Trabalhadores impediram ontem o embarque e desembarque de mercadorias
Carmen Pompeu
FORTALEZA - O Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Fortaleza, parou ontem. Apoiados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), funcionários de sete categorias das empresas que operam no porto fecharam os portões impedindo o embarque e o desembarque de mercadorias. A assessoria de imprensa da Ceará Portos, que administra o Porto do Pecém, não soube informar o prejuízo com a paralisação.
Segundo o sindicalista e funcionário da Ceará Portos Hernesto Luz, a paralisação começou às 6 horas e foi até as 18 horas. Os trabalhadores ameaçam parar por tempo indeterminado caso não avancem as negociações. "Protocolamos uma audiência com o governador Cid Gomes. Se não houver avanço, marcaremos outra manifestação."
Joseoly Moreira, assessor de imprensa da Ceará Portos, disse que foi pedido aos manifestantes que elaborem uma pauta de reivindicação, relatando as más condições de trabalho. "Mas eles (trabalhadores) estão irredutíveis. Dizem que querem resolver esse assunto somente com o governador. Eles não são funcionários da Ceará Portos. São de operadoras, empresas particulares que atuam no porto. Mas temos o interesse de mediar essa questão porque essas manifestações atrapalham o funcionamento do porto como um todo", afirmou Moreira.
Segundo ele, está sendo feito um estudo por uma empresa de consultoria que definirá em quais áreas e cargos a Ceará Portos deverá abrir concurso. "Depois da conclusão desse levantamento, que esperamos para outubro, é que poderemos estabelecer as condições para o edital."
Moreira confirmou que a paralisação foi total. Segundo ele, já houve uma reunião com os sindicalistas e as empresas operadoras. Os manifestantes pedem a humanização do ambiente de trabalho, o fim da precarização e a valorização do empregado, além de 30% do adicional de risco de vida e concurso público para suprir a demanda do Gate (portão de entrada e saída onde é feita a vistoria da carga a ser escoada).
"A "senzala" portuária é ditada pelo coronelismo. Somos vítimas de assédio moral e ninguém faz nada. Trabalhar no porto é um grande risco de vida, mas não temos o adicional de risco. Aqui não existe dignidade. Queremos um trabalho decente", afirmou Antônio Carlos, presidente do Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes Aquaviários e Operadores Portuários do Ceará (Settaport-CE).
Os trabalhadores se queixam da falta de segurança e dizem que nos últimos seis meses quatro pessoas morreram. Reclamam de casos de assédio moral e de jornadas extenuantes. Afirmam que, ao serem escalados para navios, trabalham por 12 horas seguidas e ainda são escalados para outras funções, sem descanso. "Nossa ação até aqui tem sido sempre em busca da negociação. Vamos da um fim à precarização do trabalho. Esse terminal portuário é o porão da ditadura", diz Wil Pereira, da CUT-CE.
Terceirizados. Funcionários da Serval, empresa terceirizada que presta serviços gerais e de limpeza, também aderiram à paralisação. Os serventes se queixam de terem de capinar no sol a pino em pleno horário de almoço. Os caminhoneiros foram impedidos de se aproximar da área portuária. Foi montada uma barreira na rodovia por policiais militares e rodoviários, provocando um engarrafamento de caminhões de cerca de 1 quilômetro.
No primeiro trimestre deste ano, o Porto do Pecém registrou uma movimentação de 45 mil TEUs (contêineres de 20 pés). As exportações assinalaram a movimentação de 23 mil TEUs. Nas importações foram movimentadas 22 mil unidades. Nesse mesmo período, operaram 138 navios, sendo 80 com calado superior a 10 metros e 58 com calado inferior a 10 metros.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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