Independentemente da tentativa do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) de se explicar, a base aliada cobra mudanças no relacionamento político com o governo. Para dirigentes do PMDB, nunca houve diálogo de verdade, só um “monólogo”. Os aliados reclamam que não conseguem nem prevenir o Planalto sobre riscos em votações no Congresso.
PMDB reclama de ‘monólogo’ na articulação política
Para dirigentes, problema de comunicação entre Planalto e Congresso é sério e revolta da base não se restringe a atrasos na distribuição de cargos
BRASÍLIA - Independentemente do sucesso ou não do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, na tentativa de explicar o aumento de seu patrimônio, a base aliada cobra mudanças no modelo de relacionamento político com o governo federal. Segundo um dirigente do PMDB, o governo nunca estabeleceu um diálogo de verdade com os partidos da base. "O que houve até agora foi um monólogo", define o pemedebista.
Obviamente, os aliados cobram pressa do governo nas nomeações para o segundo escalão e atendimento de pleitos, mas reclamam que o problema não é só esse. Não conseguem sequer prevenir o Palácio do Planalto em relação aos possíveis impasses em votações polêmicas dentro do Congresso.
Dirigentes do PMDB lembram que alertaram previamente o governo várias vezes sobre problemas que surgiriam durante a votação do Código Florestal e que o clima do debate estava ficando cada vez mais tenso. Apesar disso, nada foi feito para impedir que a discussão se transformasse num desgastante confronto.
Reclamam ainda que o episódio não serviu de lição para o governo. E citam a derrubada de duas medidas provisórias no plenário do Senado, esta semana, como resultado, novamente, dessa falta de negociação prévia.
"O processo de aprovação de medidas provisórias vai se transformar em outra confusão e nada está sendo feito, apesar dos avisos", alerta esse dirigente.
A própria sequência da votação do Código Florestal no Senado já mostra, na visão dos pemedebistas, a insistência do Planalto em tentar impor sua vontade sem debater com a base.
Para retomar a posição do governo, cancelando a emenda do PMDB que anistia produtores rurais que desmataram, foi indicado o senador Jorge Viana (PT-AC) como relator do texto no Senado. Além de ser próximo da presidente Dilma Rousseff, Viana é ligado aos principais políticos ambientalistas, como a ex-senadora Marina Silva (PV).
Surpreendido, o PMDB reagiu imediatamente indicando o senador Luiz Henrique da Silveira (SC), ligado aos produtores rurais, para relatar o texto nas comissões técnicas do Senado. Com isso, poderá se repetir o choque de posições entre governo e PMDB.
Apesar da insatisfação com a coordenação política, o PMDB descarta ter interesse em assumir a coordenação política do governo, hoje chefiada pelo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, do PT. Na verdade, até quer a posição, mas não nas atuais circunstâncias.
O partido não deixou de ambicionar cargos. Simplesmente seus líderes acham que não adianta assumir o posto enquanto todas as negociações com o Congresso forem centralizadas pelo ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, ou por algum eventual substituto.
Além disso, sabem que se assumirem o ministério agora, com o clima pesado de animosidade, serão torpedeados pela bancada do PT, que não aceita perder o espaço para o partido aliado.
Por conta disso, o PMDB só se interessa em ocupar a pasta numa reforma ministerial ampla promovida por Dilma, que pode ser deflagrada caso Palocci seja afastado. Nesse caso, outros ministérios poderiam ser redistribuídos entre a base e o PMDB poderia herdar a coordenação. Mas, até agora, o governo não deu sinais de que promoverá uma mudança tão ampla.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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