Dólar fecha mês em alta de 18%, a maior desde 2002, e Bolsa despenca 7,38%. Fundo cambial sai na frente
Bruno Villas Bôas e Vinicius Neder
No mês em que os mercados passaram por um verdadeiro solavanco, o dólar comercial fechou setembro com uma alta de 18,14%, cotado a R$1,882, o maior avanço mensal da moeda desde setembro de 2002 - quando, em meio à agitação do mercado por causa dos temores em relação à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, a divisa teve valorização de 24,92%. A reboque, os fundos cambiais renderam no mês 12,88% até o dia 27, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Já os investidores que tinham aplicações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tiveram fortes perdas pelo sexto mês consecutivo. O Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro, fechou setembro com uma baixa de 7,38%, o pior desempenho mensal desde outubro de 2008 (quando a queda foi de 24,80%), o auge da crise das hipotecas de alto risco.
Segundo especialistas, as perdas na Bovespa e os ganhos com aplicações em dólar são o retrato de um mercado em turbulência. O mês foi marcado por profundas revisões nas expectativas de crescimento da economia global e a aproximação de uma crise mais profunda na zona do euro. Líderes da Europa avançaram apenas lentamente na aprovação de medidas para evitar um calote nos títulos soberanos da Grécia, sem encontrar uma solução que convença os investidores.
- O futuro dos bancos europeus que compraram esses títulos da Grécia foi colocado em dúvida e suas notas acabaram rebaixadas por agências de classificação de risco. Houve o corte da avaliação da Itália e mais dados ruins sobre a economia nos Estados Unidos. Enfim, um mês para ficar para trás - avalia Pedro Galdi, estrategista-chefe da SLW Corretora.
FGTS-Petrobras foi pior investimento
Em meio ao estresse dos mercados globais, investidores venderam ações em países emergentes - inclusive o Brasil - e compraram títulos do Tesouro americano, conhecidos como Treasuries, ainda considerados os mais seguros do mundo. Isso provocou uma alta do dólar frente a todas as principais moedas pelo mundo. Mas o real foi a que mais se desvalorizou entre elas em setembro.
Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, o avanço maior do dólar no país teve origem nas medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda no mercado futuro de câmbio, em 27 de julho, para contar a então desvalorização desenfreada da moeda americana frente ao real.
- Empresas brasileiras e fundos estrangeiros apostavam contra o dólar. Quando a moeda subiu, correram todos pelas mesma porta: o mercado futuro de câmbio. Não encontraram quem assumisse suas apostas porque as medidas do governo limitaram muito a liquidez do mercado. Isso provocou uma alta ainda maior do câmbio - diz Fabio Colombo, administrador de investimento. - É um movimento que não sabemos se terminou.
Segundo os dados mais recentes da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), os investidores estrangeiros ainda tinham apostas US$3,268 bilhões na desvalorização do dólar na quinta-feira passada, o dado mais recente. O valor considera tanto contratos futuros de dólar como cupom cambial (que rende a variação do dólar mais uma taxa de juros). No fim de julho, essa posição era de US$20,650 bilhões.
Para o diretor de câmbio da Renova Corretora, Carlos Alberto Abdalla, o movimento de alta do dólar pode não ser pontual, restrito a setembro:
- O mundo está em crise. Com o tempo passando, está cada vez mais difícil sair um acordo para melhorar o cenário da economia mundial.
Enquanto investidores de fundos cambiais ganharam fortemente com a crise nos mercados, os trabalhadores que destinaram parte do FGTS para ações da Petrobras tiveram a maior perda do mês, de 6,53%. No ano, o prejuízo do FGTS chega agora a 26,66%. Quem aplicou recursos do fundo para ações da Vale também teve perdas no mês (1,39%) e no ano (17,75%).
- As ações da Petrobras seguem muito afetadas pela interferência do governo, que impede a companhia de repassar o aumento do preço do petróleo para os postos de combustíveis - explica Osmar Camilo, analista da Socopa Corretora.
Já os fundos de ações que acompanham o Ibovespa registraram perdas de 4,37% até o dia 27. Esses prejuízos devem ser maiores quando computados dados de 28 a 30 de setembro. No ano, as perdas agora são de 22,19%. O Ibovespa tem o pior desempenho acumulado em 2011 entre os principais índices de ações do mercado mundial.
Inflação corrói ganho da renda fixa
Para o diretor de varejo da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira, as soluções para o problemas das dívidas na Europa estão encaminhadas e dificilmente vai piorar. Segundo ele, as autoridades europeias "não vão jogar pela janela os avanços já conseguidos". Por isso, ele prevê um cenário mais positivo para as bolsas neste último trimestre do ano. Isso não quer dizer que os problemas da economia global estejam resolvidos.
- As dívidas são problemas de curto prazo. No longo prazo, o desafio será recuperar o crescimento. Não haverá mar de almirante em 2012 - avalia Bandeira.
O movimentado mês de setembro foi marcado ainda pelo surpreendente corte de 0,5 ponto percentual dos juros básicos (Selic) - para 12% ao ano - pelo Banco Central (BC) em 31 de agosto. Os fundos de renda fixa (prefixados) renderam 0,85% no mês. Esses fundos rendem melhor em momentos de corte da Selic em comparação aos fundos DI (pós-fixados, que acompanham a taxa), que tiveram uma rentabilidade de 0,82% em setembro. Os ganhos foram, no entanto, praticamente todos corroído pela inflação, que acelerou para 0,65% pelo IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) em setembro.
Já os fundos multimercado multiestratégia (que podem investir em bolsa, moedas e juros) apresentaram, finalmente, uma rentabilidade um pouco melhor. Esses fundos renderam na média 0,78% no mês. Segundo especialistas, o dado é positivo, considerando as fortes perdas da Bolsa. Eles alertam, no entanto, que, na média, os fundos ainda rendem apenas 6% no ano. Descontado o Imposto de Renda (IR), os multimercados seguem como uma má aplicação quando comparados ao ganho da poupança, que rendeu 5,62% em 2011.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário