• O Brasil que Dilma Rousseff inventou não tem inflação, não tem corrupção e está crescendo sem problemas
- Folha de S. Paulo / Ilustrada
Como todo mundo previa, qualquer um dos dois candidatos à Presidência da República que ganhasse, ganharia por pequena vantagem. E assim foi: Dilma, 51,6%, Aécio, 48,4%. Noutras palavras, o país dividiu-se ao meio.
Esse fato resulta, inevitavelmente, em problemas para o futuro governo, que terá contra si uma oposição respaldada por uma vasta parte da opinião pública. Dilma sabe disso, claro, e por essa razão mesma, ao falar ao país após o resultado das urnas, pregou a união, ou seja, o apoio ao seu governo daqueles que não a querem governando.
Veja bem, não pregou o diálogo com a oposição, sequer mencionou, em seu discurso, o candidato derrotado; na verdade, pregou a adesão ao seu governo dos que votaram contra sua eleição.
Ela sabe que o país está dividido, não apenas eleitoralmente; está dividido, sobretudo, por ela, Dilma, que, em seus comícios no Nordeste, provocou essa divisão. Todos ouviram e viram, na televisão, ela afirmar que Aécio considerava o Nordeste uma região de ignorantes, que só por isso votavam no PT.
Era mais uma das mentiras que alimentaram a campanha de Dilma e que é, aliás, o procedimento normal das campanhas eleitorais do PT. Já falei aqui desse uso da mentira, pelos petistas, como método nas disputas eleitorais.
Todo mundo assistiu ao uso desse recurso contra Marina --quando era ela quem ameaçava ir para o segundo turno-- e, depois, contra Aécio, ao se tornar o adversário final de Dilma.
Atribuir a um candidato tal ofensa a toda uma região do país é ao mesmo tempo subestimar a inteligência do eleitor dessa região e do candidato, já que tal afirmação equivaleria a um suicídio político. Mas os petistas sabem que muita gente embarca nessas calúnias e se toma de ódio contra o candidato caluniado.
Não por acaso, Dilma conseguiu, no segundo turno, no Nordeste, mais de 70% dos votos. Mentira semelhante os petistas usaram, no Rio de Janeiro, onde distribuíram impressos, com o retrato de Aécio, afirmando que ele era contra o Rio. Mas são águas passadas.
Não pretendo com isso negar a legitimidade da vitória de Dilma Rousseff. Lamento que tenha se valido de tais recursos mas, de qualquer modo, se tantos acreditaram nessas mentiras e votaram em função delas, por alguma razão foi.
De qualquer modo, o resultado das urnas tem que ser respeitado e Dilma governará o país por mais quatro anos. Quatro anos difíceis, uma vez que o Brasil real é muito diferente daquele que ela inventou em seus discursos e nos debates na televisão.
O Brasil que ela inventou não tem inflação, não tem corrupção e está crescendo sem problemas. Esse discurso contraria o que os próprios dados oficiais têm demonstrado. A mesma afirmação tem sido feita por instituições internacionais que avaliam o desempenho dos diferentes países.
Mas nada disso a impediu de afirmar o contrário durante a campanha. Sucede que a campanha acabou e ela vai ter que governar o Brasil real, que não cresce e cuja inflação sobe a cada dia.
Vai ter que aumentar os preços dos combustíveis e da energia elétrica, que por sua vez farão subir os preços de tudo o mais que consumimos.
Não resta dúvida que a festa acabou e, como não há almoço de graça, o país vai pagar o preço das bondades que permitem ao lulismo se manter no poder.
Mas essas não são as únicas heranças que Dilma recebe de si mesma: há ainda as denúncias da Lava Jato. Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, em suas respectivas delações premiadas, revelaram o esquema de corrupção que foi montado na Petrobras com a participação do PT, do PMDB e do PP.
O representante do PT nessa falcatrua, era nada menos que o seu tesoureiro, João Vaccari. O PT embolsava 3% da propina, que montava a centenas de milhões de reais, sendo que esse dinheiro financiou a campanha do partido em 2010, quando Dilma se elegeu pela primeira vez.
A última revelação de Youssef afirma que Lula e Dilma estavam a par de tudo. Como se trata de delação premiada, tais denúncias só podem ser oficialmente divulgadas após a comprovação de sua veracidade, o que se dará dentro de uns poucos meses, ao começar o novo governo de Dilma. Essa é a verdadeira herança maldita.
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