quinta-feira, 7 de junho de 2012

Preço dos carros faz inflação cair à metade

IPCA fica em 0,36% em maio, abaixo das estimativas do mercado. Em 12 meses, taxa se aproxima da meta anual

Marcio Beck, Henrique Gomes Batista e Vivian Oswald

RIO E BRASÍLIA. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,36% em maio, informou o IBGE A taxa surpreendeu o mercado, que esperava 0,46%. Além de confirmar uma redução generalizada na remarcação dos preços, o resultado dá fôlego para que o governo continue adotando medidas de incentivo à economia. A inflação acumulada em 12 meses ficou em 4,99%, menor valor desde setembro de 2010, aproximando-se do centro da meta do governo, de 4,5% para o ano. Esta é a primeira vez em 20 meses que o índice fica abaixo de 5% no acumulado em um ano. Em abril, o IPCA ficara em 0,64%.

- Todos os grupos de preços apresentaram variação menor que a registrada em abril, com exceção de alimentação e bebidas - influenciada por secas - e artigos de residência, afetados pela alta do dólar. Mas a inflação deste ano confirma a dinâmica histórica do IPCA, que apresenta números menores no meio do ano - afirmou Irene Machado, técnica do IBGE responsável pelo cálculo do IPCA.

Uma das surpresas da inflação foi o setor de transportes, que passou de alta de 0,10% em abril para deflação de 0,58%. Parte deste resultado já é decorrente da redução do IPI para automóveis novos, que puxou para baixo o preço dos carros usados.

- A redução dos preços dos automóveis já foi sentida em maio. O mês também parece que não foi influenciado pelas altas nos preços do cigarro, que teve imposto elevado em abril, e do reajuste dos medicamentos, que também pouco impactou o índice. Acreditamos que a desaceleração da inflação continue, com IPCA de 0,21% em junho e fechando o ano em 4,80% - disse Fábio Romão, da LCA.

O preço das passagens aéreas caiu fortemente por causa da baixa temporada. Thiago Curado, da Tendências Consultoria, destacou que combustíveis também ajudaram no recuo da inflação:

- A demanda por etanol está mais fraca e houve a entrada antecipada da nova safra de cana, o que reduziu os preços.

A inflação de maio, que chegou a ser quase metade do registrado em abril, só não foi menor por causa dos alimentos. O IBGE destacou que um dos vilões do grupo foi o feijão carioca, com alta de 10,02% no mês e que acumula aumento de 58,36% no ano, por causa da seca que afetou produções no Nordeste e no Paraná.

Mantega: número permite mais expansão do crédito

Irene Machado, do IBGE, lembrou ainda que os efeitos do dólar - agora no patamar de R$ 2 - já podem ser sentido na alta dos eletrodomésticos, que passaram de uma deflação de 0,90% em abril para alta de 0,45%. Mas analistas afirmam que a pressão não deve aumentar.

Marco Caruso, do Banco Pine, disse que, para provocar impacto na inflação, o câmbio tem que se estabilizar no patamar mais elevado por cerca de seis meses. Uma alta de 10% na cotação, resultaria em aumento de 0,36 ponto percentual na inflação anual.

- O repasse do câmbio para os preços não é tão gigantesco quanto se pensa e demora pelo menos um trimestre para começar a ser percebido - explicou Reginaldo Nogueira, do Ibmec.

Depois da alta de 1,86% em abril, o item empregado doméstico subiu 0,66% no mês passado - reflexo de uma acomodação nos salários da categoria.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o IPCA abre caminho para novas reduções dos juros e expansão do crédito.

- Isso nos dá grau de liberdade para ter uma política monetária mais flexível, ou seja, redução de juros e aumento do crédito. Aliás, isso já está ocorrendo.

Mas alguns economistas acreditam que não há margem tão grande para a redução da Selic além dos atuais 8,5% ao ano, piso histórico. Curado, da Tendências, apontou que se o BC baixar a Selic a 7,5%, a inflação no ano que vem seria 6%. Ele alertou que a queda dos preços externos no primeiro semestre não deve se repetir, o que forçaria o BC a reverter as reduções

FONTE: O GLOBO

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