Valor Econômico
Com a decisão sobre o orçamento secreto, o
STF entrega a Lula uma considerável melhora da governabilidade, que seria
difícil construir com um governo de minoria no Legislativo
O presidente Jair Bolsonaro passou a
segunda metade de seu governo tutelado pelo Congresso, por meio do orçamento
secreto, e emparedado pelo Judiciário, pelos inquéritos contra atividades
antidemocráticas e diversas iniciativas do Supremo Tribunal Federal (STF) que
contiveram sua ação. Ainda antes de assumir o governo, o presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva já está de muitas formas devedor do Judiciário.
A dívida começou a ser formada em 2019, quando o STF reviu o entendimento sobre o cumprimento de pena após trânsito em julgado na segunda instância. O fim dessa possibilidade permitiu que o petista saísse da cadeia. Em março de 2021, com outra canetada, o ministro Luiz Edson Fachin devolveu a Lula a elegibilidade. Poucos meses depois, o STF considerou suspeito o ex-juiz Sérgio Moro, o que anulou as condenações e os processos contra Lula.
Agora,
com a decisão sobre o orçamento secreto, o STF entrega a Lula uma considerável
melhora da governabilidade, que seria difícil construir com um governo de
minoria no Legislativo.
Resta saber se Lula será emparedado no
Congresso, depois do expressivo resultado obtido pela direita e pelo bolsonarismo
(dois fenômenos não necessariamente idênticos) nas eleições de outubro. Os
sinais nas últimas semanas foram que isso não existirá. Mas Eduardo Cunha
inviabilizou o governo Dilma sem que tivesse em mãos o orçamento secreto.
Presidentes das casas legislativas em oposição ao Palácio do Planalto dispõem
de ferramentas potencialmente letais contra o governo.
A eleição das mesas diretoras dará resposta
a essa questão. É preciso aguardar para ver agora como Arthur Lira e Rodrigo
Pacheco irão conduzir suas respectivas campanhas por recondução depois desse
fato novo. Podem buscar uma composição com Lula ou partirem para a guerra. Em
2015, Cunha se sentiu forte o suficiente para a segunda alternativa, mas quem
presidia o país era Dilma Rousseff e não Lula. História contrafactual não
existe e sempre ficará a dúvida sobre se o impeachment de 2016 teria acontecido
caso houvesse naquela ocasião um terceiro mandato de Lula. Cunha e Lira são
mais parecidos entre si do que o presidente eleito com a sua sucessora na década
passada.
3 comentários:
Tenho dúvida se a guerra partiu de Cunha para Dilma ou se foi de Dilma para Cunha... Mas o colunista tem razão em destacar o potencial perigo que as direções do Congresso representam para o presidente da República!
"Presidentes das casas legislativas em oposição ao Palácio do Planalto dispõem de ferramentas potencialmente letais contra o governo." Melhor tê-los entre os amigos que entre os inimigos!
Verdade,o anônimo está certo.
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