Partido compara ex-presidente a Vargas e se diz vítima de desmoralização
Em convocação para congresso, sigla fala que é preciso construir narrativa própria sobre seus anos no poder
Diógenes Campanha Daniela Lima
SÃO PAULO - Num documento em que prega a necessidade de produzir uma narrativa histórica própria sobre os dez anos em que comanda o governo federal, o PT se diz vítima de uma campanha de desmoralização e compara o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Vargas e João Goulart.
Chamado de "carta convocatória" para seu quinto congresso nacional - que é o fórum máximo para decisões sobre o rumo do partido-, o texto é assinado pela direção do PT e aponta temas que deverão ser debatidos.
Na carta, o PT afirma que Vargas e Goulart foram vítimas de uma "insidiosa campanha de forças políticas" que visavam desestabilizar seus governos, mesmo processo que estaria sendo orquestrado, desde 2003, para desconstruir a era Lula.
O presidente Vargas se suicidou em 1954. Em sua carta-testamento, tratou o gesto como uma resposta a "forças e interesses contra o povo". Jango foi deposto em 1964, o que deu início à ditadura militar no país.
"A partir de 2003, de forma intermitente, tratou-se de anular os notórios êxitos do governo, com campanhas que procuravam ou desconstruir as realizações do governo Lula ou tachá-lo de 'incapaz' e 'corrupto'", diz o documento petista.
"Sabe-se que denúncias de corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no Brasil para desestabilizar governos populares, como os já citados casos de Vargas e Goulart", conclui.
O texto não cita o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, que condenou ex-dirigentes e homens fortes do PT pela compra de apoio político no Congresso Nacional.
No entanto, deixa implícita uma menção ao caso ao afirmar que "grandes episódios de corrupção" dos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Fernando Collor (1990-1992) "nunca mereceram investigação que levasse seus responsáveis à punição pela Justiça".
O congresso do PT está marcado para para fevereiro do ano que vem, mas antes a sigla realiza eleições internas. Em 2014, acontece a eleição presidencial que definirá a sucessão de Dilma Rousseff.
Versão petista
O texto de convocação ataca a mídia e "grupos incrustados em setores do aparelho de Estado" como substitutos dos partidos da oposição em uma suposta tentativa de desqualificar o PT.
Diz ainda que o partido precisa "construir" uma "narrativa" própria sobre os últimos dez anos.
"O PT não foi capaz, até agora, de construir plenamente uma narrativa sobre o período histórico que se iniciou em 2003. [...] A ausência de um balanço aprofundado de nossa experiência de governo e de nossa presença na sociedade dificulta a construção e a continuidade do nosso projeto político", justifica a sigla no documento.
A carta petista contém algumas autocríticas. Afirma que o partido deixou de lado o debate interno e que perdeu a capacidade de mobilização sobre setores que tradicionalmente o apoiam.
"O debate interno está rarefeito. Sofremos um processo de burocratização e assistimos a um debilitamento de nossas instâncias coletivas de direção", afirma.
O texto diz ainda que é preciso atualizar a agenda estratégica petista e empreender um esforço para decifrar os anseios de "novas classes" sob pena de o partido não ser reconhecido por eles como seu principal benfeitor.
Além disso, a convocação fala que é preciso formular uma proposta para acelerar o crescimento econômico e prega o desenvolvimento de uma estratégia para promover a "internacionalização do PT" como representante de um novo ideário socialista.
Fonte: Folha de S. Paulo
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