Muitas das dezenas de milhares de mortes que vão ocorrer nos primeiros meses do ano que vem devem ser atribuídas às estúpidas diretrizes políticas de Bolsonaro
Morrerão 44.545 brasileiros
de Covid nos meses de janeiro e fevereiro do ano que vem, mantida a média atual
de 775 óbitos registrados em 24 horas. Muitas destas pessoas poderiam ser
salvas se o governo de Jair Bolsonaro não fosse negacionista e, por
consequência, deliberadamente ineficiente. O Ministério da Saúde anunciou que
vai iniciar a vacinação no Brasil apenas em março, acrescentando que somente um
terço dos brasileiros serão imunizados em 2021. Além disso, descartou três das
quatro vacinas que foram testadas no Brasil.
Difícil
dizer quantas
exatamente, mas muitas das dezenas de milhares de mortes que vão ocorrer nos
primeiros meses do ano que vem devem ser atribuídas às estúpidas diretrizes
políticas de Bolsonaro, obedecidas cegamente pelo imprevidente ministro Eduardo
Pazuello. Se a vacinação começar na verdade somente no final de março ou no
início de abril, como informam fontes do Ministério da Saúde, o número de
mortos até que se comece o processo de imunização vai passar dos 65 mil. O
lamentável é que o mais provável seja mesmo o pior cenário, dada a estupenda
inoperância governamental.
A
Inglaterra começa
a vacinação muito provavelmente antes do Natal. Outros países europeus iniciam
o processo massivo de imunização na primeira semana de janeiro. Na Argentina,
do “inimigo” Alberto Fernández, a vacinação começa na primeira quinzena de
janeiro. Também México, Chile, Peru e Costa Rica, para ficar apenas aqui na
nossa região, começam a vacinar suas populações entre o fim de dezembro e o
início de janeiro de 2021. Todos estes países compraram a vacina do laboratório
Pfizer, que o governo brasileiro se recusa a considerar alegando que a
estocagem a temperaturas muito baixas é complicada. No Equador deve ser mais
complicado que aqui, mas lá também as vacinas da Pfizer começarão a ser
administradas em janeiro.
Além do negacionismo declarado de Jair Bolsonaro, seus subalternos dobram-se à sua orientação ou são demitidos, como foram Luiz Mandetta e Nelson Teich. Por isso, o ministro Pazuello, um general que temporariamente tirou a farda mas jamais conseguirá vestir um avental, fala e faz apenas o que seu chefe mandar. “Obedece quem tem juízo”, disse o desajuizado general que, indo pela cabeça do presidente, trabalha contra os interesses do seu ministério, contra a saúde pública, o que é crime. Na Anvisa, o presidente é outro militar, o almirante Antônio Barra Torres, que também bate continência para qualquer barbaridade que o capitão lhe disser.
Não foi por outra
razão que a Anvisa tentou atrasar os testes da CoronaVac em São Paulo, em
novembro. Jamais se justificaria a paralisação dos trabalhos em razão do
suicídio cometido por uma das pessoas que estavam sendo testadas pelo Instituto
Butantan. Mas foi o que a Anvisa fez. No final, foi um vexame protagonizado por
um militar e dois subalternos curvados como ele. Na ocasião, o governador de
São Paulo identificou corretamente o movimento como uma ação política do
Planalto. Mas João Doria tinha desde então o antídoto para o caso de a má
vontade da Anvisa perseverar e mais adiante ela se recusar a certificar a
vacina, que já está em sua última fase de testes.
Desde
meados de
novembro, o governador já informava que se três agências estrangeiras do porte
da Anvisa liberarem a vacina, ela pode ser usada em qualquer outro país por
acordo global aprovado pela OMS. Medicamentos testados pela FDA americana, por
exemplo, são importados pelo Brasil com prévia anuência da Anvisa, mesmo sem
testagens ou estudos adicionais. Por isso, São Paulo vai ignorar a orientação
do governo e iniciar a vacinação com a CoronaVac no estado ainda em janeiro,
desafiou Doria na quinta-feira.
O
problema é
que Bolsonaro é um estorvo. Ele fará o que for preciso para sabotar a vacina de
São Paulo, que terá 40 milhões de doses prontas para serem administradas até o
dia 15 de janeiro. Evitar que São Paulo saia na frente é tudo o que o
presidente negacionista mais deseja. Não estranhem se ele mandar a Polícia
Federal ocupar o Instituto Butantan para impedir a produção ou a distribuição
das vacinas. Seria um absurdo, claro. Bolsonaro não deve ser tão alucinado
assim. O resultado seria catastrófico, e o crime imperdoável já cometido se
agravaria e se tornaria doloso.
Seringas
Fabricantes
dizem que vão precisar de sete meses para entregar as 200 milhões de seringas
necessárias para imunizar os brasileiros. Fala sério. Aumentem a linha de
produção em quatro turnos, façam novas fábricas, adaptem outras. Estamos em guerra. Logo
depois do ataque japonês a Pearl Harbor, o presidente Franklin Roosevelt mandou
que a indústria americana produzisse, em dois anos, 185 mil aviões, 120 mil
tanques, 55 milhões de canhões antiaéreos e 18 milhões de toneladas de navios.
Tudo foi produzido no prazo dado. Agora, claro, no caso das seringas é preciso
haver a ordem, que até agora não foi dada pelo inoperante governo brasileiro.
Revalidando
remédios
Um
trabalho publicado em 2003 pela Escola de Medicina de Harvard informa que 90%
dos remédios continuam sendo eficientes mesmo 15 anos depois de expiradas suas
datas de validade. A questão virou assunto no Brasil quando descobriu-se que
seis milhões de doses do teste para coronavírus, que foram abandonadas pelo ineficiente Ministério
da Saúde em um galpão de São Paulo, têm data de validade
até janeiro do ano que vem. Segundo a FDA, a seríssima similar da Anvisa nos
EUA, excluídos o trinitrato de glicerina, a insulina e os antibióticos
líquidos, a maioria dos medicamentos duram muito, mas muito mais do que
estabelecido pelos laboratórios fabricantes.
Simplíssimo
O
inacreditável presidente do Brasil produziu outra de suas costumeiras asneiras
esta semana. Numa entrevista na terça explicou por que ainda não cumprimentou o
presidente eleito dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden. “Teve muita fraude
lá”, explicou o simplíssimo do alto
da sabedoria que subtraiu do extraordinário ministro
Ernesto Araújo.
Campeão
de rachadinhas
O
candidato de Bolsonaro para presidir a Câmara, deputado Arthur Lira, é um velho
conhecido da Justiça. O indigitado é réu em processos por desvios de recursos
públicos e enriquecimento ilícito, foi denunciado por lavagem de dinheiro na
Lava-Jato e responde a ação no Supremo por violência doméstica. Não bastasse
isso, o “Estadão” publicou na quinta-feira matéria do repórter Breno Pires
relatando desvios
de mais de R$ 1 milhão dos contracheques de funcionários
do gabinete de Lira em Alagoas. Trata-se de um campeão de falcatruas no estado,
o que não é pouca coisa em se tratando da terra de Fernando Collor e Renan
Calheiros. Mas o deputado pode ficar tranquilo, Bolsonaro já mandou avisar que
sua família considera que denúncias de rachadinha são sacanagem da imprensa.
Sua excelência anunciou ainda que vai criar ministérios para trocar por votos
em favor de Lira.
FLA
incompetente
Era
mito, era miragem, a famosa competência da diretoria do Flamengo. Em 2019, ao
ganhar quase tudo, criou-se uma aura de infalibilidade em torno dos cartolas
rubro-negros. Mas, bastou Jesus, Rafinha e Mari saírem para a verdade vir à
tona. As contratações dos substitutos e reforços foram todas erradas. Na área
administrativa, o novo departamento médico do clube fracassou. Além disso,
os dirigentes do Flamengo
flertaram com Bolsonaro e fizeram pouco caso do
coronavírus. Foi um horror. Mas antes da casa cair, um deles acabou eleito
vereador. Se depender do torcedor, terá um mandato só.
26
dias
Este
é o prazo que falta para a gente não precisar mais falar ou pensar no bispo
Marcelo Crivella. O carioca deve se sentir aliviado, como se acordasse de um
pesadelo. Ou como se estivesse se levantando da cadeira do dentista depois de
um demorado tratamento de canal. Isso não quer dizer que o Rio agora vai
automaticamente voltar a dar certo. O voto de confiança que o carioca deu a
Eduardo Paes foi carregado de cobranças. O prefeito eleito terá de comprovar
sua capacidade de gerir situações emergenciais. O jovem secretariado indicado
tem tudo para funcionar bem, mas não custa lembrar que 2021 não vem com a dinheirama pré-olímpica. De
todo modo, só não precisar mais ouvir aquela vozinha de pastor de Crivella já é
um ganho.
Banalidade
São
cada vez mais corriqueiros os ataques armados em pequenas cidades brasileiras,
como os de Criciúma e Cametá. Nenhuma dúvida, a violência no interior não
tem mais medida, embora não surpreenda tanto os moradores das grandes cidades.
No Rio, aqueles ataques foram comparados aos que sofremos cotidianamente por
aqui. Foi Antonio Tabet quem notou primeiro: “A madrugada em Criciúma foi o que
os cariocas chamam carinhosamente de quarta-feira à tarde na Tijuca”.
Herança
Na cidade maravilhosa, aliás, o tráfico segue os passos da milícia e do bicho e também começa a se transformar em capitanias hereditárias. Julia Fernandes, a filha do traficante Elias Maluco, foi presa quarta-feira pela Polícia Civil no estouro de uma boca de fumo. Outro filho do traficante, Diego Pereira da Silva, o Maluquinho, comandava o tráfico na favela do Dique, em Vigário Geral, até ser preso em fevereiro deste ano. Parece que outros filhotes do assassino de Tim Lopes já assumiram o lugar dos irmãos presos.
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