Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A alta do real é difícil de ser controlada; o BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana
NA ÚLTIMA quarta, o Banco Central comprou mais de US$ 1 bilhão para evitar uma valorização significativa do real. No momento seguinte à realização do leilão, nossa moeda retomou o caminho de alta, flertando com a cotação de R$ 2,00. Apenas uma piora nos mercados internacionais na parte final do dia -e que continuou ontem- evitou que essa fronteira simbólica fosse cruzada. Mas, se o otimismo permanecer, será uma questão de tempo para que o mercado teste novamente o Banco Central.
Com o expressivo fortalecimento do real -quase 10% neste mês-, volta ao debate a questão da taxa de câmbio no Brasil. Como sempre, as questões econômicas acabam por radicalizar as posições dos analistas.
De um lado, estão os que defendem uma intervenção agressiva do BC para anular esse movimento e culpam os juros elevados por tudo o que está acontecendo. De outro, estão os que dizem que em um regime de metas de inflação a taxa de câmbio deve variar livremente seguindo as forças de mercado.
Não vou entrar no mérito dessas duas posições. Quero apenas dividir com o leitor da Folha meu entendimento sobre as forças que estão atuando no câmbio neste momento. Acredito que vivemos uma dinâmica nova, criada principalmente pelo otimismo com que os mercados internacionais veem hoje a economia brasileira. Passar pela crise em condições satisfatórias foi fundamental para consolidar essa avaliação.
Credenciado por isso, o real mudou de qualidade e passou a fazer parte de um seleto grupo de moedas emergentes.
Essa cesta flutua em função da força ou da fraqueza da moeda americana nos mercados, medida principalmente em relação ao euro e ao iene japonês. Em setembro, quando a falência do Lehman Brothers colocou o sistema financeiro mundial à beira do precipício, houve corrida ao dólar.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A alta do real é difícil de ser controlada; o BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana
NA ÚLTIMA quarta, o Banco Central comprou mais de US$ 1 bilhão para evitar uma valorização significativa do real. No momento seguinte à realização do leilão, nossa moeda retomou o caminho de alta, flertando com a cotação de R$ 2,00. Apenas uma piora nos mercados internacionais na parte final do dia -e que continuou ontem- evitou que essa fronteira simbólica fosse cruzada. Mas, se o otimismo permanecer, será uma questão de tempo para que o mercado teste novamente o Banco Central.
Com o expressivo fortalecimento do real -quase 10% neste mês-, volta ao debate a questão da taxa de câmbio no Brasil. Como sempre, as questões econômicas acabam por radicalizar as posições dos analistas.
De um lado, estão os que defendem uma intervenção agressiva do BC para anular esse movimento e culpam os juros elevados por tudo o que está acontecendo. De outro, estão os que dizem que em um regime de metas de inflação a taxa de câmbio deve variar livremente seguindo as forças de mercado.
Não vou entrar no mérito dessas duas posições. Quero apenas dividir com o leitor da Folha meu entendimento sobre as forças que estão atuando no câmbio neste momento. Acredito que vivemos uma dinâmica nova, criada principalmente pelo otimismo com que os mercados internacionais veem hoje a economia brasileira. Passar pela crise em condições satisfatórias foi fundamental para consolidar essa avaliação.
Credenciado por isso, o real mudou de qualidade e passou a fazer parte de um seleto grupo de moedas emergentes.
Essa cesta flutua em função da força ou da fraqueza da moeda americana nos mercados, medida principalmente em relação ao euro e ao iene japonês. Em setembro, quando a falência do Lehman Brothers colocou o sistema financeiro mundial à beira do precipício, houve corrida ao dólar.
Naquele momento de pânico, ele foi visto como moeda refúgio dos capitais financeiros e como proteção de patrimônio em geral. O resultado foi uma desvalorização generalizada da maioria das moedas, principalmente as dos emergentes. O real foi apanhado por essa tormenta e perdeu quase 40% de seu valor. O mesmo ocorreu com o won coreano, o peso mexicano, a lira turca e outras moedas emergentes. Mesmo o euro e a libra inglesa perderam valor.
Em meados de março, com a volta de certa dose de confiança em relação à recuperação da economia mundial, esse movimento começou a ser revertido. Os dólares acumulados nos dias de pânico estão sendo reciclados, provocando uma mudança na sua valorização dos últimos meses.
A contrapartida desse movimento é o fortalecimento das demais moedas, principalmente algumas ligadas às economias que se portaram bem na crise, como o real.
Nossa moeda está sendo procurada de maneira intensa por investidores ansiosos em diversificar seus investimentos. Uma nova onda de entrada de capitais está ocorrendo e, se não acontecer uma reversão das expectativas em relação à economia mundial, deve continuar. Esse movimento é difícil de ser controlado sem uma coordenação entre bancos centrais, pois não é localizado apenas no Brasil. O BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana no mercado, pela colocação dos chamados "swaps" cambiais reversos e por uma redução mais agressiva da taxa de juros Selic. Tentar administrar o valor do real sem levar em consideração essa nova dinâmica pode custar muito caro.
Luiz Carlos Mendonça De Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
Em meados de março, com a volta de certa dose de confiança em relação à recuperação da economia mundial, esse movimento começou a ser revertido. Os dólares acumulados nos dias de pânico estão sendo reciclados, provocando uma mudança na sua valorização dos últimos meses.
A contrapartida desse movimento é o fortalecimento das demais moedas, principalmente algumas ligadas às economias que se portaram bem na crise, como o real.
Nossa moeda está sendo procurada de maneira intensa por investidores ansiosos em diversificar seus investimentos. Uma nova onda de entrada de capitais está ocorrendo e, se não acontecer uma reversão das expectativas em relação à economia mundial, deve continuar. Esse movimento é difícil de ser controlado sem uma coordenação entre bancos centrais, pois não é localizado apenas no Brasil. O BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana no mercado, pela colocação dos chamados "swaps" cambiais reversos e por uma redução mais agressiva da taxa de juros Selic. Tentar administrar o valor do real sem levar em consideração essa nova dinâmica pode custar muito caro.
Luiz Carlos Mendonça De Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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