terça-feira, 28 de setembro de 2010

Chávez sai enfraquecido das urnas na Venezuela

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente Hugo Chávez, elegeu ao menos 98 dos 165 deputados da Assembléia Nacional na votação de anteontem. 0 resultado, abaixo da meta de 110, deixa o chavismo sem a maioria necessária para ratificar as medidas que visam a instalar no país o "socialismo do século 21". Assim, pela primeira vez desde 2005 quando a oposição boicotou a eleição legislativa -, Chávez terá de negociar a aprovação de emendas constitucionais. A bancada do PSUV só foi obtida em razão de mudanças na lei eleitoral, que permitiu aos chavistas terem mais deputados mesmo tendo menos votos - a oposição diz ter obtido 52% dos sufrágios, numa eleição com 70% de participação. Somos maioria", festejou a Mesa de Unidade Democrática, que reúne forças antichavistas e levou 65 cadeiras.

Urnas reduzem poder de Chávez e complicam plano de reeleição em 2012

Roberto Lameirinhas
Enviado especial / Caracas

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), liderado pelo presidente Hugo Chávez, terá a maior bancada na Assembleia Nacional eleita no domingo, com pelo menos 98 dos 165 deputados da Casa. A Mesa de Unidade Democrática (MUD), que reúne as forças antichavistas, obtinha 65 cadeiras e o partido Pátria Para Todos (PPT), ex-aliado do chavismo que se recusou a se incorporar ao PSUV, 2.

Entre os aliados de Chávez, porém, há pouco a celebrar. O PSUV ficou muito aquém de sua meta de alcançar a bancada de 110 deputados, que lhe daria a maioria de dois terços e permitiria a Chávez seguir ratificando as medidas de seu projeto de instalar no país o "socialismo do século 21". Agora, pela primeira vez desde 2005 - quando a oposição boicotou a eleição legislativa em protesto contra as regras eleitorais -, terá de negociar a aprovação de leis orgânicas e emendas constitucionais na Assembleia.

Pior do que isso, a bancada majoritária do PSUV só foi obtida em razão do redesenho do mapa das circunscrições do país, aprovado no ano passado, que causou uma enorme distorção entre a votação nacional e a representação das forças políticas no Legislativo. De acordo com a apuração paralela da oposição, os partidos que se opõem a Chávez obtiveram 52% dos votos.

Até ontem à noite, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) omitia as cifras da votação nacional. Caso os números da oposição se confirmem, Chávez verá, pela primeira vez de forma clara, a possibilidade real de não obter o apoio popular para manter-se no poder após as eleições presidenciais de 2012. "Em 2007, o presidente viu seu projeto de reforma constitucional, que incluía a possibilidade de reeleições ilimitadas, derrotado nas urnas", lembra o jornalista e analista político Eloy Torres. "Mas a diferença de votos na ocasião era de menos de 2 pontos porcentuais e a abstenção foi de quase 45%. Agora, trata-se de uma situação diferente, na qual se evidencia a decepção do eleitorado com o governo, numa votação que teve uma participação próxima dos 70%."

"Somos maioria", celebravam os partidários da MUD, em sua sede em Miranda, perto de Caracas, quando o secretário-geral Ramón Aveledo anunciou o resultado da apuração paralela - minutos depois de o CNE ter divulgado o primeiro boletim com os números da eleição em cada Estado, às 2 horas (3h30, em Brasília). Ao mesmo tempo, o porta-voz do PSUV, Aristóbulo Istúriz, tentava conter a decepção dos chavistas, informando que o partido obtivera a bancada majoritária e seguia como "principal força política do país". Logo depois, admitiu que a meta de conquistar 110 cadeiras não tinha sido alcançada.

Ontem, em cadeia nacional, Chávez minimizou os resultados. "Os magos do mundo ao revés, dos micropartidos, estão gritando que ganharam. Bom, que sigam ganhando assim. Foram eleições locais, por circunscrições, em 23 Estados, e não uma eleição nacional." O presidente reivindicou ainda a maioria dos votos: 5,42 milhões contra 5,32 milhões da oposição - Chávez incluiu na conta os votos do PPT.

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