispõe ainda do mandato, mas aniquilou-se a atuação política. Quanto mais quieto, mais contribui.
O ex-presidente do Senado, acusado por quebra de decoro e absolvido por seus pares, Renan Calheiros, quer desmentir as escrituras e, como líder do PMDB, tentar recuperar o antigo poder. Como quem repõe pasta de dentes no tubo esvaziado e assaz danificado.
Morder e assoprar
Presença de espírito - ou senso de oportunidade, para fins profissionais - não falta ao presidente Lula.
O arremesso de sapato ao jornalista na visita à Couromodas prestou-se à diluição do mal-estar provocado pelas declarações segundo as quais imprensa faz mal à saúde (dele).
Lula troca a figura do intolerante pela imagem do governante brincalhão e, por isso, inimputável.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Os exemplos são muitos, mas os casos de Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho são as mais expressivas demonstrações de que políticos envolvidos em denúncias e escândalos podem até ser reconduzidos pelo voto às antigas tribunas, mas nunca mais são os mesmos.
De um modo geral, não recuperam o prestígio e o poder perdidos.
Senadores, poderosos, caciques de seus partidos, PFL e PMDB, ACM e Jader tinham comando sobre a chuva e o sol na política, até se virem obrigados a renunciar aos respectivos mandatos.
Antonio Carlos em maio de 2001, acusado de violar o sigilo do painel eletrônico na votação de cassação do então senador Luiz Estevão; Jader em setembro do mesmo ano, alvo de denúncias de desvio de verbas no Banpará.
No ano seguinte, ambos foram reeleitos ao Congresso: ACM ao Senado e Jader à Câmara. Nenhum dos dois jamais foi sombra do que já tinham sido. O senador baiano morreu em 2007 reverenciado pelo passado, mas sem influência no presente e o deputado paraense dá as cartas nos bastidores graças a uma aliança com o PT nos planos regional e nacional, mas não é uma companhia benquista.
Como eles, muitos outros. Vários retornaram depois de muito tempo à vida pública, alguns nunca saíram dela e há até os que estrearam recentemente nos papéis de protagonistas de escândalos depois de anos de serviços prestados ao discurso na probidade na oposição.
É o caso dos mensaleiros do PT e também de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, apontado como o mandante da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, tido como possível candidato do PT ao governo de São Paulo ou ministro de novo se o Supremo Tribunal Federal rejeitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
A decisão é esperada para o próximo mês, assim que o Supremo voltar do recesso. Se a Corte julgar improcedente, Palocci fica, em tese, livre desse peso e, segundo se diz no governo, pode voltar ao ministério e retornar à lista de candidatos do PT a cargos majoritários.
Teoricamente é possível mesmo. Mas só na teoria. Na prática, a situação não é tão tranquila. Para ministro, um pouco menos complicado. Basta uma decisão do presidente, a disposição de deixar passar a fase inicial de questionamentos e a consciência de que o fantasma das denúncias sobre irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto ainda está à espreita.
Para o PT fazer de Palocci candidato, o quadro é mais difícil. Enfrentar eleição majoritária com investigações em aberto e todas as evidências produzidas no episódio Francenildo é um risco; equivale a fazer metade do serviço para o adversário.
Muito se fala a respeito da leniência das leis e da tolerância do eleitor no tocante a uma (ou muitas) nova oportunidade. Mas não se confere o devido peso a um dado da realidade: políticos, quando moralmente condenados ou atingidos, têm cortadas suas cordas vocais. Na melhor das hipóteses continuam podendo agir, mas não dispõem mais da mesma capacidade de falar e ser ouvidos.
Comparemos o deputado José Genoino de hoje ao Genoino de antes do escândalo do mensalão que o alcançou na presidência do PT e, nessa condição, avalista dos empréstimos fictícios ao partido intermediados por Marcos Valério.
O político vivaz, falante, participativo deu lugar a um homem amargo, retraído, silencioso, ressentido. Envergonhado. Um dos raros, diga-se.
Por inteligência e atributo de caráter, Genoino tem noção do que se passa; o constrangimento impede o atrevimento.
Não é o caso de José Dirceu. Mesmo confrontado com acusações graves, deixou a Casa Civil disposto a “governar da Câmara”. Pretendia, como parlamentar, liderar a bancada governista e até presidir a instituição. Tal pretensão não teve a duração de um discurso, que não conseguiu sequer terminar, questionado em sua legitimidade. Pouco depois seria cassado e hoje aguarda o julgamento do Supremo agindo como se nada tivesse ocorrido.
Ele fala - tem direito -, mas não influencia.
O senador Eduardo Azeredo. Foi governador de Minas Gerais, presidente do PSDB, é investigado pelo STF pelo uso de esquema Marcos Valério, dispõe ainda do mandato, mas aniquilou-se a atuação política. Quanto mais quieto, mais contribui.
O ex-presidente do Senado, acusado por quebra de decoro e absolvido por seus pares, Renan Calheiros, quer desmentir as escrituras e, como líder do PMDB, tentar recuperar o antigo poder. Como quem repõe pasta de dentes no tubo esvaziado e assaz danificado.
Morder e assoprar
Presença de espírito - ou senso de oportunidade, para fins profissionais - não falta ao presidente Lula.
O arremesso de sapato ao jornalista na visita à Couromodas prestou-se à diluição do mal-estar provocado pelas declarações segundo as quais imprensa faz mal à saúde (dele).
Lula troca a figura do intolerante pela imagem do governante brincalhão e, por isso, inimputável.
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